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sexta-feira, 4 de junho de 2021

Amores de sempre

         Em tempo estival e de descanso, os amores tendem a ser fugazes e até fúteis, quase passatempos. Não será a altura de pensar neste tema de uma forma diferente, isto é, de amores para sempre, para todo o tempo de vida e para toda a eternidade? Apoiemo-nos na sabedoria do Papa emérito Bento XVI.

      Numa das suas catequeses[1], ele recorda um dos últimos diálogos de Jesus com S. Pedro, que aconteceu durante os quarenta dias em que o Salvador ainda permaneceu na terra depois de ter ressuscitado. Jesus pergunta a Simão Pedro: “Tu amas-me?”. E este responde: “Sim, Senhor, sabes que Te amo.”

         Bento XVI explica-nos o que nos passa despercebido. Ao perguntar “Tu amas-me?”, Jesus usa um verbo que, na versão grega, significa amar completamente, totalmente. Trata-se do verbo “agapáo”. Porém, S. Pedro não emprega o mesmo verbo quando diz: “Sabes que Te amo”. O papa explica que S. Pedro se tinha gabado de que seria capaz de acompanhar Jesus até à morte, mas negara conhecê-lo enquanto se aquecia, no pátio da casa de Pilatos, juntamente com criados e curiosos. Envergonhado, preferiu usar o verbo “fileó” que significa amor de amizade. Esta pergunta e resposta, com pequenas diferenças, repete-se por mais duas vezes. Consta que Jesus fez a pergunta recordando a Pedro as suas três negações. O Papa nota que perguntas e respostas usam sempre os mesmos verbos: “agapáo”, no caso de Jesus; “fileó” nas respostas de Pedro. Finalmente, segundo este Papa, Jesus aceita o “fileó” de Pedro porque sabe que ele, sem a ajuda divina, não tem capacidade para amar totalmente. Mais do que aceitar, Jesus confia em Pedro: “Apascenta as minhas ovelhas”, lhe diz no final da conversa, porque Ele lhe irá dar a ajuda de que necessitará.

       O Cardeal Ratzinger deve ter meditado e rezado tudo isto nas horas do Conclave que precederam a sua eleição. É natural que, em cada eleição, aumentasse o número de votos com o seu nome. Era o sinal de que a tão sonhada aposentação na sua amada Baviera e na companhia do irmão estava em perigo. As explicações que o Papa Bento dá nestas Catequeses parecem ter notas autobiográficas. E qual de nós, se for realista, não sentiu já o mesmo: “Desejo, mas não sou capaz de amar tanto!”.

         Estes dois amores são comuns nos corações de todos os homens e mulheres de todos os tempos. São amores de sempre e sempre desejados. Dois são os sacramentos que Jesus deixou à humanidade para que se torne capaz de amar usando o verbo “agapáo”: a ordem sacerdotal e o matrimónio. S. Pedro e Bento XVI são dois homens que manifestam o poder da graça que Jesus oferece aos homens através do sacramento da ordem. Ambos sabiam que eram fracos, mas confiaram que Deus lhes daria a força necessária para “apascentar as suas ovelhas”.   O amor entre homem e mulher deve também ser conhecido e respeitado como um amor completo e integral, destinado à geração, proteção e cuidado de novas vidas. Estes amores têm vocação de eternidade.

 

Isabel Vasco Costa


[1] “ORAÇÃO E SANTIDADE, Catequeses ao Povo de Deus”, I Volume, pg. 214-215, por Bento XVI, Molokai Editora e Comércio Ltda. S. Paulo, Brasil



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