Voltamos a 650 antes de Cristo, quando na
Grécia, mais concretamente em Esparta, qualquer bebé espartano que seja
deficiente é morto de imediato. Isto por não poder servir Esparta, por não
poder ser útil a Esparta no trabalho reservado aos homens, o de ser soldado. É
impedido ao bebé o seu direito de viver pela simples razão de não ser útil para
o exército.
Mais recente do que a Esparta antiga é a Roma
antiga, onde de 500 a.C a 391 d.C se praticava constantemente a eutanásia. Esta
prática era comum entre as pessoas mais pobres. A Eutanásia era utilizada para
doenças hoje do foro da normalidade e que são facilmente curadas, porém na
altura doenças letais. Nesses casos de doenças então letais, os mais
endinheirados desembolsavam fortunas para poderem ser tratados, ou para se lhes
poder aliviar o sofrimento. Já aos menos endinheirados era-lhes inevitavelmente
impingida a eutanásia, isto por não terem essa riqueza disponível.
Estes casos de não se poder ser tratado
residem na ausência dos cuidados paliativos. O estado Romano não investia
dinheiro para proporcionar a todos tratamentos que lhes aliviassem o sofrimento,
ou que até os tratassem. Aproximamo-nos em muito desse tempo.
Mais recentemente e muito mais tenebroso do
que na Roma antiga é o caso da Alemanha Nazi, o Terceiro Reich. Nele, a famosa
propaganda de Goebbels que promovendo o programa Tiergartenstrasse 4 ia convertendo a população alemã à
necessidade da prática da eutanásia àqueles que tinham doenças terminais ou
incuráveis ou até que fossem somente deficientes, chamando-lhes de «pesos para
o estado». Isto em troca de se conseguir tirar todas as famílias alemãs da
pobreza.
É indiscutível o utilitarismo na visão Nazi da
vida Humana e é também indiscutível a sua barbaridade, a propósito dessa mesma
visão.
Ora é esta mesma visão utilitarista da vida
que sucede nos dias de hoje, na qual por detrás de palavras bonitas como
“liberdade” e “escolha” se esconde a verdadeira visão e o verdadeiro objetivo.
A verdadeira visão é a visão já acima referida; a visão de que só uma vida útil
para a sociedade é que é uma vida com dignidade e o verdadeiro objetivo é o
objetivo de eliminar «os fardos» da sociedade.
A discussão a favor da eutanásia não gira em
torno de direitos, não gira em torno do muito evocado direito a morrer. A luta
contra eutanásia é assente em direitos, no direito à vida, no direito a ser
tratado, no direito aos cuidados paliativos e no direito a morrer acompanhado
com a dor aliviada, com amor à sua volta, a verdadeira morte digna.
A luta contra eutanásia, o não à eutanásia é o
sim à vida e à sua dignidade inviolável. É perceber que a eutanásia não acaba
com o sofrimento, a eutanásia acaba com a vida da pessoa. Dizer sim à
eutanásia, é cair na tentação do egoísmo social e por isso abdicar da nossa
sociedade humanista e da sua solidariedade inerente. A sociedade solidária foi
uma conquista enorme da época contemporânea, não a podemos negar, esquecendo-a
e contradizendo-a.
O que um doente terminal num sofrimento abismal precisa é de amor e de carinho, não é que lhe deem a escolher entre a sua morte e o sofrimento.
Manuel Maia e Simões
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