|
|
Ricardo Toscano não é uma esperança do jazz que
se faz em Portugal. Ricardo Toscano é a certeza de que o jazz que se faz
em Portugal é muito mais do que uma esperança.
Na história universal do jazz, não há país que não conte estórias de
jovens músicos que quando começaram a tocar já eram maiores do que a
vida que tinham vivido: Lee Morgan, Scott LaFaro, Clifford Brown,
Nils-Henning Orsted Pedersen, Barney Wilen, Billie Holiday, Tony
Williams, etc, etc, etc.. Por cá, tivemos ontem, como caso mais
paradigmático, Bernardo Sassetti e o fenómeno colectivo dos irmãos
Moreiras nos anos 80. E temos hoje Ricardo Toscano.
Da sua biografia e currículo (tal como das dos seus notáveis companheiros de quarteto) falam outros
textos. Mas do body & soul de Toscano (que é, ainda e sempre, o BI
de um músico de jazz) urge adiantar já algumas breves notas.
Em terra onde a música inexiste no ensino básico e secundário (nos
últimos anos saltámos logo para o superior…), Ricardo Toscano começou
num dos berços mais populares: as bandas filarmónicas. O seu primeiro
instrumento foi o clarinete (clássico), de que se foi apartando à medida
que conquistado pelo jazz – quando entrou para a Escola de Jazz Luiz
Villas-Boas, do Hot Clube, aos 16 anos – se declarou ao saxofone (alto).
Uma perda inimputável ao jazz que, na sua tendência genética para somar
em vez de subtrair, mais tarde ou mais cedo será reparada.
A estadia na escola do Hot foi curta: um único ano (já leva muitos mais a
tocar no Clube…) bastou para dar o salto para a Escola Superior de
Música de Lisboa, onde foi admitido aos 17 anos no “regime especial de
sobre-dotado”. Cá fora, entre os músicos e os fiéis do Hot Club, o seu
nome começou a ser uma espécie de senha: já ouviste o Toscano, um miúdo
que é um espanto? E foi assim que também eu me espantei.
A primeira impressão do primeiro encontro com Ricardo Toscano é a
incredulidade – donde é que saiu este tipo? E a segunda também – como é
possível tocar já assim aos 17 anos? (2010) Um assim triplo: tocar
assim, com tão impressionante domínio expressivo do instrumento; tocar
assim, com um tão raro conhecimento da gramática e síntaxe jazzísticas;
tocar assim, em sucessivos e aparentes inesgotáveis saltos de maturidade
a cada dia que passa.
Na base de tudo está, à vista de todos os ouvidos, uma extraordinária e
rara intuição (mas tal como o talento, sem suor a intuição não vai
longe), a que há que juntar, ainda, incontáveis horas a ouvir e a tocar,
sozinho e com os outros, que é, sempre foi e será, a melhor forma de
crescer no jazz. E a verdade é que Toscano leva já muitas milhas de voo
entre os maiores e os seus pares de geração. O calendário recente das
suas solicitações, convites, gigs, concertos, jam sessions, discos,
festivais é uma soma vertiginosa (ao ponto de o curso superior ter
ficado, para já, entre parêntesis).
Se há certezas no jazz, elas nunca estão certas: excelente em cartaz,
nenhum concerto acima de qualquer suspeita está confirmado antes da
subida ao palco, aí onde, ao contrário dos estúdios, não há rede.
Felicidade a minha (?), a verdade é que nunca, até hoje, um concerto do
Quarteto de Ricardo Toscano me falhou as expectativas – no Hot, no
Angrajazz, no Estoril a excelência tornou-se um hábito (ainda por cima
sem rotinas!)
Tudo indica que assim deverá continuar a ser. Diz o ditado que, no mundo
do jazz como nos outros, há gente que tem o futuro nas mãos. Sorte a
nossa, o futuro tem o Toscano nas mãos.
António Curvelo (Outubro 2015)
FORMAÇÃO:
- Ricardo Toscano (saxofone alto)
- João Pedro Coelho (piano)
- Romeu Tristão (contrabaixo)
- João Lopes Pereira (bateria)
Sábado, 10 de setembro pelas 22h00, no Cineteatro Grandolense/ SMFOG – Música Velha, em Grândola (ver no Google Maps: https://goo.gl/maps/uSmNq1JQj5P2).
ORGANIZAÇÃO: SMFOG - Música Velha
APOIO: Município de Grândola
A não perder!!
ENTRADA LIVRE.
|
|
|
|
|
|
Sem comentários:
Enviar um comentário