Talvez, ao usar esta expressão “ganhar a vida”, estejamos a querer dizer “fazer pela vida”. Na realidade, não entramos em nenhuma competição, concurso ou lotaria para conseguir possuir a própria vida. A vida é um presente oferecido, primeiro por Deus, e depois por uma sucessão de casais. Claro que o conhecimento imediato que temos dos nossos progenitores é o do nosso pai e da nossa mãe mas, imediatamente acima, estão os nossos avós, bisavós, trisavós... até Adão e Eva. Nós próprios, pais, quando geramos uma nova vida, não conseguimos ter consciência do alcance desse ato de amor. Os nossos filhos, vão dar-nos netos, e bisnetos, e trinetos... até que o mundo acabe. Cada filho que geramos é um sulco que deixamos gravado na terra. É algo de bom que deixamos no mundo. É colaborar na manutenção do universo. Em cada vida que oferecemos (Deus e nós pais), estão presentes duas realidades: o corpo e a alma, ambos com um fim comum: ser felizes para sempre.
S. José, Nossa Senhora e Jesus formam os três a família que melhor compreendeu e viveu esse papel transcendente da família, parecendo que APENAS estavam a obedecer. Esta família tão humilde acabou por ajudar Deus (na pessoa de Jesus) a merecer a vida eterna para toda a humanidade, APENAS porque obedeciam em tudo e no momento certo.
José, como qualquer pessoa, “fez pela vida”. É curioso que usemos esta expressão, aplicando-a logo aos recém-nascidos: “está a fazer pela vida” significando que está a mamar. É o primeiro esforço, porque “fazer pela vida” supõe que a pessoa trabalhe e, portanto, que se canse, que transpire, que se magoe, que sofra humilhações, que se sujeite a exigências de horário nas empresas, a passar noites de vela nos hospitais, a sofrer ameaças nos jornais e tribunais, a fazer viagens frequentes por exigência das multinacionais, etc., etc., tudo para conseguir alimentar-se, ter uma casa e roupa para vestir, e responsabilizar-se pelo bem-estar da família.
Mas, afinal, qual a razão do título do artigo, “Ganhar a Vida”? A razão é importantíssima e admirável porque cada pessoa pode, e deve, individualmente (é de sua inteira responsabilidade), ganhar a vida eterna, a única vida que verdadeiramente interessa, precisamente por ser eterna, para sempre. Quer o corpo, quer a alma irão usufruir da eternidade. A nossa admiração é ainda maior porque cada pessoa, individualmente também, APENAS porque obedece (oração, mortificação, apostolado, esmola) ao que Deus ensinou, ajuda os outros a “Ganhar a Vida” eterna, mediante a comunhão dos santos.
Jesus é o único que nos “Ganhou a Vida”, mas necessita da nossa colaboração, pois nos criou livres. Ganhou-nos a felicidade eterna, que nos estava vedada pelo pecado original e que Ele conquistou pela sua Paixão e Morte na Cruz. E deu-nos a vida terrena, como Deus, ao criar o mundo, e no momento da conceção de cada pessoa.
Durante a Quaresma, temos a oportunidade de aprender com S. José a “Ganhar a Vida”, para nós e para os outros, quer sejamos solteiros, casados ou viúvos.
Isabel Vasco Costa
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