A promessa do tão esperado descanso, tardava em cumprir-se. Desejando “sair”, almejando tempos de paz, tranquilidade, liberdade, e relembrando as promessas do Senhor:
“…Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e meu fardo é leve.” (Mateus 11:28-30)
propus-me peregrinar até ao santuário do meu descanso e desfrutar das melhores férias de sempre.
Comecei esta viagem com itinerário destinado, e foi de mochila às costas, com passaporte vazio de vistos e carimbos que esqueci deliberadamente o seguro. Munida apenas de uma pequena farmácia de viagem (para eventuais “arranhões emocionais”), lancei-me ao destino.
Iniciei-me assim por uma caminhada a pé ao toque da brisa da manhã, e parei unicamente na porta estreita …foi lá dentro que me banhei no sacramento da confissão, e foi como um mergulho na doce reconciliação com o Senhor…então esse lugar pareceu-me melhor do que fazer as malas, e no entusiamo da aventura, comprar bilhete, levantar voo de avião e pensar refrescar-me nas águas cristalinas de uma praia paradisíaca.
Depois deste mergulho, lavada por dentro, resolvi estender-me recebendo o sol quente, acalentador, e assim animada participei na Santa Missa, onde me foi recordado o quanto Jesus está intercedendo por mim ao Pai. Incessantemente. Presentemente. Nesse momento fui abrasada de corpo e alma …e então esse lugar pareceu-me melhor que sentir deslizar, bem fresquinha, uma água de coco desfrutada à sombra de uma palmeira.
Sentia-me revigorar cada vez mais quando ouvi, lá longe, um lindo hino, talvez local, talvez de todos, de louvor, renovando-me a certeza de que, nas minhas tormentas, Jesus está comigo na barca. Dormindo. E por isso nada temo. Senti-me segura para continuar, e então a certeza dessa verdade pareceu-me melhor do que embarcar por mares adentro a bordo de um distinto navio cruzeiro que avistava passando no horizonte.
Foi da varanda da cabine dessa embarcação onde me instalei com a minha família que, avistando a linha do horizonte, me rendi em adoração ao Senhor. Deslumbrámo-nos por juntos agradecermos a Sua paixão, e isso pareceu-me melhor que fazer escala no porto de uma reputada cidade, passeando depois pelas suas ruas e avenidas repletas de vitrines de marcas famosas.
Passeávamos juntos por vias largas orladas de árvores, quando numa dessas montras o meu olhar se deteve e pude ver, no reflexo, a metade de mim. A agradeci ao Senhor, relembrando alegrias conjuntas. Enquanto isso a fome ia-se fazendo sentir e os paladares ansiavam recordar comidas familiares como aquela receita predilecta, que tão teimosamente insisto tentar copiar, para, sem nunca conseguir realmente imitar, generosamente ouvir elogiar…então esse aroma pareceu-me deliciosamente melhor que percorrermos saborosas degustações nos mais afamados restaurantes.
Ao consultar a carta de sobremesas observo também o chef elaborando delicadamente o buffet de frutas. Pareciam deliciosas, as da época, e nesse instante senti que algo em mim recordava a beleza de uma árvore, ao sol. Fortificando-se, amadurecendo, dando fruto. Dando-se a conhecer pelo fruto. E foi assim, que relembrei o quanto descubro, pelo rebento de mim, o meu existir. E isso pareceu-me muito melhor que sair visitando exposições de arte, admirando telas e retratos dispostos nos mais prestigiados museus do mundo.
Ao apreciar essas obras, suas cores e tonalidades, detive-me para contemplar uma. Especial. Obra de arte, relíquia feita primeiramente do barro, do sopro do Senhor, com forma de mim. Era um quadro gerado de cores de vida desenhando uma árvore. Eu apreciei e vivi cá dentro os frutos que imaginava puder dar de mim, por mim, e é então que isso me pareceu melhor que puder repousar, e adormecer profundamente recebendo uma massagem numa encantadora estância termal.
Sob o efeito das fragâncias balsâmicas que me entravam na pele, senti-me plenamente descontraída e planeei seguir viagem. Atravessei a rua, de mãos dadas. Mãos engelhadas pelo tempo, mas ainda fortes no aperto, para nos sentarmos, do outro lado, num banco de jardim e novamente ouvir contar aquela história. A história daquele passarinho. Um passarinho amigo, que volta sempre, em voo curto, aos saltinhos, fazendo-se alegremente presente. Pensa que vem fazer companhia, outra vez, como nós, um ao outro fazendo naquele momento, e então isso pareceu-me melhor que fazer uma deslumbrante viagem debruçada na janela duma carruagem num luxuriante trem de comboio pelas mais belas paisagens naturais.
