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domingo, 6 de setembro de 2020

Dons da natureza

Lembram-se? Alguns de nós estudamos três “reinos” na natureza: o mineral, o vegetal e o animal. Todos com um dom comum, mas, dentro de cada reino, observamos dons próprios.

O primeiro dom é o da existência, comum a todo o universo. Os minerais não possuem vida, mas existem e têm características que os distinguem. Por exemplo, a pedra-pomes é menos densa que o basalto, e o quartzo cristaliza no sistema hexagonal enquanto a pirite cristaliza no sistema cúbico. Os outros dois reinos já possuem algo muito superior: a vida. É costume chamar “alma”, a este dom, usando-se a palavra seguida de um adjetivo: alma vegetativa, alma animal e alma espiritual. O homem é o único animal que possui alma espiritual e, por isso, é considerado o rei da criação.    Diz-se que algo tem vida se pode alimentar-se, crescer e reproduzir-se; é o caso das plantas e animais. É evidente que a vida, ou alma, dos animais é mais rica; eles possuem instinto de sobrevivência: o próprio e o da espécie. Sobrevivem porque buscam alimento e se defendem dos perigos; mantêm a espécie ao reproduzir-se. Nas espécies superiores, como os mamíferos, a reprodução parece ultrapassar o mero instinto sexual, com manifestações de carinho pelas suas crias indefesas e carentes, contrariamente aos peixes que se reproduzem aos milhões e logo abandonam as “nuvens” de filhos ao seu destino. Por vezes, impressionados com tais comportamentos “afetivos”, mais comuns nos cães e cavalos, quase os consideramos inteligentes. É uma compreensão equivocada da sua natureza pois, falta-lhes a “criatividade” para serem inteligentes. Têm sensibilidade física (sentem fome e dor) e instintiva (medo e afeto), mas as colmeias, as teias de aranha, os formigueiros, os ninhos... seguem sempre o modelo da espécie, não o do indivíduo. Só encontramos criatividade no Homem, esse ser criado por Deus com dons superiores.

O Homem tem uma “alma espiritual” com três dons que o capacitam para igual número de fins. São eles: 1º) a inteligência para a verdade; 2º) a vontade para o bem; 3º) a liberdade para o amor. O homem não tem qualquer mérito por possuir estes dons, visto que lhe são dados pelo Criador do modo e na quantidade que entender, mas compete-lhe agradecê-los, desenvolvendo-os em si (mediante o estudo, a investigação, o pedido de conselho), e nos outros (filhos, alunos...) mediante o ensino e transmissão de experiência.

A inteligência enriquece-se com a humildade; ao descobrir os “segredos” da natureza, deve estar capaz de aceitar as suas leis e acreditar que “é assim que isto funciona”. A “inteligência humilde” faz-se acompanhar do segundo dom, a vontade, para oferecer a sua ciência e experiência à humanidade.

A vontade proporciona-nos domínio sobre os instintos e sentimentos para servir o bem. Pode ser desenvolvida como todos os dons, e educa-se com treino, exigência e obediência. Atrevo-me a sugerir, com “auto-controle” e sob a orientação de um educador experiente e compreensivo. Se o desportista necessita de um treinador conhecedor de anatomia e  psicologia, a pessoa necessita de um formador conhecedor das grandezas da alma e das limitações do corpo. Os pais são as pessoas naturalmente mais bem preparadas para iniciarem os filhos na educação da vontade, sobretudo se a sua união é fruto do terceiro dom: a liberdade.

O fim da liberdade é o amor. Se o homem se deixa enganar por mentiras, perde liberdade, pois não alcançará o seu objetivo. Se a sua vontade for frouxa,  será incapaz de superar as dificuldades e alcançar o bem. Mas sempre que o homem usa a inteligência para possuir a Verdade e a vontade para realizar o bem, torna-se num homem livre de ataduras e capaz para o Amor. É o conjunto dos três dons e dos seus três objetos que fazem de cada pessoa um Homem de bem. As coisas boas não são obrigatórias; fazem-se por amor, gratuitamente. E estas são as de maior valor, as que nos libertam do mal e do ódio e nos levam a esperar um mundo melhor.

Há muito mais a dizer. Fiquemos com o resumo do que ouvi hoje de pessoa amiga, e já acima foi referido. Repito-o aqui para facilitar a memorização: “Inteligência para a verdade; vontade para o bem; liberdade para o amor”.

Isabel Vasco Costa




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