Páginas

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Serpa acolhe, com o Festival Terras sem Sombra, a primeira ópera produzida e construída no Baixo Alentejo | Estreia europeia de «Onheama», de João Guilherme Ripper

Estreia europeia de Onheama, de Joao Guilherme Ripper 

Guaraci, o Sol da mitologia amazonica, em cortica Serpa acolhe, com o Festival Terras sem Sombra, a primeira opera produzida e construida no Ba
                                                          

Estreia europeia de Onheama, de João Guilherme Ripper

easyspacer.gif

imagem
Guaraci, o Sol da mitologia amazónica, em cortiça

Serpa acolhe, com o Festival Terras sem Sombra, a primeira ópera produzida e construída no Baixo Alentejo

O Festival Terras sem Sombra valoriza os recursos naturais e dá a conhecer um território que sobressai pelos valores ambientais, culturais e paisagísticos e que apresenta, em termos patrimoniais, tanto do lado da cultura como da biodiversidade, um dos melhores índices de preservação da Europa. Nesta comunhão de valores, introduz no seu programa para 2016 – o ano em que celebra a 12.ª edição – uma ópera infanto-juvenil com uma mensagem ecológica, tendo como pano de fundo a temática amazónica, mas remetendo para uma perspectiva mais alargada, pois os problemas que afectam a natureza não conhecem fronteiras. Onheama, a famosa ópera em três actos de João Guilherme Ripper, sobe à cena no Teatro Municipal, em Serpa, a 21 e 22 de Maio, às 21h30 e 16h00, respectivamente, com entrada livre, sujeita à lotação desta sala.

Inspirada no poema A Infância de Um Guerreiro, de Max Carphentier, Onheama significa eclipse em língua tupi. A mitologia dos povos indígenas de algumas das principais regiões da Amazónia interpreta o eclipse como a acção maléfica de Xivi, a terrível onça celeste, que devora Guaraci, o Sol, e, insaciável no seu afã consumidor, sai depois à caça das estrelas e de Jaci, a Lua. No dia em que Xivi conseguir engolir tudo o que reluz no céu e saciar a sua fome tremenda, o mundo acabará. Somente um guerreiro corajoso e de coração puro como Iporangaba poderá salvar a Amazónia e o planeta (que dela depende) do terrível monstro. Por fim, triunfa a luz; triunfa, afinal, a própria vida.

A peça de João Guilherme Ripper, um dos mais importantes autores musicais brasileiros dos nossos dias – compositor, director de orquestra, professor e presidente da Fundação Teatro Municipal do Rio de Janeiro –, estreou em 2014, no Festival Amazonas, de Manaus, com grande êxito, e foi reposta no ano seguinte, atingindo, de novo, enorme sucesso. Faz já parte da história do célebre Teatro Amazonas, a “casa da ópera” em Manaus, mas nunca foi apresentada na Europa, o que é uma lacuna digna de nota.

Trata-se de uma ópera dos nossos dias, com um alcance sociológico notável, ao integrar o público infanto-juvenil entre os possíveis espectadores – e, evidentemente, ao promover a criação de novos públicos. A parceria na realização do espectáculo com o Teatro Nacional de São Carlos e o Município de Serpa sublinha ainda mais o repto desta aventura musical, que conta com o envolvimento da comunidade artística e educativa local, com destaque para o Grupo de Teatro da Escola Secundária de Serpa, (En)cena, e a escultora Margarida de Araújo. A cidade da margem esquerda do Guadiana abre as portas do seu teatro – o que trouxe nova vida a este espaço, que aguardava por melhores dias – a uma experiência, no mínimo, surpreendente.

Mas a presente aventura estende-se também à construção local de toda a ópera, cuja encenação é da responsabilidade de um dramaturgo argentino que trabalha em Portugal, Claudio Hochmann. A cenografia e os figurinos devem-se a Miguel Costa Cabral que, tal como os outros produtores, tem vivido nos últimos meses em Serpa. A coreografia foi concebida pelo criador cubano Yonel Castilla, também muito activo no meio artístico português. Os figurinos são elaborados pelaOficina do Traje, uma academia sénior que já produziu os trajes para o corso histórico e etnográfico da cidade. Quanto aos cenários e adereços, serão construídos nas oficinas da Câmara Municipal e em pequenas empresas da região.

