Por uma questão de coerência de mim para comigo mesmo e com a verdade, sinto chegado o momento de “me assumir”…
Assim é, acuso-me de ser casado há algumas décadas, com uma mulher, por sinal a mesma. É um facto que quando me casei tinha uma relação afectiva com dois seres humanos, um do sexo feminino e outro masculino, a saber a minha querida Mãe e o meu querido Pai, que Deus tenha em Seu eterno descanso.
Como consequência deste meu casamento, passei a relacionar-me com mais outros dois seres de ambos os sexos, o que vulgarmente a sociedade apelida de sogros, tudo em mistura de afectos, pois, os pais do meu cônjuge, meus pais eram.
Foi fluindo o tempo, mas logo novos amores rebentaram e se introduziram na minha relação afectivo-conjugal, foram elas e eles, em tons de rosa e azul-bebé, uma loucura, um vibrar de emoções e alegrias, só acinzentado quando alguns dos amores mais velhos se lembravam que tinham chegado ao fim da viagem da vida e partiam…
Anos mais tarde e em consequência de outros casamentos, foram-se alargando os laços familiares com novos elementos, género noras e genros, e consequente reprodução, mais uma leva de tons azul e rosa, cores que eu verdadeiramente abomino, mas que me deslumbram quando pego neles ao colo e os oiço chamarem-me de avô…
Família alargada, sim, três gerações em união, mais os parentes - não escrevi parentalidade, esta palavra não me quadra muito bem… - por isso eu me assumo como uma pessoa normal e tradicional, como filho, genro, pai, sogro e avô. Tudo em plenitude, nada light, mas como mandam as normas do bom senso, da razão, da tradição e da condição.
Também assumo que nunca atingi o meu êxtase político, em vão esperei um inteiro, total e perfeito, mas só me apareceram partidos, muitos partidos, partidos e fragilizados, canas rachadas ou em vias de se estilhaçarem ainda mais…Não obrigado!
Finalmente assumo-me como Cristão praticante, católico, apostólico e romano, professo um só Baptismo para a remissão dos pecados, espero a Ressurreição dos mortos e a Vida do Mundo que há-de vir.
Ámen
Nota: posto este meu desabafo sei que ninguém me vem molestar, não sou sequer digno de que alguns «media» me desanquem, mas sei que represento a grande maioria da população portuguesa, só que de tão normais que nos sentimos temo-nos esquecido de nos assumir…
Manuel M. de Vasconcelos
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