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quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Não parece mas ainda somos livres

Ainda que os nossos governantes manipulem o vocabulário e haja programas na escola de transmissão de ideias perversas, nos nossos lares pode haver paz e diálogo construtivo, podemos ser a Mãe, o Pai.

Sempre tive sexo, mas agora dizem que tenho género, e em vez de mãe agora sou progenitora. Apesar da minha idade ainda posso ter filhos, mas seria uma gravidez de risco, por isso o estado dá-me “o direito” de matar o meu filho, desde que ainda esteja nas primeiras 12 semanas de gestação. O meu Pai com a sua provecta idade era um velho, mas agora é um idoso e o Estado, para o ajudar, equaciona dar-lhe “o direito” de ser morto se quiser, não havendo lugar a crime algum.

Um dia serei avó (ainda é permitido). Mas o Estado equaciona dar aos meus netos “o direito” a passarem a netas aos 16 anos e vice-versa, mesmo que os seus pais se oponham.

No meu país proliferam os noticiários, os jornais impressos e online, com notícias das mais diversas, mas que infelizmente nem sempre informam e muitas vezes até desinformam. Por exemplo, fomos bombardeados com notícias de manifestações violentas na Palestina, quanto à decisão do Sr. Trump de implementar o que já estava decidido desde 1995 – refiro-me claro à mudança da Embaixada americana para Jerusalém. Mas não nos dizem que no Médio Oriente existem movimentos promotores da paz. Estas notícias não passam. O movimento “Women Wage Peace” reúne desde 2014 milhares de mulheres de direita, centro e esquerda, judias e árabes, religiosas e laicas, todas unidas para exigir um entendimento político que promova a paz no Médio Oriente. Pena não nos darem esta notícia!

Dantes fazia-se caridade expressa na ajuda ao próximo, hoje gerem-se IPSS’s. Mas gerir uma IPSS é também uma forma de fazer caridade. É empenhamos-nos no serviço aos outros. Seria bom que a sede de dar notícias bombásticas não nos afastasse do bem. E não nos digam que o Estado devia tomar conta dos projectos constituídos numa IPSS. O Estado, só com um pezinho na Raríssimas, já fez tanto estrago que vale a pena reservar-lhe apenas o seu papel de apoio e auditoria, desejando que o faça com seriedade.

Quanto às IPSS, são como tudo na vida, sujeitas à pressão do poder e do dinheiro. Mas na sua maioria promovem o bem dos outros e fazem um trabalho valiosíssimo, e isso não pode ficar ofuscado por uma nódoa qualquer por muito feia que seja.

Esta é a sociedade em que vivo. Este é o país e o mundo que temos vindo a construir.

Tenho procurado cada vez mais olhar a realidade e percebe-la sem dramatizar, sem ser um velho do Restelo (ou idoso do Restelo).

Acredito que a base da sociedade é a família, com um papel insubstituível na formação das crianças e jovens que serão um dia os construtores do nosso país e do mundo. Ainda que os nossos governantes manipulem o vocabulário, que haja programas na escola de transmissão de ideias perversas, que a televisão difunda modelos de vida e de relacionamento entre pessoas, que aparentam felicidade mas que na realidade são modelos destrutivos, que nos massacrem com notícias de guerras e de terroristas, que nos façam crer que nada vale a pena porque tudo acaba em corrupção, nos nossos lares pode haver paz, podemos ser a Mãe, o Pai. A nossa casa pode e deve ser o lugar da família, do diálogo construtivo e educativo.

Os Pais podem e devem canalizar o seu tempo livre para ler, em fontes fidedignas, sobre educação, sobre amor humano, sobre verdade, entrega, fidelidade.

Os Pais podem fazer das refeições em família lugar privilegiado para ouvir os filhos e desenvolver o seu espírito crítico. Podem abandonar os vícios da televisão, telemóvel ou consola de jogos e conquistar esse tempo para descansar, ouvir e intervir.

Os Pais podem descobrir que uma família um pouco maior é lugar de maior riqueza, apesar de ter recursos mais exíguos, de aprendizagem experimental sobre abdicar pelo outro, partilhar, conter a vontade. Que uma família maior é mais divertida e os problemas ganham normalmente a dimensão adequada porque é necessário o exercício de relativizar.

Uma família é o lugar da liberdade, e é em liberdade que fazemos escolhas responsáveis, que percebemos que cada um é muito importante e faz a diferença na família, na comunidade a que pertence e na sociedade.

Propus-me a mim própria não desistir de acreditar que é sempre tempo de fazer melhor a partir do momento presente. Conto à partida com a família onde nasci e a família que criei, que é a minha riqueza. Sugiro que cada um de nós construa com a mesma confiança e liberdade a sua “riqueza”.

Estamos em Dezembro quase a festejar o nascimento de Jesus. Na sociedade em que vivo é cada vez mais difícil saber o que vamos festejar no dia 25 porque mais uma vez o que nos invade a casa e as ruas são convites ao consumo e ao egoísmo. O Natal não é nada disso mas graças a Deus, em família, ainda podemos decidir festejar o nascimento de Jesus lembrando-nos que veio ao mundo para o transformar através dos nossos corações.

Um Santo Natal para todos nós.

Rita Fontoura



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