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quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Dia Mundial do Migrante e do Refugiado 2020


O 106º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado -  DMMR 2020,  a ser celebrado no dia a 27 de setembro, continua o seu firme propósito de sensibilizar para as potencialidades e necessidades do fenómeno migratório. O Santo Padre pede em primeiro lugar à Igreja, Povo de Deus, e também a todos os cidadãos de boa vontade, que se deixem interpelar pelo tema e pelo drama dos deslocados internos, a partir do icone: Forçados, como Jesus Cristo, a fugir.

Desde de Maio de 2020, a Secção Migrantes e Refugiados lançou uma campanha multimédia em diferentes línguas, a fim de que fosse amplamente difundida,  a partir da palavra de Deus, do Magistério e de boas práticas, foi ilustrando que urge e é possível sonhar e construir um outro lugar, uma sociedade renovada. https://migrants-refugees.va/pt/dia-mundial-do-migrante-e-do-refugiado/-

A Mensagem Pontifícia foi sendo apresentada gradualmente em subtemas, que vale a pena guardar e certamente nos acompanharão ao longo deste ano pastoral: conhecer para compreender, aproximar-se para servir, escutar para reconciliar, partilhar para crescer, co-envolver para promover e colaborar para construir.

O itinerário assim proposto é um desafio pessoal, que atravessa a comunidade e visa alcançar os Estados-Nação, visa romper muros: nacionalismos populistas, leis restritivas e excludentes, xenofobia e racismo, medos, individualismos e indiferenças que atualmente se erguem e ameaçam o nosso futuro enquanto família humana e propõe uma pedagogia pastoral para construir pontes.

Aceitando inspirados pela Secção Migrantes e Refugiados – SMR, ao longo da Semana Nacional de Migrações a OCPM recolheu uma série de testemunhos que ilustram os pares de verbos acima enunciados, e convidou as diversas estruturas da Igreja e sociedade civil a participar com testemunhos locais. 

Aprendemos que apesar da realidade não ser nova para Portugal e para as estruturas da Igreja, existem formas de nos fazermos próximos, de servirmos, de partilharmos e colaboramos nesta pastoral das migrações.

O Dia Mundial do Migrante e Refugiado, não é uma meta mas antes um ponto de partida, para a tão ambicionada, sonhada e desejada conversão pastoral. Os deslocados internos interpelam-nos a construir pontes entre o Acolhimento e a Proteção, entre a Promoção e a Inclusão.

Assim deixo um apelo a reler ou conhecer a mensagem do Santo Padre para este dia, e reitero o convite do Santo Padre, para que na Eucaristia do dia 27 de setembro, convide a comunidade cristã a rezar e reflectir sobre este tópico, nomeadamente os deslocados internos em Moçambique, aqueles que foram forçados a fugir do Campo de Refugiados em Mória, pelos que fugiram da Venezuela... e tantos outros milhões de deslocados internos espalhados por esta nossa casa comum.


ELEMENTOS PARA A HOMILIA DO DIA MUNDIAL DO MIGRANTE E DO REFUGIADO - 27 DE SETEMBRO DE 2020

Reflexão bíblica

A Palavra de Deus que nos é oferecida na liturgia deste XXVI Domingo do Tempo Comum, Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, dedicado às milhões de pessoas deslocadas internamente no mundo, apresenta importantes elementos de reflexão para a caminhada dos cristãos num mundo caracterizado pela mobilidade humana. A principal sugestão da primeira leitura do Profeta Ezequiel é que não se pode avaliar as pessoas a partir de rótulos pré-estabelecidos, tais como: o ímpio é mau, enquanto o justo é bom. Estes são preconceitos dos quais nos devemos libertar pelo menos por dois motivos: primeiro, porque servem, por várias razões, para prender as pessoas em compartimentos estanques dos quais não conseguem sair; segundo, porque não admitem a possibilidade de um caminho de conversão. A realidade ensina-nos que aquele/a que é considerado justo pode cometer o mal e aquele/a que é considerado mau pode comportar-se corretamente e de acordo com a justiça. O que importa, por outras palavras, são as ações concretas da pessoa e não simplesmente as suas declarações, mesmo que ditadas por boas intenções. Ao mesmo tempo, não se deve esquecer que muitas vezes as declarações "positivas" são utilizadas de forma enganosa para esconder más intenções.

