Páginas

domingo, 21 de janeiro de 2018

A propósito do Dia Internacional do Obrigado

O Dia Internacional do Obrigado ocorreu a 11 de janeiro. O objetivo do Dia Internacional do Obrigado é simplesmente agradecer a todos aqueles que fazem parte da vida das pessoas e que as ajudam e alegram, só por existirem.

Resume-se a uma questão de amor. Onde se encontra o nosso coração, aí está o nosso amor. Cada um sabe onde o tem. Por amor fazemos tudo. Acho que sou uma cidadã do mundo. Sinto-me em casa em toda a parte. Sem apegos, apenas a família e, acima de tudo, Deus. Recordo que uma vez me desloquei por motivos profissionais a Viena. Fui só. Alguém questionou: “Não tem receio de ir só?” Nem sequer tinha ponderado esse facto. Era necessário ir, logo, tinha de ir. Quando regressei uns dias mais tarde, a mesma pessoa perguntou-me como me tinha sentido na cidade. Respondi-lhe: “Em casa”. Este momento trouxe-me ao pensamento outra situação que tive oportunidade de vivenciar. Uma pessoa só em fase terminal que acompanhei durante algum tempo. Quando faleceu, tive de me deslocar à morgue para identificar o seu corpo. Também na altura me questionaram se ia só. Respondi afirmativamente. As pessoas que me podiam acompanhar tinham declinado fazê-lo. Preocupado, indicou uma pessoa que me fez companhia. Confesso que foi bom ter com quem partilhar o momento. Mas, se tal fosse necessário, teria ido só. Mas tudo tem um significado na vida. Uma vez, em amena conversa com um bispo já falecido, ele disse-me as seguintes palavras que permaneceram para sempre gravadas no meu coração: “Em primeiro lugar está a família. Depois o trabalho. Logo a seguir as devoções”.

E o tempo passou… Agora, acontece que já tenho algum grau de dificuldade em sair só para o estrangeiro. Claro que a família continua a assumir um papel preponderante. Quanto às devoções também as vejo sob outro prisma. Já não acho tão apelativo o trabalho no terreno. O meu voluntariado passa por escrever e procurar tornar a vida mais fácil aos outros para que não se sintam sós. Com a maturidade, graças aos conhecimentos adquiridos, as experiências vivenciadas, tornamo-nos diferentes. O que antigamente era importante, hoje em dia, já não o é tanto. Possuímos, se me permitem, uma outra visão do mundo. O sorriso de uma criança, de um idoso feliz, preenche-nos mais. Sentimo-nos úteis, a transmitir os acontecimentos que consideramos mais relevantes e dar-lhes um sentido positivo. Ou seja, sou um produto final, da sociedade em que me movimentei, com todos os seus contributos quer pela positiva quer pela negativa. Contudo, cada vez mais, enfatizo a importância da socialização, da educação, da cultura, da aprendizagem contínua. Ajuda-nos muito a minimizar as diferentes formas de solidão, a crescer culturalmente, a manter as capacidades cognitivas, a estimular novos horizontes.

