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terça-feira, 5 de setembro de 2017

O Passar do Tempo e as Recordações

Recentemente, passámos um serão extremamente agradável, divertido e ao mesmo tempo saudoso, graças a ter sido encontrado no sótão, dentro de um baú, vários álbuns antigos de fotografias. Foi uma verdadeira alegria. Através das imagens, recordámos tantos momentos vivenciados há muito tempo, desde casamentos, batizados, viagens, aniversários, tudo há muito tempo esquecido. Os fatos, os penteados da época, fizeram-nos sorrir. Tudo tão fora de moda! Sentimos igualmente uma enorme saudade pelos entes queridos que já tinham partido, alguns os mais novos não tinham memória, só de ouvir falar. Mas a esta distância temporal, já conformados com o desgosto, aceite e integrado nos nossos corações, apesar de continuarem sempre presentes, muito contribuiu para recordarmos as suas histórias de vida, algumas peripécias e acontecimentos mais marcantes, neste serão tão repleto de recordações. Graças a Deus, tínhamos usufruído da companhia de pessoas excelentes, também com a sua personalidade, o seu amor, o seu estilo de vida, as suas peculiaridades. Passaram por nós deixando uma marca inesquecível ao nível familiar, procurando com a sua luta diária deixar igualmente uma marca positiva na sociedade.

A propósito desta ocorrência relativamente às fotografias encontradas, recordei que épocas houve em que não existiam as máquinas fotográficas. Mas o Homem encontrou sempre um mecanismo alternativo que permitisse registar os acontecimentos que o marcavam. Prova disso é que já na Época da Idade da Pedra Lascada (Paleolítica) as pinturas rupestres surgiram nas cavernas, enfatizando assim que na vida do Homem Pré-Histórico já existia a Arte e o espírito de conservação. Entre os homens caçadores primitivos surgiriam os primeiros artistas, os quais pintavam, esculpiam e gravavam demonstrando assim que o desejo de expressão se encontrava bem percetível, podendo dizer-se ser inerente ao ser humano. Essas grutas pré-históricas poderiam considerar-se mesmo os primeiros ‘museus’ da humanidade. E o tempo passou. Surgiram outros modos de registar os acontecimentos… Um deles, que a tradição refere, é o de S. José, enquanto carpinteiro, que registou a Sagrada Família, esculpindo uma imagem em madeira da Virgem Maria sentada com o Menino ao colo, hoje a imagem de Nossa Senhora da Nazaré.

E a pintura a óleo? A esse propósito veio ao meu pensamento uma visita à cidade de Florença que se encontrava repleta de pessoas num domingo, muitas delas acompanhadas de crianças. Uma verdadeira multidão a passear no centro histórico desta cidade, uma das mais belas cidades que alguma vez tive oportunidade de visitar, com o monumental conjunto religioso da cidade, onde se ergue o Battistero, o Campanario, a Catedral de Santa Maria dei Fiore (Duomo). Embora construídos em épocas diferentes, harmonizam-se graças ao mármore com que todos foram executados. Mas voltando à pintura, não posso deixar de referir a Galeria degli Uffizi, que contém uma das maiores coleções artísticas mundiais. Torna-se quase impossível referir as inúmeras obras aí existentes. Posto isto, saliento algumas obras mais relevantes. A Virgem no Trono com o Menino, os Anjos e os Santos de Giotto, a Virgem no Trono com os Meninos e os Anjos de Duccio de Buoninsegna, um retábulo de Giotto. São tantas as salas e tantas as obras, que passo a mencionar apenas alguns dos pintores aí representados: Hugo Van der Goes, Filippo Lippi, Rosso Fiorentino, Rafael, Leonardo da Vinci, Perugino, Verrocchio, Botticelli, Ticiano, Caravaggio, Tintoretto, Rubens, Antonio van Dyck, Rembrandt, Francisco Goya entre muitos outros que não enunciei, não pela falta de importância ou de grandeza da sua obra, mas unicamente já por cansaço. Torna-se quase impossível ser justa perante esta imensidão de obras de arte. Contudo, desde já, agradeço o importante legado que nos deixaram e que hoje em dia, passados séculos, podemos usufruir e enriquecer-nos culturalmente. 

Seguimos em direção à Ponte Vecchio que fervilhava com uma multidão de pessoas a circular. Foi muito bom observar tanto movimento, tanta vida, tanta alegria e socialização. Os ourives vinham à porta, conversavam com os transeuntes, as crianças sorriam, os adultos tinham um ar feliz e relaxado só possível para quem se encontra de férias a usufruir de um bom momento, longe das preocupações diárias. Fiquei apaixonada pelo Rio Arno, pelas cores espelhadas neste rio, ao final do dia, em tons prateados, pastel, verde e rosado. Interiormente dizia: “Obrigada Senhor, perdão, ajuda-me mais. Não sou digna de usufruir de tal beleza que considero incomparável. Será isto uma pequena antecipação do paraíso?”

Termino agradecendo a todos os que de alguma forma utilizam a Arte para nos ajudarem a saborear a vida com os olhos colocados no Céu.

Maria Helena Paes



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