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sábado, 30 de dezembro de 2017

A Indiferença – O Homem lobo do Homem

O mais duro no mundo é a humanidade. Os homens. Há momentos na História em que o ódio se solta sem controlo. Foi com o nazismo, em que a crueldade atingiu níveis inimagináveis. Na ex-Jugoslávia, amigos, vizinhos, parentes tornaram-se inimigos de um dia para o outro e a crueldade voltou a atingir níveis inimagináveis. São factos passados de que já pouco se fala. Agora, a televisão mostra-nos a crueldade inimaginável de homens que têm na sua frente, ajoelhados, outros homens, prontos a serem degolados com navalhas, provavelmente  pouco afiadas. E o apresentador, simpaticamente, previne as pessoas sensíveis. E as pessoas sensíveis viram a cara para o lado. E as pessoas que não são sensíveis veem e horrorizam-se. Mas a reação é a mesma : indiferença. Foi sempre assim e assim continuará. A indiferença, a pior das doenças, pior que a peste, pior que os fanáticos. A peste erradica-se os fanáticos acabam por serem destruídos. Mas a indiferença não se combate, ou muito dificilmente. Quando, há quase um ano, jihadistas entraram na sede do jornal Charlie Hebdo, o mundo ocidental horrorizou-se, solidarizou-se, todos fomos Charlie Hebdo, levantamo-nos de madrugada para comprar o jornal publicado após o massacre, o tempo passou, veio sol, veio chuva, e numa sexta feira, dia treze, do mês onze, o mundo ocidental interrompeu a festa  de sexta à noite novamente horrorizado com um massacre perpetrado com a precisão de um relógio suíço. Vai repetir-se o folclore: protestos, manifestações, aumento da segurança, fronteiras fechadas por uns tempos e depois tudo voltará ao mesmo, exceto a dor dos que perderam aqueles que amavam. A televisão vai mostrar vezes sem conta as histórias dos que se salvaram graças ao telemóvel ou a um telefonema, mais os monumentos iluminados com as cores da bandeira francesa, tal como a nossa Torre de Belém.

E depois? Tudo volta ao normal. Só vemos meias tintas, palavras que o vento leva, tolerância com os que são intolerantes, passividade e cobardia perante as atrocidades.

Estamos vivendo uma guerra total contra a nossa identidade, a nossa forma de vida, as nossas crenças. Os ataques são contra cada um de nós. Não são lá longe.

Quando há anos foi discutido se a Constituição Europeia devia fazer referência à matriz cristã da Europa, levantaram-se, como é natural vozes pró e contra. As vozes a favor eram de gente que conhecia bem a História da Europa, independentemente de serem crentes ou não. E alguns crentes, sendo homens de cultura, achavam que era inútil, não acrescentaria nada. Apontavam o exemplo dos Estados Unidos que mencionavam Deus na sua Constituição sem que isso tivesse algum significado. Mais uma vez a Europa se agachou. No momento atual, parece-me que seria bem importante.

A Europa está a desaparecer e desaparece se não infletir o seu rumo e não retomar os seus valores vindos do Cristianismo e da Revolução Francesa. Para além do horror a que estamos a viver há que refletir: o que leva 15.000 jovens europeus a irem para o Médio Oriente e alistarem- se nas fileiras do Exército Islâmico? Fogem de uma Europa escrava dos mercados e do capitalismo que mata, que forja crises para impor modelos económicos, sem outros valores que não seja o dinheiro.

Um dia perderemos tudo, não por termos sido fracos, não por termos sido esmagados por mais fortes, mas porque fomos cobardes e não fizemos nada.

Acabo este texto com uma tristeza enorme.

Cecília Rezende



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