No movimento da Restauração destaca-se a coroação de D. João IV como Rei de Portugal, a 15 de dezembro de 1640, no Terreiro do Paço em Lisboa.
Durante o “interregno”, entre 1580 e 1640, sob o domínio dos Filipes de Espanha, os portugueses julgavam já ter perdido a razão de existir como País, pois, na verdade, a primeira parte da sua missão universal se cumprira já: levar a todo o mundo o cristianismo. Porém, a Restauração viria a ser o sinal de que ainda havia sentido para a sua existência.
Deve-se ao rei D. João IV o facto de Nossa Senhora da Conceição ter sido proclamada Padroeira de Portugal, por proposta sua, durante as Cortes reunidas em Lisboa desde 28 de Dezembro de 1645 até 16 de Março de 1646, afirmando o soberano «que a Virgem Maria foi concebida sem pecado original» e comprometendo-se a doar em seu nome, em nome de seu filho e dos seus sucessores à Santa Casa da Conceição, em Vila Viçosa, «cinquenta cruzados de oiro em cada ano», como sinal de tributo e vassalagem, a dar continuidade à devoção de D. Afonso Henriques, que tomara a Senhora por advogada pessoal e de seus sucessores.
O acto da proclamação de Nossa Senhora da Conceição como Padroeira de Portugal, efectuado com a maior solenidade pelo monarca a 25 de Março desse ano (1646), alargou-se a todo o País, com o povo, à noite, a entoar cânticos de júbilo pelas ruas, para celebrar a Conceição Imaculada da Virgem, ou, mais precisamente, a Maternidade Divina de Maria. Assim se tornou Nossa Senhora a verdadeira Soberana de Portugal, não voltando por isso, desde aí, nenhum dos nossos reis a ostentar a coroa, direito que passou a pertencer apenas à Excelsa Rainha, Mãe de Deus.
Em 1648 D. João IV mandou cunhar moedas de ouro e de prata, tendo numa das faces a imagem da Imaculada Conceição com a legenda Tutelaris Regni – Padroeira do Reino. Em 1654 ordena que sejam postas em todas as portas e entradas das cidades, vilas e lugares do reino pedras lavradas com uma inscrição alusiva à Imaculada Conceição (lápides essas ainda hoje existentes em certos locais).
Logo após a Restauração de 1640, com D. João IV, verificou-se um grande impulso na devoção à Senhora da Conceição, por todo o país e o próprio Duque de Bragança, que Lhe era muito devoto, compôs vários hinos e motetes em honra da Santíssima Virgem, como um Magnificat a 4 vozes e um Ave Maris Stella.
Por provisão de 25 de Março de 1646, D. João IV, “estando ora junto em Cortes os três Estados do reino», proclamou solenemente “tomar por padroeira de nossos Reinos e Senhorios a Santissima Virgem Nossa Senhora da Comseição... confessare deffender May de Deus foi concebida sem pecado original”. Por esta proclamação a Virgem Imaculada era constituída e declarada, por todos os poderes da Nação, Senhora e Rainha de Portugal, a verdadeira soberana do país.
A 30 de Junho de 1654, o referido monarca, enviou a todas as Câmaras cópia da inscrição latina comemorativa do juramento solene feito em 25 de Março de 1646 e para que fosse mais notória a obrigação de defender “que a Virgem Senhora Nossa foi concebida sem pecado original” ordenou que aquela inscrição fosse gravada em pedra e colocada nas portas e lugares públicos das cidades e vilas do reino.
Também neste mesmo ano de 1654 o reitor, lentes, doutores e mestres da Universidade de Coimbra, reuniram-se e determinaram que a fórmula do juramento de todos os futuros graduados começasse pela declaração de «defender sempre e em toda a parte que a Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus, foi concebida sem a mancha do pecado original.
ImageDesde que Nossa Senhora da Conceição é Padroeira de Portugal, os nossos monarcas nunca mais colocaram a coroa na cabeça (pois isso equivaleria a usurpar um direito que pertencente a Nossa Senhora) e apenas em ocasiões solenes, a coroa era posta sobre uma almofada, ao seu lado direito.
Em 1935 celebrou-se a primeira grande Peregrinação Nacional a Vila Viçosa, e em 1946, no dia 25 de Março, comemorou-se o tricentenário da proclamação da Padroeira, com a consagração de Portugal à Santa Mãe de Deus.
No contexto mundial e na longa história das alianças entre Maria e Portugal, quando a Virgem decidiu reconciliar os homens com Deus, superar a força do pecado e salvar a humanidade perdida e desorientada, sem rumo e sem esperança, aonde havia de ir? A Portugal, claro, a terra da Lusa Gente de quem era Rainha e Padroeira, pois bem sabe que enquanto houver portugueses Ela será o seu amor.
Muitas foram as consagrações feitas a Nossa Senhora mas, segundo a própria vidente, só a que a 25 de Março de 1984 realizou São João Paulo II, em união com o episcopado mundial, foi válida. É verdade que algumas pessoas questionaram essa última consagração, mas a Irmã Lúcia foi perentória a este propósito, declarando que aquele “acto solene e universal de consagração correspondia aos desejos de Nossa Senhora”, em carta de 8 de Novembro de 1989, véspera da queda do muro de Berlim.
Recordemos a forma imprevisível e surpreendente em que se deu a queda do muro de Berlim e o pacífico desmoronamento da URSS. Não era previsto o colapso da União Soviética, nem a libertação de todos os países do Pacto de Varsóvia. É irónico que esta aliança político-militar, constituída pela URSS e pelos seus satélites, tivesse por nome a capital polaca, quando foi a Polónia o primeiro país comunista a libertar-se do jugo soviético, graças à acção pastoral e diplomática de São João Paulo II, bem como à corajosa actuação de Lech Walesa e do seu sindicato livre, o Solidariedade. Não deixa de ser paradoxal que o comunismo tenha sido derrubado pelo proletariado, ou seja, por aqueles que era suposto serem os protagonistas e principais beneficiários do regime.
No ano do centenário das aparições na Cova da Iria e da revolução comunista russa, já ninguém pode negar, mesmo sendo ateu ou agnóstico, que a ‘conversão’ da Rússia, depois da sua consagração ao Imaculado Coração de Maria, impôs Fátima ao mundo.
Fátima recorda a todos os povos, que a vida na terra é algo temporário, frágil e passageiro, pois o nosso fim último não é aqui, mas na Eternidade.
Maria Susana Mexia |
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