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terça-feira, 5 de setembro de 2017

Menos Facebook e mais the face on the book

O estudo requer tempo e sossego, exactamente o que não temos nas nossas sociedades consideradas desenvolvidas. Uma certa ignorância tem lavrado nos nossos tempos, consequência, talvez, do facilitismo das novas tecnologias que fomentam uma certa preguiça e por isso são preferidas em desfavor da cultura escrita, mais exigente e selectiva. 

Um novo estilo de vida a que se chama progresso tem efeitos colaterais adversos a qualquer actividade intelectual. No ocidente cresce de forma desmedida o número de adolescentes que “brincam com a droga e com o álcool” de forma absolutamente irresponsável e consta que as consultas de crianças e adolescentes aos psicólogos e psiquiatras aumentaram na mesma proporção das rupturas familiares.

Alienados com a cultura do ócio, do consumismo e do excesso os jovens vivem indiferentes, amorfos, apáticos, sem vontade e sem hábitos. Geração polegar no dizer de muitos especialistas, crescem à margem duma educação sem caracter.

Sabemos que a aquisição de hábitos tem uma enorme importância educativa. Junto à natureza biológica, que recebemos antes de nascer, a educação oferece-nos uma segunda natureza: à força de repetir os mesmos actos, vamos tecendo o nosso próprio estilo de conduta, nosso modo de ser. “Uns tornam-se justos e outros injustos, uns trabalhadores e outros preguiçosos, responsáveis ou irresponsáveis, amáveis ou violentos, verdadeiros ou mentirosos, reflexivos ou precipitados, constantes ou inconstantes. Em consequência, "adquirir desde jovens tais ou quais hábitos não têm pouca ou muita importância: tem uma importância absoluta". (Aristóteles)

Um acto isolado não constitui um modo de ser, mas a sua repetição pode bem consegui-lo. Por isso se diz que quem semeia actos colhe hábitos, e quem semeia hábitos colhe o seu próprio caráter. Toda a repetição supõe, em maior ou menor grau, força de vontade. Mas a vontade - que foi tudo durante séculos – nesta época, foi retirada do mercado e hoje o que se valoriza acima de tudo é a liberdade. Porém, se os hábitos positivos não se enraízam, a personalidade da criança e do jovem fica à mercê da lei do gosto, do vulgar e superficial que a sociedade fabrica para vender e escravizar.

Nas últimas décadas, a síndrome da brincadeira na educação, avessa à exigência e ao esforço fez muitos estragos: "Quem quer ensinar a brincar, acabará brincando a ensinar". (Miguel de Unamuno) 

Entre nós vão proliferando tipos humanos adolescentes, compulsivos, pouco dados à reflexão e com alergia à responsabilidade. Ao falar de adolescentes não me refiro somente aos jovens mas, citando Mercedes Ruiz Paz, no seu ensaio Os limites da educação, adiantaria que uns milhões de adolescentes dos 13 aos 18 anos estão a ser educados por outros tantos adolescentes de 30 a 40 anos…

Impõe-se nestes tempos, que também são nossos, reconhecer que a passagem dos valores às virtudes é a passagem da teoria do bem à prática do bem, e essa passagem dá-se pelo vínculo dos hábitos. Urge fomentar comunidades onde floresça a vida civil, moral e intelectual no meio das novas épocas obscuras que caem sobre nós, sob pena de acabarmos consumidos pelo consumismo e de olhos fixos em tudo o que é tecnologia aplicada à distração e diversão, mas alheados do que é importante e intelectualmente estúpidos e parados.

Parafraseando um amigo professor eu diria - meus senhores, menos Facebook e mais trabalho, mais the face on the book, estudo, empenho, esforço e honestidade na vossa formação científica, humana e social. 

José M. Esteves



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