Num primeiro artigo, concluímos que o Homem está
destinado a ser eternamente feliz e que o seu corpo lhe dá a possibilidade de
comunicar com outras pessoas (as divinas também) e com toda a criação,
manifestando, através dele, o seu amor, quer por palavras, quer por ações.
Porém, parte da pergunta “Corpo, para quê?” ainda se mantém, pois falta saber
usar o corpo de tal forma que cheguemos a alcançar esse objectivo de alcançar a
felicidade eterna.
Constatamos a cada momento que corpo e alma estão
profundamente unidos, mas com dificuldade de colaborar entre si. O pecado
original introduziu o sofrimento e o cansaço nas principais obrigações humanas:
“Crescei, multiplicai-vos e dominai a
terra.” (Gén. 1,28); por outras palavras, a maternidade/paternidade e o
trabalho passaram a vir acompanhados de dor, suor e lágrimas e também por
alegrias profundas. Como vencer então a rebeldia do corpo em obedecer às leis
que Deus deu ao Homem? Podemos aprender com Cristo. Como era verdadeiro Homem,
tinha a natureza humana e viveu na terra seguindo em tudo a ideia do Criador.
Como era verdadeiro Deus, manifestou (mediante milagres, profecias e pregações)
o seu poder e a autoridade divinos.
Cristo sofreu e fez sofrer aqueles que mais amava e o
amavam. Desde o seu nascimento até à morte, a sua vida esteve marcada pelas
dificuldades, mas sempre em obediência ao Pai. Sua mãe, Maria, já no final da
gravidez, viu-se na obrigação de ir de Nazaré a Belém para se recensear com
José. Não encontrando pousada, abrigaram-se numa gruta onde nasceu o Jesus. Foi
um momento de dor e alegria: pela pobreza do lugar; pela chegada do Salvador.
Assim é a vida normal: alegrias e tristezas acarinham e magoam o coração dos
homens. Aconteceu com o Messias, acontece com os homens.
Os pais do menino fizeram-no circuncidar ao oitavo dia,
cumprindo assim a lei mosaica. A cerimónia significava que o Menino pertencia
ao povo eleito por Deus com o qual fizera uma Aliança, a Antiga Aliança. Assim,
todos os pais devem seguir o exemplo de S. José e de Nossa senhora, batizando
os seus filhos logo que possível.
Quarenta dias após o nascimento, Jesus foi levado ao
templo para ser apresentado e resgatado; apresentado como primogénito que devia
ali ficar para o serviço do Senhor; resgatado para continuar ao cuidado dos
pais, mediante a oferta de um par de rolas. Mais uma vez, Deus serve-se destes
pais, santos e exemplares, para nos ensinar como devemos cuidar, desde muito
cedo, da formação religiosa dos nossos filhos.
O Evangelho também relata a “crise de adolescência” de
Jesus no episódio em que se escapou de seus pais para ficar no Templo entre os
doutores. É exemplar a atitude desta Mãe que, sem ralhar, dá a conhecer a
aflição com que ela e José O procuravam. É notável a resposta do jovem Jesus ao
manifestar a sua responsabilidade por “ocupar-me
das coisas de meu Pai” (Lc. 2, 49). Como é natural, os pais “não entenderam o que lhes disse” (Lc. 2,
50). Mas, como deve ser, o adolescente voltou com eles para Nazaré “e era-lhes submisso” (Lc. 2, 51). Eis,
mais uma vez, o modo de nos comportarmos bem, pais e filhos: exercendo a
autoridade com respeito pelo filho, sendo assim um meio de o ajudar a esperar
pela “sua hora”. É curioso notar que essa “hora” veio a ser antecipada pela sua própria Mãe nas bodas de
Caná”...
Há ainda muito que meditar sobre o nosso corpo. Haverá
tempo para continuar ainda com o tema?
Isabel Vasco Costa
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