Hoje dia 1 de Outubro de 2017, ao acordar, recordei que era o Dia Internacional do Idoso, decretado pelas Nações Unidas sob o lema: “Entrando no Futuro”. Aproveitar os talentos, contribuições e participação das pessoas idosas na sociedade. Questiono-me se amanhã ainda será um bom momento para virar a página. Olho para o espelho. Graças a Deus que a medicina tem evoluído. Há alguns dias tive oportunidade de ouvir um orador comentar num congresso sobre o envelhecimento que os 60 anos de antigamente equivalem aos 50 de agora. Também referiu que em cada 10 anos se deve aumentar dois anos e meio a esperança da média de vida. Por outro lado, consta segundo dados da UNFPA que o mundo tem hoje em dia 700 milhões de pessoas com mais de 60 anos. Prevê-se que até 2050, serão 2 milhões de pessoas com mais de 60 anos, ou seja, 20% da população mundial. Olhei para as rugas que começam a despontar, sinais de uma vida vivida intensamente com muitos projetos, muito trabalho, muitas ilusões, muito empenho e dedicação, mas a par disso, muitas preocupações, sofrimento e desilusões, enquanto comum mortal. Coisas boas e não tanto. É a vida a passar… In manus tuas, deposito o passado e peço ajuda para o futuro, referindo interiormente: “Obrigada, perdão, ajuda-me mais”.
Na realidade, o homem nasce, cresce e morre. Temos durante o nosso percurso de vida, fazer opções, se possível, qualificadas e certeiras. Na realidade, temos também de despertar para a questão do envelhecimento, que vem muito de trás, trata-se de uma questão bíblica. Hoje em dia torna-se necessário valorizar a riqueza do conhecimento acumulado, da experiência vivida, derrubar o preconceito existente contra o envelhecimento, bem como outras barreiras ainda existentes. Já que uma transição demográfica tão grande, como a que vivenciamos presentemente, vai certamente trazer novas adequações e ajustamentos. A investigação multidisciplinar tem um papel importante.
Precisamos de dar visibilidade aos idosos, da consciencialização da situação, de evidências académicas, de fornecer factos reais, que permitam desenvolver um trabalho conjunto constante, no sentido de colmatar as necessidades detetadas. Questiono-me, como vivem na realidade estes 700 milhões de idosos a nível mundial. Cai-me uma lágrima furtiva. Quisera poder gritar e que todos me ouvissem que o envelhecimento começa desde que nascemos. Logo, incluir todas as idades. O paradigma tem de mudar, logo, todas as gerações vivam em conjunto, que se deve apoiar, em cada ciclo de vida as necessidades que são inúmeras, procurando, se possível, ser o mais inclusivo possível em prol da promoção das relações intergeracionais, ou seja, um contínuo percurso de vida, sendo que importa enfatizar que as relações entre gerações, quando possuem valores partilhados, tais como a solidariedade, as pessoas permanecem mais unidas.
Tive igualmente oportunidade de ouvir, no congresso sobre tema, uma frase de que gostei: “Nada sobre nós, sem nós”. Deve ser dada a voz aos idosos, no sentido de alcançarmos uma sociedade mais equitativa para todas as idades, já que todos nos encontramos no processo de envelhecimento. Como é óbvio, sem esquecer os aspetos financeiros, o fator humano e social reveste-se da maior importância tendo como base uma perspetiva intergeracional. Em minha opinião, ninguém pode envelhecer de um modo ativo, sereno e feliz, tendo conhecimento de que os seus descendentes, ou mesmo ascendentes, passam por necessidades/dificuldades ao nível de emprego, habitação, saúde, ou mesmo de exclusão social. As lágrimas furtivas continuam a cair. Parece que não entendem de todo a realidade. O que se pretende é mesmo uma sociedade mais justa, inclusiva, humana e solidária, onde todos têm um contributo a dar em prol do progresso e bem-estar da humanidade. Cada um possui a sua história única, pessoal e intransmissível de vida. O que se torna mesmo necessário é não esquecer que a partilha, a solidariedade, o amor, o afeto, fazem muita falta em todas as idades. Estes requisitos encontram-se bem expressos no seio de uma família, que apesar de todas as vicissitudes por que possa eventualmente atravessar, a todos acolhe, crianças, jovens, menos jovens e idosos. É tão bom ouvir uma criança dizer carinhosamente: “Vovó, gosto muito de ti”. Preenche-nos a alma. Há alguns dias ouvi um jovem comentar a um idoso: “O que a vossa geração conseguiu alcançar, nós não iremos deitá-la fora”.
Termino este artigo com uma citação do Papa Francisco: “Onde não são honrados os idosos, não há futuro para os jovens”. Acrescentou ainda: “Esta sociedade seguirá em frente se respeitar a sabedoria, a sapiência dos mais idosos”. Vamos pois “Virar a Página”, promovendo as relações entre as gerações enquanto um dos pilares da coesão social, alcançando-se assim, uma sociedade sustentável para todas as idades.
Maria Helena Paes |
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