Os anos passaram depressa. Fomos solteiros, casados, pais e, agora, já somos avós. No entanto, há algo que fomos e continuamos a ser: irmãos, mesmo irmãos.
Sim, somos mesmo irmãos. Tivemos sempre, o mesmo pai e a mesma mãe. Vivemos na casa dos nossos pais e nós, as irmãs, dormíamos e estudávamos no mesmo quarto. Tivemos os mesmos avós e os mesmos primos. Tivemos a mesma comida às refeições e a mesma educação de hábitos, costumes e tradições que nos preparavam para conviver de modo agradável e respeitador com as pessoas que nos rodeavam. Tivemos oportunidade de escolher a nossa profissão, o nosso cônjuge, e de acompanhar os estudos, os namoros e o amadurecimento uns dos outros à medida que nos íamos desenvolvendo.
Além disso, tivemos os mesmos avós – paternos e maternos – com os respectivos tios e primos. Também eles eram mesmo irmãos. Foi só na nossa geração que surgiram, entre os nossos primos, os meio irmãos, ou irmãos a 50%. Mas nós, sem qualquer mérito da nossa parte, somos, e continuamos a ser, mesmo irmãos.
É verdade que já não vivemos na mesma casa; todos casámos, tivemos os nossos filhos e cumprimos, bem ou menos bem, com as nossas responsabilidades de pessoas adultas. A vida foi-nos levando de um lado para outro: à procura de um apartamento barato para princípio de vida; na busca de paz e segurança em tempo de guerra ou revolução; na procura de melhores condições de trabalho no país ou no estrangeiro... A experiência de cada um era diferente, mas encontrávamo-nos sempre em casa dos pais pelos Natais ou aniversários porque somos mesmo irmãos.
Cada um fez as suas escolhas de vida. Cada um pensa conforme as suas convicções. Cada um educou os filhos como achou melhor ou como pôde. Cada um sofreu as suas dificuldades e doenças, mas sempre fomos ajudados, confortados e apoiados pelos nossos pais, porque somos mesmo irmãos.
Agora, continuamos a ir a casa dos pais para apoiar a nossa mãe, já viúva, muito idosa e debilitada de corpo e espírito, mas com o mesmo carinho e orgulho em nós. É ainda ela quem nos une e faz sentir queridos e amados. É ali, ao pé da mãe, que nos continuamos a encontrar e sentir em casa, mesmo irmãos. E não é apenas para festejar o dia dos irmãos!
Isabel Vasco Costa
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