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terça-feira, 5 de setembro de 2017

A Auréola

Encontro-me numa encruzilhada. As coisas parecem não fazer sentido, ou será que me encontro cansada? O futuro parece ter perdido o brilho, a auréola que me impele a lutar todos os dias da minha vida parece que se extingue. Sinto, como se o caminhar sobre o tapete da incerteza, que diariamente exige algo mais de nós, me tivesse esgotado. Não me reconheço de todo. Tanta luta, tantos esforços desenvolvidos. Que resultados obtive? Por mais esforços que envide, por mais positiva que seja, a realidade é que são lentos e tardios os resultados a alcançar. Será que ainda vou conseguir visualizá-los atempadamente? 

Há já algum tempo, li um livro em que o autor referia, que se deviam traçar metas e objetivos. Se não os alcançasse em tempo útil, deveria mudar de estratégia. Bem, tudo é questionável. Na altura mudei de estratégia e nada aconteceu. Não tinha que ser. Às vezes falta-nos a virtude da humildade para aceitar o que não é exequível. Pura e simplesmente não tinha que acontecer. Nem sequer mudando de estratégia. Pois é, também li um artigo em que o seu autor referia que uma vez por semana, deveria tirar duas horas para meditar acompanhado por um bloco e lápis, para tomar notas, para pensar no que estava certo e se era necessário alterar o seu percurso de vida. Assim seria possível corrigir os erros em tempo útil. Na realidade, é bom tirar um tempo para pensar, ainda que às vezes as situações com as quais nos confrontamos, nos ultrapassem. Cada caso é um caso, tornando-se assim difícil generalizar.

Também ouvi referir que se deve viver um dia de cada vez. Não sabemos se o dia de amanhã chegará. O de ontem já passou com tudo o que tenhamos feito de bem ou de mal. Se foi de mal é chegado o tempo de corrigir e seguir em frente. Tudo tem solução. Ou seja há conselhos, opiniões mais ou menos válidas para cada situação. O meu fio condutor diz que devemos agir em consciência, pois somos responsáveis pelas nossas atitudes. Que cada dia que passa torna-se necessário envidar novos esforços. É preciso ver Deus nos acontecimentos. Olho em frente tentando perspetivar o futuro, ter certezas… De Santo Agostinho é a frase: “Tarde Te amei, beleza tão antiga e tão nova”. Do recôndito do meu coração, parece-me ouvir que só há uma certeza. Que um dia chegará a minha hora e partirei ao encontro de Deus e da Vida Eterna. Essa é verdadeiramente, uma realidade incontestável. O melhor mesmo é estarmos preparados para esse momento, dado que não sabemos qual será o dia e a hora. Santo Agostinho disse uma frase muito bela: “Criaste-nos Senhor para Ti e o nosso coração está inquieto enquanto não repousar em Ti”. E enquanto aqui estivermos, lutaremos por merecer e consequentemente, poder um dia vir a alcançar o Céu. S. Josemaria in a Forja, também referiu: “para um filho de Deus, cada jornada tem que ser uma ocasião de renovar-se, na certeza que, ajudado pela graça, chegará ao termo do caminho que é o Amor”.

Hoje fui tomar café com umas amigas. Foi mesmo muito agradável. Cada uma tinha um contributo ou experiência vivenciada sobre o tema em debate, que surgia espontaneamente no decorrer da conversa, relativo às preocupações do dia-a-dia que mais nos inquietavam. A certa altura abordou-se a importância da alegria, do modo como contribuía positivamente através da desdramatização, para a resolução de muitas situações. Nada surge por acaso. Recentemente tinha falado sobre este tema com uma outra amiga. Mais precisamente sobre o temperamento versus a serenidade e a alegria. Só com perseverança se alcança a serenidade, no sentido de nos tornarmos semeadores de paz e de alegria. Para Deus o que tem mais valor são as pessoas. Para O amar, torna-se necessário amar o próximo. S. Josemaria in Sulco, 856, sobre este tema, escreveu: “Se por teres o olhar fixo em Deus souberes manter-te sereno no meio das preocupações, se aprenderes a esquecer as ninharias, os rancores e as invejas, pouparás muitas energias, que te fazem falta para trabalhar com eficácia…

Terminámos o nosso café, comentando quão importante tinha sido este momento de partilha de experiências e conhecimentos. Podíamos não ter resolvido os assuntos, mas possuíamos novas ideias que nos poderiam vir a ser úteis. Também tinha constituído um momento de socialização extremamente agradável. O futuro apresentava-se agora mais risonho, o cansaço persistia mas já tinha conhecimento da sua origem, ou seja, era psicossomático. O tempo e a terapêutica prescrita irão ajudar a resolver a situação em causa. A auréola voltou a brilhar e tudo já faz mais sentido, o sentido que viver a vida acarreta.

Maria Helena Paes



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