Porque será que os líderes dos países ricos da Europa têm medo de acolher os refugiados? Por razões económicas, políticas, sociais ou culturais? Penso que é sobretudo porque não têm um coração católico e acham que é perigoso embarcar em idealismos e sentimentalismos que acabarão por nos sobrecarregar com os problemas dos outros quando já não sabemos como lidar com os nossos. Será o Papa Francisco um idealista irresponsável ao fazer-se arauto incansável e defensor ativo da causa dos refugiados? Quem vive a partir do mistério da Cruz gloriosa do Senhor tem um olhar mais extenso, vê para além do imediato e não teme os inevitáveis problemas e sofrimentos porque vive habitado pela certeza de que o Bem e a Verdade, tantas vezes combatidos e espezinhados, são fecundos e acabam por dar frutos bons, mais tarde ou mais cedo.
Ser católico, mais que um rótulo e um distintivo, é uma graça e um programa para a nossa vida. Católicos pela graça do Batismo que recebemos, somo-lo efetivamente quando nos tornamos imitadores de Deus e realizamos as suas obras. Começamos a ser católicos professando a fé da Igreja Católica: reconhecemos e aceitamos como princípio, fundamento e dinamismo da nossa vida aquele amor do Deus único, Criador e Providência do Universo, Pai amoroso para com todas as suas criaturas que faz nascer o seu sol sobre bons e maus e chover sobre justos e injustos (Mat.5,45) e quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da Verdade (1Tim.2,4). Esse amor criador foi-nos revelado e oferecido por Jesus Cristo, Verbo Eterno do Pai que por amor de nós e para nos salvar desceu do Céu e morreu na cruz carregando com os pecados do mundo inteiro e de cada um de nós. Ressuscitado e glorificado pelo Pai, enviou o Espírito Santo para dimensionar o coração e a vida dos que n’Ele acreditam por esse amor católico, universal, que não conhece fronteiras, e podermos participar da comunhão divina do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, em cujo nome fomos batizados, e testemunhá-la no meio do mundo não apenas por aquilo que dizemos mas sobretudo pelas obras que realizamos e pela nossa maneira de viver. Sem o Espírito Santo não é possível termos um coração católico, possuído pela caridade de Deus, pois o egoísmo individual ou de grupo nos fecha aos outros e nos leva a vê-los como ameaça às nossas seguranças.
Na 1ª leitura da missa deste X domingo do Tempo Comum (1R 17,17-24) vemos como Deus recompensou a hospitalidade oferecida ao profeta Elias, estrangeiro em Sidónia, pela viúva de Sarepta, não só providenciando-lhe alimento, mas devolvendo-lhe vivo o filho que tinha morrido. Já no livro do Génesis vemos que Sara recebe o dom da fecundidade graças à hospitalidade oferecida por Abraão a Deus que o visitou na figura daqueles três estranhos que se aproximaram da sua tenda. Onde houver acolhimento aos estrangeiros há vitória sobre o egoísmo e manifesta-se a vida e a ressurreição. A falta de hospitalidade, sejam quais forem as razões aduzidas para a justificar, denuncia que não há lugar para o outro, não há lugar para Deus, fonte da vida e do amor. E sem Deus as pessoas, fechadas em si mesmas e nas suas razões, ficam egoístas e estéreis, sem futuro.
Tomemos o Evangelho deste domingo como uma parábola. Chamemos ao filho morto da viúva de Naim, futuro de Portugal e da Europa. Perguntemo-nos que futuro pode haver para esta sociedade voltada sobre si mesma que não tem outro horizonte além do bem-estar egoísta num hoje sem raízes nem rebentos, esquecido do passado e hipotecando o porvir para ter mais, para gozar mais e suplantar os outros, seja de que maneira for. A corrupção tem a sua própria lógica, mas devemos perguntar-nos se é irreversível esta situação, se pode alguém fazer parar este funeral e se, ao menos alguns poderão escutar a Palavra que tem o poder de os restituir à vida.
Compadecido daquela mãe, conta o Evangelho, Jesus disse-lhe uma palavra de consolação, tocou no caixão e o enterro parou. E a sua palavra poderosa arrancou das garras da morte aquele jovem que se sentou e começou a falar. O Senhor entregou-o de novo a sua mãe, e o funeral deu lugar à festa e à glorificação de Deus que visitou o seu povo (Luc.7,16). Parece que também hoje, por meio de acontecimentos violentos, o Senhor Se está aproximando e tocando no caixão do morto. Será que vão parar aqueles que o transportam? Esses, que a este funeral chamam progresso e que apenas se ouvem a si mesmos, parecem imparáveis e esforçam-se por acelerar a marcha do enterro…
Somos cristãos. Somos católicos. Seja católico o nosso coração! O Senhor revelou-nos os mistérios do Reino que sempre escondeu e continua a esconder aos sábios e aos inteligentes do mundo, confiou-nos o mesmo Evangelho anunciado por Paulo, Evangelho que não é de inspiração humana (Cf. Gal 1, 11) e pôs em nossos lábios a mesma Palavra vivificante com que Elias ressuscitou o filho da viúva de Sarepta. Dinamizados pela fé, pela esperança e pela caridade, sabemos de onde vimos e para onde vamos. Sabemos que o futuro da humanidade não está na descrença nem no hedonismo materialista, não está na desesperança nem no egoísmo. Porque conhecemos a vitória do Senhor Jesus Cristo sobre a morte e sabemos que Ele tem o poder de dar vida aos mortos, não somos pessimistas. Rejeitamos também o otimismo compulsivo que, como escreveu Bento XVI, é muitas vezes a máscara do desespero e procuramos ser realistas, procuramos ver a realidade à luz da fé. Acreditamos que o anúncio do Evangelho tem poder para dar vida nova a este país e a esta Europa que estão a ser levados à sepultura pelo egoísmo e pela corrupção, pelo materialismo e pelo ateísmo e, por isso, fazemos ressoar a Palavra criadora e recriadora do Verbo de Deus: jovem, Eu te ordeno, levanta-te! (Lc 7, 14).
+ J. Marcos
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