Esta sugestão é retomada pela parábola de Mateus na qual Jesus esclarece com alguns dos líderes de Israel quem é que realmente faz a vontade do Pai para lá das declarações iniciais. Não basta responder sim ao apelo do dono da vinha porque a justiça não é apenas um ideal, uma declaração de intenções, mas requer uma ação concreta, sinais tangíveis que mostrem que estamos verdadeiramente a trabalhar na vinha do Senhor. É precisamente por esta razão que não será uma surpresa descobrir que "os publicanos e as prostitutas", isto é, aqueles que são normalmente considerados maus e pecadores, "irão diante" dos chamados "justos" para o Reino dos Céus. Prestem atenção, portanto, aqueles que na sociedade e infelizmente também na Igreja tomam partido a favor dos migrantes, refugiados e deslocados internos, mas depois não deixam que às suas palavras se sigam ações práticas que reconheçam e promovam os direitos e a dignidade das pessoas que se deslocam. Acolher, proteger, promover e integrar os deslocados internos requer um processo de conversão missionária e pastoral que não se limite às declarações, mas que deve resultar num envolvimento efetivo do Povo de Deus com este grupo particular de migrantes.

Na passagem da carta de Paulo aos Filipenses há dois temas que devem ser destacados e que retomam e expandem o fio condutor da primeira leitura e do Evangelho: o primeiro é expresso na frase: "Sem olhar cada um aos seus próprios interesses, mas aos interesses dos outros". Aqueles que realmente se comprometem a trabalhar na vinha do Senhor com pessoas deslocadas internamente não podem simplesmente "meter-se na sua vida", uma característica infelizmente bastante difundida nas nossas sociedades onde o individualismo frequentemente prevalece. Procurar o interesse, o bem, dos outros define o cristão e realiza-se num dos seis pares de verbos que a mensagem do Papa Francisco nos dirigiu neste Dia Mundial do Migrante e do Refugiado: tornar-se próximo para servir as pessoas deslocadas internamente. Não devemos esquecer que a mesma mensagem observa que os verbos não são só ideias, palavras, mas "traduzem ações muito concretas"; o segundo tema refere-se a adquirir "os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus", o Filho que se aniquilou para assumir a condição de servo, para se tornar semelhante aos seres humanos... às pessoas deslocadas internamente. Não se pretende aqui apenas enfatizar a identificação de Jesus com a humanidade em geral, mas especialmente com os últimos, com os estrangeiros (ver Mt 25, 31-46). Quem, através de um caminho de conversão, adquire "os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus", já não pode olhar para os deslocados internos como pessoas a serem ajudadas e apoiadas, mas como companheiros na viagem da vida, como colaboradores e corresponsáveis pela construção do Reino de Deus, o que, como o Papa Francisco corretamente observa na sua mensagem, representa um "compromisso comum". Uma mensagem que nestes tempos incertos devido à COVID-19, mas ao mesmo tempo frutuosos para aqueles que têm "os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus", é conveniente proclamar em cada ocasião.

ELEMENTOS PARA A HOMILIA DO DIA MUNDIAL DO MIGRANTE E DO REFUGIADO - 27 DE SETEMBRO DE 2020

Reflexão pastoral

A mensagem cristã contida e manifestada na Palavra de Deus vai para além da simples dimensão da informação e torna-se fortemente performativa. A Palavra exorta à contemplação da obra de Deus e da sua presença especialmente nas periferias do ser humano e motiva para a ação, fazendo do cristão e da Igreja o lugar onde o Reino é construído.
Na esteira da reflexão bíblica, nascem três caminhos para o desenvolvimento da contemplação e da ação da Igreja: conhecer, converter-se e compartilhar.

