Uma e outra vez somos confrontados com situações recorrentes em que temos a sensação que já as tínhamos vivenciado talvez num outro contexto e num outro momento, contudo semelhantes na forma e no conteúdo. De algum modo possuímos a sensação que não aprendemos com os erros cometidos, com a experiência vivida. Será mesmo que temos alguma apetência para os repetir? O meu coração diz-me que não é verdade. Na realidade, há pessoas que dificilmente sabem dizer “não”. Acreditam na bondade do ser humano, nas suas boas intenções, na sua capacidade para amar e, se necessário, também para perdoar. Desculpam tudo, referindo que as pessoas sofrem de algum problema que não conseguem ultrapassar, que são vítimas da sua própria personalidade ou que sofrem de alguma patologia. Uma coisa é certa, torna-se necessário possuir a virtude da fortaleza no sentido de superar com garbo e dignidade as situações vivenciadas, provocadas por estes constrangimentos. Errar é humano, logo, não somos perfeitos. Alguém escreveu: “Adoramos a perfeição, porque não a podemos ter; repugná-la-íamos se a tivéssemos. O perfeito é o desumano, porque o humano é imperfeito”. Ou seja, a perfeição não pertence à natureza humana decaída.
Este meu primeiro parágrafo trouxe-me ao pensamento a importância de relevar a família independentemente das situações mais constrangedoras que possam existir no seu seio. É extremamente gratificante observar uma família unida que, apesar das querelas que possam existir, as conseguem ultrapassar, perdoar, ou mesmo esquecer em prol do seu bem-estar, independentemente de tudo o que possa ter motivado o atrito. É na família que se encontra todo o apoio, solidariedade, compreensão, ajuda nos momentos mais difíceis, afeto, tudo o que carecemos para levar a vida em frente não só nos maus momentos mas igualmente nos bons. Uma família unida é como uma muralha onde todos os seus membros se encontram protegidos das intempéries e das agruras que o viver a vida acarreta.
Há alguns dias tive oportunidade de reunir com uma amiga de longa data que muito admiro pelo modo como apoia toda a família. É solteira, já com alguma idade. Ao longo da sua vida soube gerir as discórdias familiares. Esteve presente em todos os acontecimentos, colocando-se à margem dos conflitos, das intrigas, dos problemas provocados pelas partilhas, constituindo uma figura de referência, respeitada, que todos apelidam carinhosamente de “Tia” reconhecendo nela a autoridade de uma verdadeira matriarca sempre disponível para ajudar a todos. A sua casa parece que tem mel, onde todos se sentem bem acolhidos, a quem pedem uma opinião, partilham as suas dificuldades e pedem conselho ou, tão simplesmente, um pouco de afeto, um abraço amigo. É bom saber que podem sempre contar com amizade da Tia, que a todos aprecia, que tem sempre uma palavra positiva para os enaltecer.
O Papa Francisco alguma vez referiu: “Na família há dificuldades, mas essas dificuldades são superadas com amor. O ódio não supera nenhuma dificuldade. A divisão dos corações não supera nenhuma dificuldade. Só o amor é capaz de superar a dificuldade. Amor é festa, o amor é a alegria, o amor é seguir em frente”. Disse ainda: “Só Deus sabe criar a harmonia a partir das diferenças. Se falta o amor de Deus, a família também perde a harmonia, prevalecem os individualismos, apaga-se a alegria. Pelo contrário a família que vive a alegria da fé, comunica-a espontaneamente, é sal da terra e luz do mundo, é fermento para toda a sociedade”.
Termino, não sem antes lançar um apelo: que todos os “sem família” por qualquer motivo (guerra, doença, solidão, velhice, doença, morte, migração), certamente alheio à sua vontade, possam encontrar algum apoio numa família alargada que os integre, adote e apoie, ajudando assim a diminuir as agruras sentidas.
Maria Helena Paes |
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