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quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Passou o Natal

Passou o Natal. Ou melhor: a época natalícia. Apagaram-se as luzes, o Pai Natal regressou à Lapónia, a calma voltou à cidade.  Já não se vêem as pessoas carregadas de embrulhos ou os embrulhos a carregar pessoas. Voltou a rotina dos dias.

E o que ficou?

Para muitos nada. Para o ano será o mesmo.

Festeja-se o quê no Natal?

Festeja-se o nascimento de um Menino, nascido numa manjedoura, aquecido pelo calor dos animais que lá se encontravam. Mas este Menino veio fazer a maior das revoluções.

Não uma revolução armada, como esperavam, no início, os seus discípulos, mas uma revolução social.

Veio apenas dizer isto: amai-vos uns aos outros.

Situemo-nos historicamente: há pouco mais de 2000 anos, o Império Romano estava no seu apogeu. À cabeça desse império imenso estava o imperador, considerado deus, a quem era obrigatório prestar culto, incensando-o. A ordem e a paz romana repousavam sobre uma imensidão de escravos, considerados não pessoas, mas coisas, propriedade dos grandes senhores, que tinham direito de vida e de morte sobre eles. Amar os escravos? Sim. Tratá-los como irmãos, porque todos eram irmãos, perante Deus. Isto, para nós, hoje, parece-nos evidente, mas há 2000 anos, era altamente revolucionário e minava os alicerces do Império Romano. Perdoar as ofensas? A própria lei judaica não conhecia a ideia de misericórdia. O castigo impunha-se sempre que havia pecado. A morte era o castigo, quando não se obedecia às normas da religião judaica, à Lei. Todos conhecemos o episódio da mulher adúltera e a forma como Jesus resolveu. A ideia de perdão é tão estranha que um jovem judeu, observador da Lei, perguntou a Jesus quantas vezes devia perdoar a seu irmão: sete vezes?! Não sete, mas setenta vezes sete, respondeu Jesus. Isto é, sempre, sem limite.

Nas grandes cidades, o Natal é sinónimo de grande movimento nas ruas, nas lojas, uma azáfama de compras, de música, de grandes iluminações. Perdeu-se o verdadeiro sentido de Natal. É verdade. Mas podemos descobri-lo nesta confusão. As luzes, por exemplo. Podemos ver nelas, nas luzes da árvores, do prédios, das ruas, o símbolo da Luz que Jesus veio trazer ao mundo. Acho lindíssimas as árvores de Natal. Não sei se é verdade a história da sua criação, mas é bonita. Conta-se que Lutero, por alturas do Natal, ao atravessar uma floresta, a caminho de casa, reparou nas estrelas que brilhavam por entre a copa das árvores. Então, arrancou uma árvore, levou-a para casa e simulou o brilho das estrelas com velas, para festejar o Natal com os filhos. O hábito espalhou-se pela Alemanha. No final do século XIX, o príncipe Alberto, marido da Rainha Vitória, que era alemão e portanto conhecia a tradição, introduziu a Árvore de Natal no Palácio. Daí foi passando para o resto do mundo.

Mas a beleza da Árvore de Natal não me faz esquecer a ternura do Presépio. Foi Francisco de Assis que fez o primeiro. E condiz com o espírito franciscano: simples, humilde. Está lá tudo o que os evangelhos nos contam: um estábulo com uma criança recém-nascida, velada pelo pai e pela mãe, aquecida pelo calor dos animais. Os evangelhos não referem a vaca e o burro, mas calculo eu, São Francisco não deixaria de lá colocar esses nossos dois irmãos. Depois há os pastores, que andariam ali por perto, a quem o anjo anunciou a chegada do Redentor. Depois, há os Reis Magos, que vieram de longe, guiados por uma estrela, com presentes magníficos: incenso porque é Deus, ouro porque é Rei, embora o Seu Reino não seja deste mundo, e mirra porque é homem com a condição de mortal.

Cecília Rezende



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