Entre os protagonistas, mais de centena e meia de pessoas, incluindo dispositivos do Coro do Teatro Nacional de São Carlos, do Coro Juvenil do Instituto Gregoriano de Lisboa e da Orquestra Sinfónica Portuguesa, a que se juntam crianças e jovens das escolas de Serpa. A direcção musical corre a cargo do reputado maestro brasileiro Marcelo de Jesus e o elenco dos solistas reúne algumas vozes de referência da cena operática do nosso país: Carla Caramujo, Inês Simões, Marco Alves dos Santos, Nuno Pereira e Carolina Andrade.

A incorporação dos produtos locais constitui outra das prioridades do Festival Terras sem Sombra. No caso de Onheama, tudo gira em torno do sobreiro, a árvore nacional portuguesa, e da cortiça, visto o montado constituir uma das principais riquezas do Baixo Alentejo. De cortiça são o Sol e a Lua que presidem a momentos-chave da acção dramática; e a mesma matéria-prima, aclimatada a outras geografias e a outros contextos culturais, encontra-se presente em toda a cenografia, o que é uma forma de a universalizar. O seu potencial plástico, aliás, não deixou de surpreender os artistas convidados pelo Festival.

Serpa, localidade emblemática da Margem Esquerda do Guadiana, recebe com alvoroço a iniciativa. Das associações locais à Santa Casa da Misericórdia, passando pelas empresas e pelas famílias, as “forças vivas” do concelho movimentam-se. Entretanto, enquanto se aguarda a sua apresentação no Alentejo, a ópera “brasileiro-alentejana” parece fadada a nascer com boa estrela: algumas dezenas de melómanos estrangeiros já reservaram alojamento na zona e jornalistas de alguns dos principais meios de comunicação social de Brasil, Espanha e Itália solicitaram acreditações. Mas a melhor notícia é o interesse demonstrado pelos Teatros del Canal, de Madrid, e pela Ópera de Bilbau em poderem vir a acolher esta produção de Onheama, após a sua estreia europeia em Serpa, nos respectivos palcos.

 

Salvaguardar a biodiversidade no Parque Natural do Vale do Guadiana – a Serra de Serpa, o microclima de Limas e o acidente geológico do Pulo do Lobo

easyspacer.gif

Do imaginário universal da Amazónia parte-se, na manhã de domingo, dia 22, para uma acção de salvaguarda da biodiversidade dirigida à Serra de Serpa, ao microclima de Limas e ao acidente geológico do Pulo do Lobo, no Parque Natural do Vale do Guadiana. São duas as metas fundamentais desta iniciativa do Terras sem Sombra, em colaboração com o Instituto de Conservação da Natureza, o Município de Serpa, o Laboratório Nacional de Energia e Geologia e o Comité IGCP Geociências da UNESCO: a interpretação geomorfológica dos locais visitados e a busca de vestígios milenares da presença humana gravados na rocha e de crustáceos contemporâneos dos dinossauros.

O Guadiana ganha outro vigor ao atingir o Pulo do Lobo. Aqui, inicia a escavação do seu leito primitivo e forma uma garganta escarpada de cerca de 20 m de altura que acompanha o curso fluvial até à proximidade de Mértola. Precipitando-se num turbilhão com mais de 16 m de altura sobre o Pego do Sável, molda os quartzitos, formando as características “marmitas de gigante”. Depois, avança ao longo de 4 km pelo vale encaixado da corredora. Ao constituir um obstáculo natural à progressão para montante dos peixes migradores que sobem o rio para desovar, o pego torna-se uma armadilha natural para a ictiofauna (sável, lampreia).

Nas margens do vale antigo do rio, encontramos os segmentos de habitat menos tocados do Parque Natural do Vale do Guadiana: o Matagal mediterrânico. Percorrendo uma paisagem de certo modo única, vão poder ser observados vestígios de cheias antigas (o Guadiana é célebre pelas suas cheias apocalípticas) e, no céu, as espécies de aves emblemáticas da área protegida: cegonha-preta, águia-real e águia-de-bonelli.

easyspacer.gif

easyspacer.gif

imagem

easyspacer.gif

imagem

easyspacer.gif

easyspacer.gif


www1.jpgf1.jpgfr1.jpgPlay.jpgEmail1.jpg

Sem comentários:

Enviar um comentário