Era assim que começavam antigamente os contos para as crianças. Eu perdia-me com os contos que a minha avó me contava, todos inventados por ela. Era a ouvir esses contos que eu lá conseguia ir comendo. Sofria de um fastio terrível, e só mesmo, a poder de contos, é que ia engolindo alguma coisa. Hoje seria tratada de anorexia infantil, talvez até com um psicólogo. Mas nesse tempo não havia nada disso e a minha avó fez de médico, de psicólogo e, sobretudo de avó: contava-me histórias e assim afastava o pesadelo da tuberculose, ao mesmo tempo que semeava em mim o bichinho da leitura. Costumo dizer que eu já lia antes mesmo de saber ler.
Nunca esqueci o primeiro livro de contos que tive, quando aprendi a ler: chamava-se Os contos da tia Emília. Foi-me oferecido pelo meu padrinho. Esse livro fez grande sucesso na família, pois a minha avó chamava-se Emília. Li, reli, tornei a ler e a reler esse livrinho, pequenino, de folhas muito duras, mas a minha avó não ficou dispensada de me continuar a contar as suas histórias, até eu ser desterrada para o colégio interno.
A leitura é fundamental para os mais pequenos: estimula-lhes a imaginação, enriquece-lhes a linguagem. Mas também deve comunicar-lhes valores: sentimentos, como a amizade, o companheirismo, o amor pelos animais, pela natureza.
As crianças gostam e precisam que o livro as ajude a visualizar os momentos fulcrais da história. Daí a importância da imagem.
Mesmo já sabendo ler, não têm ainda capacidade de abstração e, não sabendo ler, ouvindo contar a história, vão-na seguindo através das imagens. No entanto, a imagem, na minha opinião, não deve sobrepor-se ao texto.
A 2 de abril celebra-se o Dia Internacional do Livro Infantil, criado por iniciativa do Conselho Internacional sobre Literatura para os jovens (IBBY), representada em Portugal pela Associação Portuguesa para a Promoção do Livro Infantil e Juvenil (APPLIJ).
Esta comemoração teve a intenção de homenagear o escritor dinamarquês Hans Christian Andersen, cujo aniversário de nascimento é assinalado a 2 de abril.
Cecília Rezende
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