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sábado, 4 de novembro de 2017

O fenómeno de Fátima

No fenómeno de Fátima, o importante é a mensagem transmitida pela Senhora aos três pastorinhos, três crianças inocentes. Não importa saber se as crianças tiveram visões ou aparições, como disse o papa Francisco. O que importa é  centrarmo-nos na espiritualidade da mensagem que pede penitência e oração, duas atitudes arredadas do mundo atual, em que tudo se quer de imediato, e este tudo é apenas de ordem material.

O fundamental é de facto a mensagem, mas também me parece importante conhecermos os mensageiros. Jacinta e Francisco são talvez mais conhecidos, pois a sua vida curta e passada na aldeia dá-nos a conhecer vários episódios, embora nem sempre analisados em profundidade. Francisco era um contemplativo que passava horas na igreja a fazer companhia a «Jesus escondido». Para não ser importunado por quem o procurava, porque sabiam que ele se encontrava na igreja, escondia-se no púlpito ou no coro. Jacinta era uma asceta: para além da oração praticava o sacrifício e sacrifícios duros. Foi ela a primeira a  revelar Fátima, ao «dar com a língua nos dentes». Não obedeceu à ordem da Lúcia para manterem segredo da Aparição. Nada acontece por acaso e, no plano de Deus, estava prevista essa inconfidência. A mensagem tinha de se espalhar. Se Lúcia foi escolhida para a espalhar pelo mundo e, por isso, teve uma longa vida, Jacinta foi escolhida para a dar a conhecer de imediato.

Desde muito pequena, que conheço a história dos pastorinhos. Primeiro, com toda a aceitação, sem dúvidas, hoje com muitas interrogações para as quais  procuro respostas que não encontro, por muito que leia e me informe. Aceito o fenómeno de Fátima como sobrenatural, aceito a santidade daqueles dois meninos que praticaram virtudes heroicas: horas de oração, quando o natural das crianças é brincar, privarem-se de  beber água em dias de muito calor, em reparação dos pecados do mundo. É heroísmo. Quando a um teólogo português perguntaram o que pensava da canonização de Jacinta e Francisco, ele de forma populista, na minha opinião, achou que qualquer criança merece ser canonizada, pela sua inocência, pela sua candura. Não é o que penso. É do meu tempo de infância, nas aulas de religião, mandarem-nos fazer sacrifícios, rezar pelos pecadores. Quantos de nós o faziam? E fazer-sobretudo com a intensidade e seriedade com que Francisco e Jacinta o faziam?

A Igreja Católica tem, no seu ideário, o conceito de Reparação. Reparação pelo mal que é feito, pelas ofensas feitas a Deus. As outras igrejas cristãs não perfilham esta ideia de reparação. Este conceito de Reparação faz parte da mensagem de Fátima. E Jacinta e Francisco interiorizaram-na e praticaram-na.

Fez cem anos, em19 de agosto, que a Senhora de Fátima apareceu, não na Cova da Iria, mas em Aljustrel, num lugar chamado  Valinhos. Lúcia, viu os sinais que anunciavam a chegada da Senhora. Francisco estava com ela, mas Jacinta não. Então Lúcia deu uma moeda a um primito, para que fosse chamar Jacinta. Só depois da chegada da menina, é que a Senhora apareceu. Um vizinho, quando soube, disse para o pai de Jacinta: «Ó ti Marto, olhe que a sua pequena tem virtude, pois Nossa Senhora só  apareceu depois de ela chegar.»

Três crianças espalharam pelo mundo uma mensagem de paz. De um lugar ermo fizeram um Altar do Mundo.

Cecília Resende



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