Conhecer – Não é simplesmente uma questão de "dar" boas ou más notícias numa espécie de forma pendular, umas vezes oportunista e outras até ideológica. Trata-se de conhecer profundamente o rosto, a vida, a história, os medos, as dificuldades e as esperanças dos homens e mulheres que deixam as suas casas para se dirigirem para um lugar considerado mais seguro, mais próspero, mais promissor, para um futuro melhor, e por vezes simplesmente para um futuro... Muitas vezes os cristãos e as próprias comunidades são também vítimas de armadilhas comunicativas cheias de preconceitos, estereótipos, histórias negativas que geram alarmismos e até medo do outro migrante e refugiado. A complexidade do fenómeno migratório e das trajetórias de vida dos protagonistas são muitas vezes simplificadas através de rótulos ou definições.

O verdadeiro conhecimento vai para além da mera constatação e tolerância da existência do outro; é a verdadeira aceitação e reconciliação. A aceitação do outro e da alteridade é uma atitude primorosamente cristã, com óbvio fundamento teológico e bíblico, que visa dar espaço ao outro para "alargar a própria tenda" e partilhar o próprio espaço de vida com o outro. Esta atitude de abertura exige também o reconhecimento da alteridade no sentido de que o outro que está perante mim deve ser conhecido e reconhecido pelo que é na sua igual dignidade, cultura, particularidade e singularidade. Por esta razão, a simples constatação da diversidade está incompleta sem o processo de reconciliação, em primeiro lugar com a própria história e, ao mesmo tempo, com a história do outro. Uma identidade reconciliada já não percebe a alteridade como uma ameaça e, por esta razão, torna-se um presente, troca, gratuidade, oferta da própria originalidade e singularidade como riqueza preciosa, dando assim origem a um sentimento e uma atitude de confiança.

Antes de mais, precisamos de criar espaço nas nossas comunidades para as pessoas migrantes e refugiadas, para as suas famílias. A sua presença não é simplesmente enriquecedora, quase como uma adição, mas é constitutiva da própria igreja. Construir juntos a caminhada da comunidade respeitando as tradições culturais e as sensibilidades, mas partilhando juntos o percurso e o horizonte.

Converter-se – O migrante e o refugiado não são simplesmente a missão da Igreja, são antes de mais sujeitos da revelação de Deus; de forma reflexiva, porque o próprio Deus se tornou peregrino, migrante e estrangeiro para acompanhar a humanidade em cada um dos seus passos; de forma ativa, porque o migrante revela Deus e a Igreja.

A comparação da reflexão teológica e da práxis pastoral e missionária com o fenómeno das migrações põe mais claramente em evidência a necessidade de uma nova forma de ser e de conceber a própria comunidade cristã. A Igreja é entendida como uma comunidade que aprende e está continuamente aberta ao sopro do Espírito. Isto requer uma conversão pessoal e comunitária, uma atitude capaz de ultrapassar as próprias fronteiras, mesmo as ideologias exclusivistas, e estar atento ao outro, ao sinal dos tempos, em nome do Evangelho que partilhamos. Esta é uma aprendizagem requintadamente ecuménica, ou seja, a vontade e a capacidade de passar do próprio oikos para o oikoumene que abraça o mundo.

Continua a existir um forte risco de que a comunidade cristã reproduza dinâmicas e relações disfuncionais e conflituosas experimentadas por migrantes e refugiados na sociedade com elementos de preconceito e mesmo de discriminação, com o risco de manipulação ou atribuição de identidades. Por esta razão, a ação pastoral e a qualidade das relações no seio da comunidade cristã devem ser continuamente objeto de reflexão e de ações de prevenção e promoção. A comunidade cristã é chamada, em virtude da sua própria vocação, a ser uma escola de coexistência e comunhão.

