A cultura atual é, como não poderia deixar de ser, a cultura do homem de hoje, com os seus extraordinários avanços tecnológicos, as suas facilidades de comunicação, mas também com os seus problemas. Vivemos numa sociedade pluralista cuja visão muitas vezes nos confunde, surgindo assim as inevitáveis interrogações: Como poderemos conciliar a nossa identidade e, ao mesmo tempo, construir o nosso futuro, sem abdicar da fé e da razão? Como ser cristão no século XXI?
A relação entre fé e cultura é essencial, numa sociedade onde Deus não aparece, normalmente, nos indicadores de bem-estar. Mas é uma relação estrutural, não secundária, conforme tem evidenciado a Igreja Católica, ao reconhecer precisar de novas escolhas culturais, pastorais, teológicas, capazes de interagir com a sociedade.
Não restam dúvidas de que a Igreja necessita de continuar a ser um sinal credível e confiável para revelar a frescura de uma mensagem que tem como objetivo primordial humanizar a vida e a sociedade, ao mesmo tempo que permite a todo o ser humano encontrar o sentido e significado da própria existência.
O Papa Paulo VI realçou que «se a fé não é capaz de elaborar cultura, arrisca-se a ser tangencial à vida», não incorporando «elementos significativos na existência».
Precisamos de nos convencer de que o pluralismo cultural não constitui um problema para os cristãos, mas sim uma realidade com a qual contamos, como cidadãos correntes que somos. Os últimos Papas, João Paulo II e Bento XVI e, mais recentemente, o Papa Francisco, têm-nos incentivado repetidamente a levar a cabo a nova evangelização, também da cultura.
Não temos razões para ter medo.
Na Carta Apostólica Novo milénio ineunte o Papa João Paulo II, afirma que a condição de um pluralismo cultural e religioso mais acentuado, como se previu e já se constata na sociedade do novo milénio, pode converter-se em uma importante oportunidade de estabelecer a paz. O Papa na mesma carta n.º 50, considera ainda que o verdadeiro problema é o individualismo egoísta, pelo que convida a inverter essa tendência. Convida a uma nova “fantasia da caridade” que se manifeste não apenas na eficácia dos socorros prestados, mas na capacidade de pensar e ser solidário, verdadeiramente, com quem sofre. Neste sentido, o que pode e deve fomentar-se no mundo atual – com a ajuda da ciência, da tecnologia, das artes e das facilidades de comunicação – é a globalização da caridade. Mas não haverá solidariedade global sem solidariedade pessoal.
No entanto, temos de reconhecer que, de modo geral, a sociedade atual se carateriza pela preocupação da imagem, pela aparência, e a verdade é considerada como coisa secundária ou mesmo inconveniente, antiquada. Aceita-se a realidade no meio da mais impressionante indiferença com um encolher de ombros…
Por tudo isso, qualquer intelectual cristão, coerente e responsável, sente-se comprometido com a procura e a transmissão da verdade, não desejando conviver com a mentira, ou com a frivolidade.
Mas neste nosso mundo são ainda muitos – no fundo, de uma maneira ou de outra, todos – os que “têm saudades” da verdade, dessa verdade cristalina, límpida, magnífica! E, por outro lado, quem é que não deseja a companhia de um amigo sincero, que diz a verdade e não engana nem é egoísta, que ajuda e, se for necessário, corrige? “Dizer a verdade com caridade”, é o lema cristão que pode saciar a sede deste nosso mundo…
Porque é evidente que a sociedade atual, embora aparentemente, se manifeste afastada de ideais, na realidade, os homens e as mulheres de hoje, têm fome de Deus. Isto mesmo o têm reconhecido os sucessivos Papas, ao afirmarem que estamos próximos de iniciar “uma nova Primavera Cristã. Porque “Jesus Cristo é, como sempre, a novidade permanente para onde marcamos as nossas metas, também as do século XXI, que se resumem em encher de sentido cristão a vida de cada dia”.
O Papa Bento XVI numa alocução dirigida aos vários grupos no Vaticano, referiu-se à importância da cultura, ressaltando “que o pensamento se dirige para dois lugares clássicos onde a mesma se forma e comunica – a universidade e a escola. A escola, assinalou o Papa Emérito, é chamada a promover a unidade entre fé, cultura e vida, que constitui a finalidade fundamental da educação cristã. Salientou também que a verdade e o amor “são inseparáveis “, o que determina que nenhuma cultura pode estar contente consigo mesma enquanto não descobrir que deve estar atenta às necessidades reais e profundas do homem e de todo o homem”.
Cultura, fé, comunicação são três realidades entre as quais se estabelece uma relação de que depende o futuro da nossa civilização, chamada a expressar-se sempre mais completamente, na sua dimensão planetária.
A cultura é, em síntese, um modo específico do existir e do ser do homem. E o homem é o sujeito e o artífice da cultura, nela se expressa e nela encontra o seu equilíbrio.
A fé é o encontro entre Deus e o homem. É um dom de Deus ao qual deve corresponder a decisão livre e efetiva do homem…
Mas uma fé que não se torna cultura é uma fé não plenamente acolhida, não inteiramente pensada, não fielmente vivida … .
Maria Helena Marques
Prof.ª Ensino Secundário
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