Sim, às vezes penso que corremos demais, sem tempo para o que é mais importante. Ontem fui assistir a uma missa que muito me fez pensar. A primeira leitura do livro de Ben-Sirá, impressionou-me pela sua beleza incontestável fazendo-me recordar que recentemente tinha escrito um texto denominado “Feliz Dia do Pai”. Talvez tivesse chegado o momento de escrever outro, desta vez, dando ênfase ao papel da mulher na família e no mundo, contribuindo através da sua peculiaridade feminina para a humanização da sociedade e do seu bem-estar. Mas voltemos ao texto da leitura: “…Eu sou a mãe do amor formoso, do temor, da ciência e da santa esperança. Em mim está toda a graça do caminho e da verdade, em mim está toda a esperança da vida e da virtude. Vinde a mim todos vós que me desejais e saciai-vos com os meus frutos, porque pensar em mim é mais doce que o mel e a minha herança é mais doce que os favos de mel…”. Há uns anos atrás, na cidade de Pamplona, no Campus universitário, deparei-me com uma pequena ermida com uma imagem de Nossa Senhora que tinha precisamente inscrito o nome: “Mãe do Amor Formoso”. Era um local de passagem e muitas pessoas paravam, a caminho das aulas ou do trabalho, não deixando de fazer uma pausa para a saudar, dirigir-lhe umas palavras, uma oração, um pedido, rezar o terço… Enquanto permaneci em Pamplona, adquiri o hábito de todos os dias lhe fazer uma visita que muito me reconfortava, já que me encontrava nesta cidade, para acompanhar um familiar muito doente.
Pela minha mente surgiu também uma deslocação a Roma para participar no III Encontro Mundial do Papa com as Famílias subordinado ao tema “Os filhos, primavera da família e da sociedade”, que nos introduz no mistério da família cristã, chamada pelo Conselho Vaticano II de “igreja doméstica” e pelo S. João Paulo II de “santuário da vida”. A Família de Nazaré, “irradia uma luz de esperança também sobre a realidade de hoje”. Em Nazaré nasceu “a primavera da vida humana do Filho de Deus, no momento em que Ele foi concebido por obra do Espírito Santo no seio da Virgem Maria. E entre as paredes hospitaleiras da Casa de Nazaré” desenvolveu-se toda a infância de Jesus… Este mistério ensina portanto “todas as famílias a gerar e a educar os próprios filhos, cooperando de forma admirável na obra do Criador e oferecendo ao mundo, em cada criança, um novo sorriso”. Foram dias de muitos encontros, formação em prol da nobre e urgente causa da Família, e que me ajudaram a sentir, cada vez mais, a extrema importância de prevenir as situações de risco, de reforçar o núcleo familiar, a consolidar a formação de pais e educadores, a procurar novos caminhos, a atualizar conhecimentos para evitar as ruturas nas relações interpessoais ou na sociedade, causando o desemprego, a pobreza, etc.
A família é a base da vivência de todos nós, sendo um dos bens mais preciosos da humanidade. É a primeira unidade social, onde se estabelecem os primeiros contactos biológicos e afetivos e dela dependemos não só até à idade da emancipação mas pela vida fora em diferentes situações e momentos. “O lar familiar permanece aquela escola de vida onde as tensões entre autonomia e comunhão, unidade e diferença, são vencidas a um nível privilegiado e original. Na Família existe uma fonte de humanidade de onde emanam as melhores energias criadoras do tecido social, que importa cada Estado zelosamente preservar”.
Há algum tempo atrás, encontrava-me no aeroporto J. Kennedy, em Nova Iorque. Tinha participado numa Sessão sobre o Envelhecimento na sede das Nações Unidas. O tempo estava péssimo, com um nevão enorme, pelo que houve atrasos. Escrevo isto, porque me chamou muito a atenção, as centenas e centenas de pessoas que vinham de todas as partes do mundo, que se entrecruzavam, alguns com as suas crianças, alguns haveres, as suas diferenças culturais, que me fizeram recordar os problemas da migração, dos refugiados, da enorme vastidão de problemáticas que hoje em dia afetam o mundo, e ainda a relação de todos eles com os Direitos da Pessoa e da Família e a promoção do seu bem-estar, com uma atenção particular para com as crianças, primavera da vida e da sociedade.
Uma das ações mais importantes que as mulheres têm dinamizado é o de chamar a atenção para a necessidade de melhores políticas para a família. Há estudos que revelam que a envolvência das mulheres na estruturação dos programas políticos tornaram possível contemplar com mais cuidado os problemas sociais e familiares do dia-a-dia. Tais aspetos prendem-se com o facto de tradicionalmente a mulher constituir o centro do núcleo familiar. A participação da mulher em todos os âmbitos da sociedade e do trabalho, constitui uma questão de justiça, sendo um enorme avanço no progresso da humanidade, se bem que coloque outros problemas que ainda carecem de respostas. As mulheres são, por natureza, diferentes dos homens, possuindo características e especificidades diversas, tais como a entrega progressiva e constante para com os outros, contribuindo positivamente nas funções que desempenham na sociedade e na política. O papel das mulheres não consiste, de todo, em tentar imitar os homens, mas sim, em serem elas próprias, com a sua identidade feminina, os seus valores e as suas competências. No entanto a sua participação levanta questões como seja a educação dos filhos, a gestão do lar e todos os aspetos práticos e económicos da família, sendo fundamental encontrar mecanismos facilitadores da conciliação da vida familiar com a vida profissional. Torna-se justo dar destaque ao papel da mulher na família e no mundo, aos seus contributos ao longo dos tempos, o que tem permitido promover o bem-estar da humanidade, em complementaridade com o papel do homem.
Santa Maria, Mãe do Amor Formoso, Rainha da Família, intercedei por todas as famílias enquanto células base da sociedade.
Maria Helena Paes |
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