Hoje, veio-me ao pensamento enquanto caminhava a frase que dá o título a este artigo: ”Estar num Local, ou Estar em Toda a Parte”: que um dia, ao partir, tenha deixado laços, um cunho particular, em diferentes locais e espaços, em particular na família. Mas olho para dentro de mim e digo: “Miserere”. Uma e outra vez, é melhor aceitar o modo como somos, quando não o conseguimos, de todo modificar. Uma coisa importa: apesar das nossas fraquezas, amar sempre a Deus, tão misericordioso, sempre disposto a perdoar. O que não desejamos de todo é estar um dia, num único local, sem esperança de lá poder sair, ou seja, no inferno. Melhor ou pior, fazemos o nosso percurso neste local de passagem que é a terra. E é aqui precisamente que construímos o nosso futuro, isto é, a eternidade. A escolha é nossa: Deus deu-nos essa liberdade. Mas neste mundo, onde tudo acontece tão velozmente, de um modo absorvente às vezes, não dispomos do tempo suficiente, nem da disponibilidade interior, para pensarmos que estamos aqui de passagem. Não deixemos que isso nos aconteça. Recordemos as palavras de Jesus ao bom ladrão: “Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso”. Assim sendo, estar no Céu, é estar um pouco em toda a parte. Logo, cada um, é que sabe, onde um dia quer estar. Recordo que, quando amamos uma pessoa profundamente, colocamo-la antes de nós, concedendo-lhe prioridade. Na realidade, hoje senti um calor reconfortante no meu coração. Não sei qual o motivo, ou qual a origem. Era como se pressentisse que algo de bom fosse suceder, que me fez saltar da cama mais rapidamente para enfrentar o dia. Mas se tal não acontecer, terei de aceitar. Como gostaria que perdurasse para sempre o sentir-me fortalecida, com outra capacidade para enfrentar a vida. Talvez tivesse contribuído para este facto, a época natalícia que atravessámos recentemente, em que sentimos mais o calor humano e familiar que a todos reaproxima à volta do Deus menino, bem junto à Virgem Maria, pedindo-lhe, como refere uma canção de Natal: “Um lugarzinho no Céu”.

São Josemaria Escrivá disse um dia: “Que procures a Cristo, que encontres Cristo e que ames a Cristo”. É bom possuir um coração aberto à transcendência que, de alguma forma, nos ajude a sair da comodidade da nossa vida, a superar os obstáculos e a integrar e aceitar a cruz, a ver a mão de Jesus nos acontecimentos, nas dificuldades da nossa vida. Um dia compreenderemos o que Jesus esperava de nós, através dos constrangimentos e da dor, que algumas vezes, viver a vida acarreta.

Enquanto conduzia o carro bem cedo, com muito trânsito, para o levar à revisão e posteriormente à inspeção, liguei a rádio. A locutora referia que o dia 11 de Janeiro é o Dia Internacional do Obrigado. Interessante. Quantas vezes, nos teremos esquecido de agradecer algo durante a nossa vida. Através do vidro da janela do café onde fiquei a aguardar o resultado da revisão, entrava uma claridade intensa, um dia de inverno de sol, muito azul e frio. Como era agradável observar todo o movimento do dia que desponta. Pensei na luz deste mundo que mexe, que gira, que ri, que chora, que sofre, que se alegra, que trabalha, que se encontra desempregado… Todo este turbilhão de acontecimentos, constitui a vida a passar, trilhando, como sempre, o tapete da incerteza.

E o telemóvel toca. O carro estava pronto. Só foi necessário trocar uma lâmpada. Graças a Deus! Na semana anterior tinha aparecido partido o vidro da frente do veículo, sem qualquer explicação plausível. Mas foi uma despesa elevada acrescida, já que o seguro não cobriu este dano, pelo que me soube lindamente não ter mais despesas. Agora era chegado o momento de o levar à inspeção. Entretanto a minha neta veio ter comigo, acompanhada pelo pai. Foi tão bom observar a sua curiosidade e alegria durante a inspeção. Animou o ambiente. Tive de lhe explicar que os seres humanos vão ao médico fazer o check-up. Os carros vão à inspeção para ver se está tudo bem. É uma questão de segurança. Convencida, acompanhou todos os passos do processo. No final, feliz, disse ao pai: O carro da Vovó passou, tem segurança! E assim levemente, em família, foi ultrapassada uma situação, que tenho alguma dificuldade em fazer. Soube tão bem!

Depois destas considerações fica a única certeza. Por Deus todos os homens são chamados à vida que não tem fim, à plenitude do tempo em que Jesus é o caminho, a verdade e a vida. Cumpre-nos não esquecer, neste Dia Mundial do Obrigado, de agradecer a Deus o dom da vida e tudo o que nos concede. Maria, a mãe do Amor Formoso, fez sempre a vontade de Deus. Hoje, pegando novamente no título do artigo, encontra-se em Toda a Parte.

Maria Helena Paes









Sem comentários:

Enviar um comentário