1917 - Foi um ano de turbilhão com acontecimentos ideologicamente contrários e aparentemente inconciliáveis, em pontos geográficos distantes, embora no continente europeu: as aparições da Virgem Maria, em Fátima, Portugal, e a revolução bolchevique, na Rússia, a qual almejava pôr fim à fé religiosa, ferozmente apelidada de “ópio do povo”, parafraseando Karl Marx, impondo o ateísmo como ideologia oficial e declarando uma feroz campanha mortal anticlerical.
O mundo estava concentrado na I Guerra Mundial, o maior acontecimento que marcou o princípio do século passado, tendo morrido nove milhões de pessoas entre civis e militares e cerca de 30 milhões feridos, acelerando o declínio da Europa, a descolonização, a destruição da sociabilidade europeia, provocado a americanização dos costumes, a imigração e o terrorismo, entre outros efeitos calamitosos e dramáticos.
O ano de 1917 foi decisivo no contexto bélico, a Rússia arruinada retirou-se da frente de batalha e os EUA entraram na guerra ao lado dos aliados Inglaterra e França, contra a Alemanha. Aviões de combate, tanques, submarinos e gases tóxicos, eram os grandes companheiros de trincheira para os soldados “convidados” a lutar pelas pátrias…
«No plano interno russo, serão suficientes apenas dois exemplos para ilustrar o turbilhão de acontecimentos que se abatia sobre o país. Assim, a 15 de Março de 1917, o Czar Nicolau II abdicava do trono e a Rússia transformava-se numa República que mergulhou imediatamente numa profunda crise política, o que desembocou no golpe de Estado comunista de Novembro de 1917.»*
A Rússia, como Estado de religião ortodoxa, mantinha o calendário juliano, por isso a revolução de Fevereiro é para nós em Março, e a revolução de Outubro é em Novembro.
«É dentro deste contexto tenebroso e trágico que surge a Virgem Maria em Fátima como uma `visão de paz´ e uma imagem de esperança. Para Pio XII, o contexto daquelas mariofanias era o que chamaríamos hoje uma `crise epocal'. Em 1951, referindo-se ao jubileu de prata do seu episcopado, ocorrido em 1942, portanto, em plena II Guerra Mundial, e lembrando que foi ordenado bispo, justamente a 13 de maio de 1917, a `grande e formidável data´ em que a Virgem aparecera pela primeira vez em Fátima, o Pontífice sugeriu que tal coincidência entrava `talvez dentro dos secretos desígnios da Providência, afirmando em seguida, entre o dramático e o confiante: `A branca Rainha do Santíssimo Rosário´ apareceu para `significar que nos tempos tempestuosos…do nosso pontificado, no meio de uma das maiores crises da história mundial, A teríamos sempre…como grande vencedora de todas as batalhas de Deus´. Na verdade, Nossa Senhora de Fátima apareceu em `tempos de apocalipse´ e para `tempos de apocalipse´. Este tempo tem aqui o sentido mais simples: o de uma situação prenhe de extremo perigo, em que se prospeta uma catástrofe imensa, produtora de destruição e morte, portanto, de angústia mortal e de imenso terror. O cardeal Manuel G. Cerejeira, patriarca de Lisboa, clamava: `Nesta hora apocalíptica, Vós tendes o remédio nas vossas mãos´». **
Num mundo envolvido em guerra, revoluções, perseguições, ódios, flagélos físicos, psíquicos, morais, sociais e familiares, Fátima aparece-nos como um fenómeno religioso, uma explosão transbordante de sobrenatural com uma relevância proféctica única. É uma forte chamada de atenção para a noção de pecado, para a premência duma visão do homem face ao seu destino eterno, para compreender como é grande a sua missão salvífica e para perceber que ao eliminar Deus das consciências é o próprio homem que corre perigo, pois o que fica em jogo não é só a existência de Deus mas também a dignidade da vida. Quem salvará o homem do próprio homem?
Nesta perspectiva, as aparições de Nossa Senhora em Fátima e a Sua mensagem são um apelo para nos abrirmos a outra dimensão da história, alimentada por outra Presença, sustentada por outra Força, conduzida por outra Luz, orientada para outra Meta.
Fátima, um mistério com cem anos, uma mensagem politicamente incorrecta e, precisamente por isso, evangélica e proféctica.
Mensagem dura e pesada para os homens mundanos dos nossos tempos, há que aprender a compreendê-la, a integrá-la e a amá-la, pois anuncia com esperança a possibilidade de vencer o mal a partir da conversão dos homens a Deus.
«Mensagem profética e moral: voltai para Deus, voltai para o bom caminho, voltai para a justiça e a paz….A divina Pastora vai atrás de uma sociedade desorientada e mesmo transviada pelas ideologias do poder, seja ele nacional, racial ou de classe, para trazê-la de volta ao encontro de Deus e do seu Reino. A celeste Mensageira parece dizer à humanidade: Filhos, a estrada está errada. Ela leva à catástrofe. Mudai de rumo!»**
*In: A MENSAGEM DE FÁTIMA NA RÚSSIA de José Milhazes
** In: MENSAGEM DE ESPERANÇA PARAO MUNDO – FÁTIMA: A MAIS POLÍTICA DAS APARIÇÕES MARIANAS de Clodovis Boff
Maria Susana Mexia |
Sem comentários:
Enviar um comentário