Alguns até dizem com ar convicto que esta celebração é sobretudo um modo de familiarizar e ajudar as crianças a enfrentarem o problema da morte, o medo e o sobrenatural … desdramatizando e desmistificando a realidade do fim que a todos nos espera um dia. E assim, acham bem que os filhos andem pelas ruas em bando - quantas vezes por sugestão das escolas - vestidos de diabos, fantasmas, esqueletos, ou bruxas…
(Confesso-vos que quando minha muito querida e única avó ‘partiu’ de nossa casa, onde vivia, se para me prepararem, a mim com dez anos, meu pai, médico, tivesse trazido para nossa casa um desses esqueletos que aí vemos à venda nesta data, estou certa de que isso não me teria facilitado o encontro com a realidade da morte, nem me teria ajudado a superar qualquer medo ou desgosto!)
A primeira vez que vi um grupo de crianças pequenas mascaradas, guiadas pelos pais, a bater de porta em porta a pedir ‘gostosura ou travessura’ (trick or treat) em Londres, num 31 de outubro, nos anos 70/80?, achei alguma piada, mas não conhecia as origens, nem o significado, e ainda não era de todo tão assustador… como agora!
Com os anos apercebi-me de muita coisa maligna que está por trás deste pretenso culto aos espíritos dos mortos, originariamente ligado ao antiquíssimo culto dos celtas, e que em muitos lugares se tornou oportunidade para livremente dar largas a bruxedos e feitiços, pactos com o demónio e sacrifício de animais, sabe- se lá que mais… (na Serra de Sintra, por exemplo, como é bem sabido…), enfim, uma torrente de irracionalidade…
As montras de muitas lojas de todo o tipo enchem-se de fantasias alusivas ao Halloween, mas faz muita pena que as famílias cristãs embarquem nestas modas estrangeiras, quando entre nós temos a linda tradição tão portuguesa do ‘pão por Deus’… que ganhou um significado muito especial de fraternidade, solidariedade e respeito pelos mortos, depois do maior terramoto de que há memória na nossa cidade, no dia 1 de Novembro 1755, em que muitos dos sobreviventes, crianças e adultos, andavam pelas ruas pedindo ‘pão por (amor de) Deus’ a quem ainda tinha possibilidade de partilhar…
Há uns anos atrás, recordo algumas famílias queridas que vestiam os seus filhos pequenos de santos, explicavam-lhes o facto histórico, o respeito pelos mortos, o significado da partilha e da generosidade, e levavam-nos aos prédios vizinhos ou casas de amigos, a bater à porta e a pedir com seus saquinhos, ‘pão por Deus’… e no fim dividiam irmãmente as moedinhas e as guloseimas recebidas… e eram crianças felizes sem recurso a carantonhas hediondas e assustadoras…
E hoje? Que têm as nossas famílias para ensinar aos seus filhos e netos nesta data??? Será que desistimos dos nossos valores e crenças cristãs??? Halloween, ou Pão por Deus?




