É verdade. Esqueci-me de agradecer a algumas pessoas, as inúmeras vezes que me ajudaram ao longo da vida. Talvez porque, algumas vezes, nem dessa ajuda tão silenciosa e despercebida terei tomado conhecimento. Há alguns dias recordei uma frase que um sacerdote alguma vez referiu: “Amigas são as pessoas que se encontram perto de nós nos maus momentos”. Pensei ainda nos anjos e nos santos. Quantos estarão perto de nós e nem sequer damos por isso. Rezam por nós, ouvem-nos, ajudam-nos. E nós nada, em silêncio profundo, nem sequer um agradecimento. Por mim própria falo. Aceitamos tudo como um dado adquirido, como se fosse sua obrigação. E uma e outra vez esquecemo-nos de agradecer, de referir o quão gratos e reconhecidos nos encontramos por tudo o que fizeram por nós.
Pois é, encontramo-nos na reta final do ano. Ao fazer uma retrospetiva, apercebemo-nos das nossas faltas. Ainda nos encontramos a tempo de corrigir, neste caso de expressar a nossa enorme gratidão pelas pessoas que nos acompanharam em silêncio, sem um queixume, sem uma palavra amarga, mas sim, procurando recriar a esperança no futuro, na construção de novos projetos de vida, se for esse o caso, na orientação familiar e espiritual, que cada vez se reveste de uma importância maior, face aos novos estilos de vida que muita vezes nos confundem e desorientam, tornando-se necessário a opinião de alguém em quem reconhecemos conhecimentos, critérios e competências inequívocas.
Dominus Deus, Deus Meus. Aproxima-se tão rapidamente o novo ano, o dia 1 de Janeiro de 2018, o 51ª Dia Mundial da Paz, subordinado ao tema: “Migrantes e Refugiados: Homens e Mulheres em Busca de Paz”. Na sua mensagem para este dia o Santo Padre refere: “A sabedoria da fé nutre um olhar contemplativo, capaz de intuir que todos pertencemos a uma só família, migrantes e populações locais que os recebem, e todos têm o mesmo direito de usufruir dos bens da terra, cujo destino é universal… Precisamos de lançar também sobre a cidade onde vivemos este olhar contemplativo… promovendo a solidariedade, a fraternidade, o desejo de bem, de verdade, de justiça, por outras palavras, realizando a promessa de paz. Quem estiver animado por este olhar será capaz de reconhecer os rebentos da paz que já estão a despontar, e cuidará do seu crescimento. Transformará em canteiros de paz, as nossas cidades frequentemente divididas e polarizadas por conflitos… São João Paulo II, referiu: Se o “sonho” de um mundo em paz é partilhado por tantas pessoas… a humanidade pode tornar-se sempre mais família de todos e a nossa terra uma real “casa comum”.
Por coincidência, fui tomar café com uma amiga residente no estrangeiro há largos anos. Como habitualmente deslocou-se a Portugal nesta época natalícia, como tantos migrantes, para passar a consoada em Família. Fazendo um “ponto de situação” sobre o modo como tinha decorrido o tempo desde a última vez que nos vimos, falou com entusiasmo e um brilho nos olhos de todo o seu trabalho com crianças, no seu país de acolhimento onde já se encontra devidamente integrada. Ainda com entusiasmo, deu ênfase, a que a sua filha, que agora estuda medicina no Reino Unido, tinha feito voluntariado com crianças carenciadas no Vietnam, ensinando-lhes a língua inglesa. E a conversa continuou… A certa altura, referi que se notava na sua família um enorme amor pelas crianças e pelo voluntariado. A minha amiga entendeu ainda contar uma outra situação familiar que muito me sensibilizou.
Uma prima, também com formação em medicina, desenvolveu a sua atividade, durante algum tempo, num hospital em África. Nesse hospital encontrava-se abandonada uma menina com vários problemas de saúde, por quem se afeiçoou. Sabendo do futuro pouco promissor que a aguardava, desenvolveu todas as diligências necessárias, com o aval do marido, para a adotarem e trazerem-na para Portugal no sentido de a integrar na sua família, promovendo a sua recuperação ao nível da saúde e cuidar da sua educação. Este processo de adoção seria longo. Contudo, viria a ser aprovado. Foi com enorme agrado que visualizei as fotografias da menina já em Lisboa, em franca recuperação, com um ar de alegria e de felicidade, integrada numa família que a acolheu e a apoiou de braços abertos. Quanto bem esta família está a fazer! E quantas pessoas de boa vontade poderiam seguir este exemplo e ajudar crianças sem família por esse mundo fora.
Despedi-me da minha amiga um pouco pensativa. Era tão bom ter exemplos reais positivos. E há tantos! A toda a hora e a todo o momento a nossa ajuda é necessária. Prova disso, foi que ao regressar a casa, deparei-me com um senhor idoso estendido no chão. Tinha tropeçado e caído. Não cheguei a ver a queda. O que vi é que tinha um golpe com alguma profundidade na cabeça e que sangrava. Chamei de imediato o 112. Algumas pessoas ajudaram colocando uma compressa para estancar sangue. Fui respondendo, conforme podia, às questões que me colocaram da emergência médica. Enquanto aguardávamos a chegada da ambulância, perguntei-lhe se queria que avisasse alguém. Referiu que não: a mulher não tinha condições físicas e de saúde para o ajudar. Não tinha mais ninguém segundo ele. Condoída perguntei-lhe se queria que o acompanhasse, ou em alternativa que o fosse buscar ao hospital. Disse que não, não seria preciso, no regresso viria de táxi. Ainda bem que estava lúcido, também não me parecia que tivesse algum traumatismo craniano. Face a este contexto, ocorreu-me dizer-lhe: “O senhor tem muita força, é auto-suficiente. Tem juventude acumulada”. Sorriu, mas senti nele um ar preocupado. Acrescentei ainda: “Deus e o seu anjo da guarda vão ajudá-lo”. Respondeu: “Só Deus me pode ajudar. É preciso manter a esperança”. Pensei comigo, é uma pessoa forte, com fé. Entretanto, a ambulância chegou e partiu levando o senhor que não queria mais qualquer ajuda. De qualquer modo, estava encaminhado e apoiado pelo pessoal de saúde. De regresso a casa, enquanto caminhava, pensei que podemos sempre ajudar mais, com a oração. Foi o que fiz pedindo a intercessão de Maria, Rainha da Família e da Paz.
Concluo, recordando uma citação da Epístola aos Hebreus: “Não vos esqueçais da hospitalidade pois, graças a ela, alguns sem o saberem, hospedaram anjos”. Também, tendo a humildade de pedir desculpa, por algumas vezes nos esquecermos, de agradecer todo o bem que nos fazem.
Maria Helena Paes |
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