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quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Noivos rebeldes

Que os jovens são rebeldes e gostam de chamar a atenção comportando-se, não é novidade, mas confesso que o convite de casamento, por “mail” (ainda por cima!), me apanhou de surpresa. Foi ainda surpreendida que usei o “Face Time” (o telefonema não permitiria manifestar a minha tão profunda surpresa) para falar com Zenão:

-“Então o menino vai casar já? E no dia 1 de Novembro!? No mês dos mortos?! Menos um dia e casavam num mês decente, francamente!”- mal sabia eu que esta era a primeira gota de uma chuva de surpresas.

“É isso mesmo, tia. Sabe, os tios são das poucas pessoas que convidamos. Mas olhe que sabemos muito bem o que queremos: casar bem, como Deus quer; e cedo para podermos ter muitos filhos. Não será um casamento de estadão porque o importante é o sacramento. Além disso, estamos a poupar para arranjar a casa. Tapetes, não. A Camila e eu pensámos que os nossos filhos devem brincar à vontade e os tapetes são difíceis de limpar. Sabe, temos amigos que  começaram a viver juntos porque “os outros não têm nada a ver com a nossa vida”, diziam, mas nós queremos continuar unidos aos nossos pais, irmãos e amigos e partilhar com eles a nossa vida e os nossos projectos. Achamos que têm tudo a ver connosco, que vão continuar a ser testemunhas de defesa da nossa vida, não jornalistas à busca de más notícias. Esperamos ajudá-los como nos ajudaram a nós e que nos continuemos a ajudar como é normal nas famílias. E isto, “até que a morte nos separe”. Foi essa a razão que nos levou a escolher o mês de Novembro para casarmos, para nos lembrarmos, pelo menos uma vez por ano, de que desejamos ser fiéis um ao outro. Sabemos que vai ser difícil, com incómodos, doenças, etc., como convém para iniciar aventuras; foi assim que surgiu a escolha do dia um, dia de todos os santos. Queremos ser como todos os santos, não como alguns santos. Não nos estamos a ver mártires como S. Sebastião, nem a pregar para multidões como Stº António. Mas se morrermos mártires será como muitos outros, de modo anónimo como os cristãos do Líbano, Sudão, Rússia, México... E se pregarmos, será apenas para ensinar o catecismo aos nossos filhos, sobrinhos, amigos...”

A minha surpresa aumentava a cada palavra e a cada expressão que o “Face Time” me transmitia do meu sobrinho. Sentia-me feliz por me contar no número das suas “testemunhas de defesa” e ansiava por esse dia em que lhe iria dar um abraço e passar a tratar Camila por sobrinha. 

O episódio recordou-me o que se passara com outra noiva rebelde amiga de minha avó. Nesse tempo, o noivo recebia a noiva à porta da igreja e já subia de braço dado com ela até ao altar. Foi durante esse trajecto que lhe sussurrou ao ouvido: “É a última vez que entras numa igreja”. Mas não foi. Chegado o momento, não aceitou N. como seu marido, dando a explicação do que acabara de ouvir.

Creio que todos já nos cruzámos alguma vez com noivos rebeldes. Poderia mencionar mais uns dois casos, mas o artigo já vai longo. No entanto, não resisto a revelar qual foi o presente de casamento que Zenão  sugeriu para mim. Julguei que me pediria um electrodoméstico. “Não, tia, obrigado. A Camila e eu achamos que os presentes de casamento devem ser peças com história, não utensílios que se vão gastar e ser substituídos por outros novos. Por isso, estamos a pedir aos pais e avós que nos deem  recordações de família como quadros, toalhas bordadas, loiças, álbuns de fotografias... Desejamos não ter tudo, passar alguns incómodos para não estragar os nossos filhos com mimos, mas há uma coisa que gostaríamos de ter com alguma urgência: um Presépio. Podemos fazer um de papel até podermos adquirir um bonito, mas não dispensamos um Presépio na nossa casa para o primeiro Natal que vamos passar juntos. Se os tios nos quiserem oferecer um já definitivo...”.

Isabel Vasco Costa



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