“Por favor, cuida da mamã” é título de um livro belíssimo que li há pouco tempo e de que me lembrei a propósito do “dia da mãe”. É uma longa reflexão sobre a relação entre mãe e filhos – em que também o marido é peça fundamental – que nos é relatada através das memórias que se tornam intensamente vivas quando a mãe desaparece das suas vidas. Nos diálogos que se estabelecem entre todos vão surgindo os momentos felizes e os dolorosos e ficam muitas perguntas, às vezes angustiantes: “Acho que a mamã nunca poderia ter gostado de trabalhar tanto na cozinha. Os comentários da tua irmã apanharam-te de surpresa. Nunca tinhas pensado na tua mãe como uma pessoa separada da cozinha. A tua mãe era a cozinha e a cozinha era a tua mãe. Nunca te interrogaste: -Será que a mamã gosta de passar tanto tempo na cozinha? - Mamã, gostas de estar na cozinha? - Quando lhe fizeste esta pergunta, a tua mãe não compreendeu o que querias dizer. - Gostas de passar tanto tempo na cozinha? Gostas de cozinhar? Os olhos da tua mãe fixaram os teus por um momento. - Eu não gosto nem deixo de gostar da cozinha. Tinha de ficar na cozinha para que vocês pudessem comer e ir para a escola. - Então... gostavas ou não? A tua mãe soltou um suspiro profundo. - Mas foi bom ver crescer os meus filhos...
- Quando é que fora a última vez que falaras à tua mãe de algo que te acontecera? A partir de uma certa altura, as conversas entre as duas simplificaram-se. Já nem sequer falavam na presença uma da outra - eram conversas telefónicas. Perguntavas-lhe se estava bem de saúde, se andava a comer bem, como é que o pai estava, que o pai devia ter cuidado para não apanhar frio...»
Para o filho “o desaparecimento da mãe levara-o a lembrar-se de uma série de acontecimentos de que ele achava que já se tinha esquecido por completo... a mãe escolhia um dia de sol e retirava todas as portas da casa. Esfregava as portas com água e deixava-as a secar ao sol. Porque é que ninguém ajudava a mãe, se, ainda por cima, havia tantos homens na família? Será que aquela era a aventura mais entusiasmante a que a mãe podia entregar-se naqueles tempos?»
Quem era, afinal, a mãe, o que sentia, o que a alegrava ou entristecia, porque terá agido desta ou daquela forma? Não se pode voltar atrás para emendar o que foi feito ou, mais importante, o que foi omitido, esquecido, aquilo a que ninguém deu importância.
E o final grandioso dá-nos a chave para entender o título do livro: «A Cidade do Vaticano é o país mais pequeno do mundo... Enquanto ouves as explicações do guia, as palavras da tua mãe surgem inopinadamente diante dos teus olhos. A tua mãe perguntou-te qual era o país mais pequeno do mundo. E pediu-te que lhe comprasses um rosário de pau-rosa se alguma vez fosses a esse país... - Tem rosários de pau-rosa? Abres o estojo com o rosário. A fragrância a rosas espalha-se logo que abres o estojo. Seria possível que a mãe conhecesse este odor? Com o rosário de pau-rosa na mão, começas a andar na direcção da Basílica de São Pedro. Colocas o rosário de pau-rosa diante da Pietà e ajoelhas-te. A catedral do mais pequeno país do mundo cai num profundo silêncio. Talvez tivesses vindo a Roma porque querias suplicar: Por favor, não te esqueças da mamã, - Por favor... Por favor cuida da mamã.»
Este é um livro comovente que nos leva a olhar a Mãe com um novo olhar, mais afirmativo, mais activo. Que felizes somos quando aproveitamos bem o tempo que passamos com ela!
Rosa Ventura |
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