Compartilhar – Compartilhar aqui significa ir para além da simples proclamação de propósitos, de boas intenções, de anúncios. Significa solidariedade com a vida e o destino do outro, porque o outro me pertence. A comunidade cristã sempre se deixou envolver pelos desafios humanos, antropológicos e sociais e sempre carregou o fardo do sofrimento, mas também as esperanças de homens e mulheres de diferentes épocas e culturas. Isto não certamente em nome de uma suposta superioridade, nem movida por pura curiosidade ou pelo desejo de fornecer respostas fáceis a perguntas complexas. Na raiz de tudo isto está antes de mais Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Todo o Evangelho é percorrido por elementos que realçam esta humanidade de Cristo expressa através do esforço, cansaço, emoção, lágrimas e sofrimento, relações, tudo o que faz dele uma autêntica pessoa humana. Da vida de Jesus nasce também a missão da Igreja, de estar em todo o mundo como seus discípulos para que a boa nova seja anunciada e, ao fazê-lo, abrir novas perspectivas para compreender a existência e a história, incluindo os acontecimentos mais dramáticos que acompanham o homem no seu percurso existencial.

A atividade pastoral respeita a singularidade e originalidade de cada pessoa. Por esta razão, é necessário personalizar e contextualizar a ação de modo a que a mensagem cristã não se dirija a um indivíduo genérico, mas sim àquele homem e mulher específico em migração, em fuga ou em busca, que vive dinâmicas pessoais, sociais e de fé específicas.

A comunidade cristã torna-se o lugar que alimenta a esperança e cura as feridas através da proximidade e do acompanhamento; é essa palavra inevitável de Jesus "Eu era um estrangeiro e vós me acolhestes" que se materializa como um imperativo evangélico e se transforma em solidariedade com o irmão e a irmã migrante.

PRECE DOS FIÉIS

Irmãs e Irmãos, oremos ao Pai do Céu por todos os migrantes e refugiados para que como família dos filhos de Deus, possam sentir-se amados, acolhidos e integrados…

1. Nos vos pedimos ó Pai, guarde e proteja o nosso Papa, os bispos, os presbíteros, diáconos, religiosos e religiosas, que continuam com a missão de cuidar do rebanho peregrino neste mundo, e pelos leigos, para que ponham seus dons a serviço da vida e evangelização. Oremos!

2. Nós vos pedimos ó Pai, cuidai de todos aqueles que cruzam as fronteiras, fugindo dos conflitos e vão em busca de uma vida melhor. Protegei-os de todos os perigos e formas de exploração física e psicológica a que poderão ser submetidos, e conduzi-os pelos caminhos seguros que vós preparastes para cada um deles. Oremos!

3. Olhai Senhor por todos os governantes dos países, iluminai-os e guiai-os em suas ações, para que implementem políticas migratórias que assegurem o respeito, a proteção e o cumprimento efetivo dos direitos humanos de todos dos migrantes, independentemente do seu estatuto migratório e vejam neles uma oportunidade de crescimento humano e social. Oremos!

4. Nós vos pedimos ó Pai, por todos os migrantes, refugiados, deslocados e vítimas do tráfico humano que vivem na pobreza e na marginalização. Para que possam ser atendidos pela oração e ajuda solidária de muitos irmãos. Oremos!

5. Conservai-nos ó Pai, obedientes, perseverantes e fiéis à vossa vontade, e dai-nos a coragem de denunciar as injustiças, as falsas leis que escravizam as pessoas, sobretudo migrantes e refugiados, para sermos fiéis ao vosso mandamento de amor escrito nos corações humanos. Oremos.

6. Ajudai-nos ó Deus, a olhar para as pessoas em situação de mobilidade não somente como migrantes, mas sobretudo como pessoas humanas, como nossos irmãos e irmãs que, na sua dignidade, podem contribuir para o bem-estar e o progresso de todos. Oremos!

7. Nós vos pedimos ó Pai, por todos os migrantes e refugiados que vivem entre nós, para que possam sentir-se acolhidos e irmanados em nosso meio e em nosso convívio e não desanimem na busca por moradia, saúde e trabalho digno. Oremos!

Oremos: Tornai-nos ativos, Pai, no campo da missão junto às pessoas em situação de mobilidade e, para que todos os homens vos conheçam, fazei-nos orar em espírito e verdade e dar testemunho da nossa fé em Jesus Cristo peregrino. Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.



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