Acho esta frase linda, por isso fiquei motivada para escrever este artigo. Quando nos é dada a palavra, a visibilidade, ou seja, quando nos é concedido, ainda que por uns momentos, a possibilidade de expressar os nossos sentimentos, conhecimentos, ideias, projetos, estudos, entre outros. Há já alguns anos, durante um congresso, tive a oportunidade de conhecer uma pessoa fantástica a quem tinha precisamente sido dada a palavra. Mais tarde, durante um espaço de convívio e de fraternização, foi-me apresentada por uma amiga. Em conversa fiquei a saber que tinha acabado de perder o marido vítima de doença súbita. Por outro lado, tinha-lhe sido diagnosticado um cancro da mama. Contudo, apresentava um ar sereno, muito positivo, dispondo mesmo de tempo para ouvir os outros e mesmo aconselhar. Nutri, de imediato, uma enorme simpatia por ela graças ao seu bom caráter. Separava-nos, contudo, o Oceano Atlântico, já que era cidadã brasileira. Nada que hoje em dia não se ultrapasse devido às novas tecnologias. Ao longo do ano fomos trocando mensagens nas datas festivas e comemorativas.
Um ano mais tarde, seria o reencontro, na mesma cidade, mais precisamente num congresso em Nova Iorque promovido pela ONU. Cheia de força e de alegria, ainda em fase de recuperação abordou com grande convicção a possibilidade de fazer um doutoramento na área de que tanto gostava, a Política Social. Claro que com entusiasmo todos os amigos presentes a incentivaram a prosseguir o seu objetivo. Continuámos a trocar as habituais mensagens, tendo tomado conhecimento de que já se encontrava a fazer o doutoramento. E o tempo foi passando… Este ano tive a agradável surpresa de saber que vinha a Lisboa. Na bagagem trazia para me oferecer o seu livro da tese de doutoramento. Quando nos abraçamos foi uma verdadeira demonstração de alegria, de carinho, de amizade, de admiração. Há pessoas que sem sabermos explicar o porquê, nos tocam muito. Uns dias mais tarde, ao folhear o livro, vi que era dedicado à memória do marido e aos filhos pelo apoio que lhe tinham concedido em todos os momentos, nos estudos que lhe proporcionaram novos conhecimentos e tinham contribuído positivamente para a sua história de vida, para além dos netos que lhe contagiavam o seu humor e alegria. Constituíam o seu alicerce.
Senti de imediato uma enorme ternura por esta família tão unida e solidária, que ajudou a minha amiga, como ela referiu, a ver a beleza das flores a crescerem, de como a vida é bonita e vale muito a pena viver; que existe a esperança, porque as nuvens passam bem como as pedras e os agraços que surgem no nosso caminho. O sol continuará a brilhar. Apesar de todos os constrangimentos e os abalos sofridos, nunca perdera a alegria de viver. Pela minha mente passaram alguns momentos vivenciados na sua companhia em Nova Iorque. Encontrava-me na sede das Nações Unidas a participar num Congresso. Era a única portuguesa. Esta já então amiga, apresentou-me a todos os delegados brasileiros que a acompanhavam, que me integraram com um abraço caloroso e afável, como se eu fosse uma cidadã brasileira. Fiquei mesmo na fotografia dos representantes do Brasil. A vida tem destas coisas. Talvez por ter um filho que, na época, fazia o doutoramento nesse país. Também a certa altura, durante uma pausa, veio-me chamar referindo que a tinham informado que havia uns saldos ótimos, em roupa de criança, num armazém na 5ª Avenida. E lá fomos em passo apressado, à procura de uma lembrança para os netos. Encontrámos uns vestidos lindos, com gola de marinheiro, a um preço muito convidativo. Quando a minha neta o colocava lembrava-me do momento, do local da compra e da companhia. Tive pena que a sua permanência em Lisboa fosse muito curta. Ainda assim serviu para aumentar a minha admiração pelo trabalho que desenvolve em prol da defesa dos direitos dos idosos. No seu livro refere: “Urge a necessidade de a sociedade civil pressionar os governos para que seja inserida uma agenda de atenção na política brasileira com alternativas que assegurem os direitos humanos. A dependência é considerada um risco social a ser enfrentado pelo Estado, pela Família e pela Sociedade. É agudizante o cenário atual, principalmente para os idosos com baixos rendimentos, que são os mais afetados… Escreve ainda uma frase de Cícero no início do livro: “Os grandes empreendimentos não se levam a cabo por meio da força, ou da velocidade ou da agilidade do corpo, mas sim, pela sabedoria, pela autoridade e pelos bons conselhos; e de todas essas qualidades, a velhice costuma não somente não estar privada, mas até ser provida delas em abundância”.
Concluo este artigo incentivando a minha amiga para que continue todo o seu trabalho em prol dos direitos humanos. Na realidade, para mim, constitui um exemplo de amor ao próximo, de entrega e de luta. A sociedade, a família e os amigos agradecem e esta Mulher forte, cheia de fé, que conseguiu dar a volta à vida, e que na sua curta passagem por Lisboa ainda conseguiu encontrar algum tempo para ir agradecer a Nossa Senhora de Fátima, em particular, no ano em que se celebra o Centenário das suas aparições. The floor is yours. Se Deus quiser, tens ainda muito para contar e projetos a realizar.
Maria Helena Paes |
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