Ser cristão é deixarmo-nos guiar, como filhos de Deus, pelo
Espírito da justiça nova praticada por Cristo, ao morrer inocente na Cruz,
carregando com os pecados do mundo inteiro. Mais do que refazer o frágil equilíbrio
dos pratos da balança, esta justiça revela-nos a largueza imensa do coração de
Deus, que nos ama a nós, pecadores, nos convida a aceitar esse amor, e nos oferece
a possibilidade de o vivermos e testemunharmos uns aos outros. A justiça da
Cruz manifesta-se, assim, como a fonte da comunhão e da paz entre todos nós.
2- O Evangelho do próximo Domingo é a parábola dos
trabalhadores que, tendo ido para a vinha a horas diferentes, todos recebem o
mesmo salário. A inveja dos que trabalharam desde manhã cedo e receberam o
mesmo salário daqueles que apenas trabalharam uma hora, logo se manifestou,
pois achavam-se no direito de receberem mais.
Reparemos na resposta que o patrão dá aos que murmuravam: Não
me será permitido fazer o que quero do que é meu? Ou serão maus os teus olhos
porque eu sou bom? Ter olhos maus, ver contra, está na raiz da palavra inveja.
A inveja é um veneno que mata o bom relacionamento entre as pessoas. Ao longo
de toda a Sagrada Escritura, vemos isto largamente documentado: Caim e Abel,
Isaac e Ismael, Esaú e Jacob, José e os irmãos, Saúl e David, os fariseus e
Jesus. A inveja mata, não dando lugar ao outro: Ou ele, ou eu! A
caridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo contrário, ensina-nos a ver e a
escutar o outro como irmão, e a trocar o “ou-ou” pelo catolicíssimo “e”.
A inveja é destruída quando o nosso olhar mau é sanado para vermos como Cristo
vê, apercebendo-nos da graça extraordinária que é termos sido chamados a
trabalhar na sua vinha. Este é um dom imenso, que nos devia encher de gratidão!
3- A vida cristã é um êxodo, é uma passagem do Egito para a
Terra Prometida, da escravidão para a liberdade, do egoísmo para a caridade, de
mim e dos meus conceitos para a realidade, tal como se apresenta. Esta
passagem, só pode fazê-la quem renunciar a si mesmo e tomar a sua cruz para
seguir o Senhor, o novo Moisés. Porque será que nesta parábola se refere que o
patrão saiu cinco vezes à procura de trabalhadores? Não será para nos
ensinar que só podemos ser cristãos saindo de nós mesmos, da nossa ociosidade
ou das nossas correrias, para trabalharmos na vinha do Senhor? Quantas vezes o
Papa Francisco nos convida a ser Igreja em saída, a sairmos para
anunciar o Evangelho! Este sair, este êxodo do Egito, é a nossa resposta ao
apelo do Senhor, que nos procura e chama.
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