Desejei perpetuar o momento, e enquanto procurei a máquina fotográfica, caiu da minha mochila uma foto, maternal, que ali vinha misturada com o obrigada e o abraço que se deixa ficar. Segurei-a nas mãos e enquanto a prendia bem ao coração, isso pareceu-me melhor que embrenhar-me pelos mais belos trilhos da natureza, montar a tenda, apreciar a flora local, e simplesmente acampar.
Mais tarde, em deleite pela experiência daquele lugar resolvi continuar a caminhar e seguir viagem sozinha. Dirigi-me à localidade mais próxima, e foi lá que encontrei um relvado onde me sentei. Inesperadamente, vi aproximar-se uma criança, dirigiu-se a mim, procurou o meu olhar, e confiou sentando-se ao colo. Apareceu ainda um cão deambulando em busca de brincadeira. A criança alisa o meu cabelo, e eu aceitei o convite para juntos brincarmos, e então isso pareceu-me melhor que ingressar numa grande aventura por uma expedição num safari num desses territórios de vida selvagem.
Fomos juntas pela savana, deslocávamo-nos de jeep, era hora do lanche, o calor apertava, e subitamente era preciso evadir-me de perigos que surgiram. Era preciso perseverar na retirada, mas os socalcos do piso provocavam turbulência e de repente tudo se precipitou numa travagem brusca mas já em segurança. Ainda um pouco atordoada lembrei-me de dar utilidade aquela farmácia de viagem (para eventuais “arranhões emocionais”), e depois do susto, trato as feridas com um abraço de criança. E quando, nesse abraço, peço ainda colo, ela o dá generosamente, e isso pareceu-me melhor que comer uma magnífica taça de gelado artesanal, na mais apetitosa das geladarias.
O sabor a morango fazia-se ainda sentir quando a noite se começou a aproximar e era encontrar aconchego para pernoitar. Procurei, em vão, o mapa que me podia indicar um trajecto … mas, vendo-me sem ele, em oração, supliquei ao Senhor pistas para o caminho. De repente ouvi. Um toque, e atendi, era uma voz de amizade. E então como posso não me perder em partilha da presença do Senhor? Ao mesmo tempo caminhei distraidamente, imersa naquela intensa conversa, e assim fui sem comando. Encontrei por fim uma pousada, tinha aparência acolhedora. Havia quarto para mim. E isso pareceu-me melhor que ouvir a mais selecta compilação de música tocada num grande coliseu.
Ao som de mãos treinadas de piano pude agradavelmente jantar. Depois, a cama era larga, de colchão macio. Na mesinha, o terço que também viajou, que foi rezado relembrando instantes cúmplices de intimidade com Jesus. Antes de adormecer olhei o meu passaporte, agora repleto de vistos e carimbos de vida vivida. Ainda tive tempo de elevar o meu pensamento, emocionando-me por continuar a sentir a presença Divina. Inspirando, soprando, sobre mim. E quis registar aquelas memórias num livrinho de bolso para partilhar com quem quiser fazer parte…e isso pareceu-me melhor que continuar viagem...
Foi depois em sonhos que tudo se revelou. Sonhava com o céu na terra e achava descanso para a minha alma. Tendo aprendido do Senhor, Lhe agradeci pelo dia em que vivi as melhores férias de sempre, férias no jugo suave e no fardo leve, na mansidão e na humildade. Restava-me pedir-lhe a Sua misericórdia pelo atalho, o desvio da Sua santa vontade.
Clamei para que, por Sua infinita bondade, providenciasse para todos os seus filhos, férias assim. De jugo suave, de fardo leve, de mansidão, de humildade. Todos os dias. Que todos os dias, todos os corações, aceitassem o convite de viajarem pelos mais nobres destinos de férias, na simplicidade da prática diária. Que todos os dias as famílias se construíssem santuários de descanso compreensível a qualquer um. Que, olhos nos olhos, pudessem partilhar esses destinos virtuosos há tanto prometidos, e que pudessem juntos acrescentar-se assim: “…hoje, foste as minhas melhores férias de sempre, quando… e isso pareceu-me melhor que…”. Que ao fim do dia cada um pudesse adormecer com a certeza de ter viajado e ter sido viagem de santidade para alguém. Que o Senhor providenciasse colocar em todos os corações o desejo de fazer já reserva diária de férias no amor, e sempre, nos mais virtuosos hotéis de cada alma.
Isabel Garcia
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