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domingo, 1 de abril de 2018

Músicas que falam com Deus (44): Sinfonia nº 2 de Gustav Mahler - da meditação sobre a condição mortal ao autêntico júbilo de uma esperança forte


domingo, 1 de abril de 2018

Gustav Mahler

A propósito do recente concerto na Fundação Gulbenkian, em Lisboa, Guilherme d’Oliveira Martins escreveu sobre a Sinfonia nº 2, de Gustav Mahler, falando sobre o motivo de meditação e o trânsito entre a dúvida e a esperança de que aquela obra fala:

A Sinfonia nº 2 de Gustav Mahler, que o autor designou como “Ressurreição”, constitui uma obra-prima da história da música de todos os tempos. (...)

O começo (...), segundo o próprio Mahler tem a ver com a meditação exasperada sobre a condição mortal da humanidade. Eis por que encontramos pontos de contacto com a terceira sinfonia de Beethoven (“Eroica”) – uma marcha fúnebre contrasta com a perspetiva lírica. Com um extremo cuidado técnico, graças a um complexo e hábil recurso a dissonâncias harmónicas, encontramos a coexistência do sofrimento e da esperança… (...) E G. Mahler recorre a material relacionado com a canção do “Sermão de Santo António aos Peixes” (1893) – para salientar como o santo, perante a indiferença e a incapacidade de as pessoas ouvirem o que quer que fosse, se dispõe a falar aos peixes (“O bom Deus enviar-me-á uma pequena luz”…). Lembramo-nos deste tema, bastamente glosado pelo Padre António Vieira. (...)

E assim no final da sinfonia temos a recapitulação do caminho percorrido: o ambiente fúnebre do começo, o tema “Dies Irae”, que corresponde à consciência da pequenez e da imperfeição, a que sucede a marcha orquestral que ilustra a procissão para o “Juízo Final”, até que soa a última trombeta do Apocalipse. E assim dá-se início à cantata sinfónica final, já aqui referenciada – com o poema “Ressurreição” de Friedrich G. Klopstock (1724-1803), grande poeta anunciador do romantismo – num extraordinário crescendo que representa a afirmação do autêntico júbilo, assumido como força vital pelo compositor, num momento crucial da sua vida atribulada, em nome de uma esperança forte e renovadora.

(O texto está disponível aqui na íntegrade onde também se reproduz a foto)




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