O mistério coloca sempre muitas dúvidas, pois a mente humana é incapaz de entender os desígnios divinos. Por isso, é de grande atrevimento levantar dúvidas, ou melhor, fazer perguntas do tipo “será que foi assim?” Mas é isso mesmo que esta mãe vai fazer.
Comecemos pelos factos embora resumidos. Jesus apresenta-se a João Batista para ser batizado por ele. João recusa, mas Jesus insiste porque era conveniente e João cede. Então, João dá testemunho de ter visto “o Espírito de Deus descer como pomba” e “ouvir uma voz do céu que dizia: Tu és o meu filho dileto; em ti pus as minhas complacências” (L 3,21-22).
Sempre entendi este episódio como conveniente, como disse Jesus, para que o povo judeu e, mais tarde, todas as gerações de todo o mundo reconhecessem, pelo testemunho de João, que era Jesus Cristo e não outro o Messias esperado. Agora, como mãe, também me pareceu conveniente que Jesus fosse batizado para mostrar aos homens o que deviam fazer: batizar-se e batizar os seus filhos. Jesus é, numa só pessoa, Deus verdadeiro e Homem verdadeiro. Como Deus, não necessita ser batizado. O próprio S. João o disse e Jesus não o corrigiu; mas achou que era conveniente. E aqui se levanta a dúvida: conveniente para mostrar aos homens como se comporta um homem de verdade? Um homem que, embora pertencendo ao reino animal, não é um animal, não se comporta como um animal e se reconhece muito superior ao animal. Sei que Deus me criou porque... lhe apeteceu. Imaginou-me, gostou da imagem e... criou-me. Gostou de mim antes de me criar. Pronto. Mas, no momento do Batismo de Jesus, a voz do Pai diz ser este o seu Filho dileto. Jesus não é uma criatura como eu, é o seu Filho dileto. Que diferença! Deslumbra-me reconhecer-me que, como batizada, sou também filha dileta e Deus que põe em mim as suas complacências. Que espanto!
Também me admiro por Jesus acudir a outra pessoa para ser batizado. O batismo não é algo apenas simbólico que possa impor-me a mim mesma. É o sacramento que abre a porta a todos os outros sacramentos. Sem o batismo, não posso receber mais nenhum sacramento sem ofender a Deus. Mas o meu maior espanto é de ser eu, como mãe, uma das pessoas em quem Deus confia para levar os seus filhos ao seu pároco para os batizar. E, se algum dos meus filhos estiver em perigo de vida, eu própria o poderei batizar. Ao aceitar esta obrigação de batizar os meus filhos, não estou apenas a torná-los felizes, estou a garantir-lhes a felicidade eterna. Só não a terão se a recusarem, como acontece com as pessoas que recebem uma grande herança, mas não a vão buscar ao banco.
Sempre que batizo os meus filhos estou a dar o primeiro passo num apostolado único: o apostolado materno. A partir desse dia, dou comigo a benzer os meus filhos, embora o bracito ainda não chegue ao ombro oposto; ensino-os a atirar beijinhos a Jesus no Presépio, a Nossa Senhora e a S. José; mal começam a falar, aprendem a dizer Jesus e Maria, assim como as primeiras orações; mais crescidos, já sabem que Jesus está escondido no sacrário, rezam às refeições, aprendem a doutrina, fazem a primeira confissão e a primeira comunhão... Ser apóstolo é uma honra e eu, como mãe, tenho a oportunidade de o ser. É tão bom pensar assim!
Isabel Vasco Costa
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