A cidade de Tarso, situada no sudeste da Turquia, conhecido entreposto comercial onde o Oriente e o Ocidente se encontravam para as suas trocas comerciais, viu nascer um rapaz franzino que desde pequeno se habituou a ver passar, para Damasco e Jericó, mercadores carregados de bálsamos e de especiarias.
Nele se terá ateado o desejo de conhecer aqueles caminhos, de ir por aí além em busca de outros horizontes, mas o seu caminho estava pensado para ser portador de uma outra mercadoria: ir por todo o mundo anunciar a Boa Nova do Amor de Deus-Pai por cada ser humano, escravo ou livre.
Um relâmpago, uma queda do cavalo, um grito às portas de Damasco, um mistério, um milagre da graça e Saulo converteu-se de fervoroso perseguidor de Cristo no Seu mais fervoroso Apóstolo.
Jovem de olhar claro e penetrante sentiu na sua alma o grito da humanidade pagã, compreendeu que a Lei de Deus não escrita também estava no coração dos gentios e foi em busca das “pérolas do Rei dos reis” para as oferecer a todos, sem excepção.
O seu coração dilatou-se para que pudesse ser judeu para os judeus, gentio para os gentios, tudo para todos, a fim de a todos ajudar a salvar.
Homem de vontade e de acção, nenhuma dificuldade o abateu – e passou por tantas! -, nenhuma oposição o deteve e nenhuma perseguição o desalentou!
O mundo inteiro não foi suficientemente grande para, com o pleno ardor do seu coração, levar a todas as nações as palavras de esperança e de fé na Redenção do Homem-Deus, que morrera mas que para sempre ressuscitou.
Vaso de eleição escolhido por Jesus Cristo, já depois de ter subido aos Céus, nele, como em nós, se o pecado abundou a graça superabundou. Tanto fez Paulo pela humanidade que os próprios primeiros cristãos, seus contemporâneos, se terão admirado.
Nem sempre a saúde foi uma constante na sua vida, mas a debilidade corporal e os obstáculos que insistiram em dificultar a sua missão não conseguiram afastá-lo do seu plano.
Pregador incansável, não desanimou face à dureza de pensamento da culta cidade de Atenas, onde sozinho mas inspirado, não desistiu de anunciar, no areópago, o “Deus Desconhecido” cuja adoração seria o melhor refúgio e o complemento perfeito da racionalidade grega.
Os então sábios do berço da filosofia mostraram-se a anos-luz do caminho da Verdade e as divinas palavras de Paulo não encontraram logo eco no labiríntico pensamento pagão. Só mais tarde o haveriam de escutar os homens verdadeiramente abertos à Sabedoria e ao Amor.
A mera sabedoria filosófica de então, como a de agora, não esteve à altura da Beleza de um Deus único, pleno de bondade, harmonia, paz e amor.
A grandeza da missão Paulina atinge o seu cume mais elevado em Éfeso, cidade que, quatrocentos anos mais tarde, no Concílio Ecuménico reunido em 401, há-de reconhecer e afirmar a perfeita união das naturezas divina e humana na única Pessoa de Cristo, o Verbo de Deus, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade.
É, todavia, em Jerusalém – onde o Senhor lhe mostrou o que, por Ele e pelo Seu Nome, o Apóstolo teria de sofrer – que ele há-de realizar uma parte substancial da sua missão.
A grande estima dos seus amigos e a condição de cidadão romano foram adiando algumas perseguições e a própria morte.
Esses adiamentos levaram-no a Roma, na esperança de aí também dar testemunho e de encontrar a justiça que lhe era devida. Nesta cidade dissoluta e pagã, entra como prisioneiro em liberdade condicionada, e volta mais tarde, depois de ter cumprido a tarefa que o Senhor lhe confiara, a fim de conquistar definitivamente para a fé esta cidade eterna.
No ano 67 da nossa era, na Via Ostiense, junto às Tre Fontane, este nosso grande Apóstolo foi decapitado. Os seus restos mortais aí repousaram e no dia 29 de Junho de 258, foram transladados para as catacumbas de S. Sebastião, juntamente com os de S. Pedro.
Paulo e Pedro – diferentes em tudo mas unidos na sua carreira apostólica – tiveram durante muito tempo o mesmo santuário. Em sua memória se festeja a 29 de Junho o dia de ambos.
Só no século IV, no Pontificado de São Silvestre (314-335), os restos mortais de ambos puderam voltar ao lugar do martírio de cada um: os de São Pedro ao Vaticano e os de São Paulo à Via Ostiense. E sobre o sepulcro do Apóstolo das gentes se edificou a magnífica Igreja de São Paulo extramuros.
Não houve em todo o mundo nada nem ninguém que pudesse calá-lo ou encerrá-lo. Ele foi um Apóstolo sem fronteiras e os limites do seu ministério católico confundem-se com os da Terra inteira.
São Paulo é sempre mais do que o muito que dele se pode dizer ou escrever, e o segredo da sua força reside no grande vulcão de amor que foi, que é, por Jesus Cristo.
A Igreja comemora a festa litúrgica da conversão de S. Paulo no dia 25 de Janeiro.
Maria Susana Mexia |
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