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quinta-feira, 23 de novembro de 2017

A Orquestração

No prefácio do romance “Os Capitães e os Reis”, publicado em 1972, a britânica Taylor Caldwell dedicou o livro aos “jovens da América, que estão se rebelando porque sabem que alguma coisa está errada em seu país, embora não saibam exatamente o que seja”. A autora surpreendeu ao afirmar que existia “de fato uma ‘conspiração contra o povo’ e provavelmente sempre existirá, pois os governos sempre foram hostis aos governados”. Conspiradores e conspirações, segundo ela, tornaram-se uma só coisa a partir do século XIX, “com um único propósito, um único objetivo, uma única determinação. Isso nada tem a ver com qualquer ‘ideologia’ ou forma de governo, com ideais ou ‘materialismo’, com qualquer uma das frases ou palavras de efeito com que tão generosamente se alimentam as massas desinformadas. Nada tem a ver com raças ou religiões, porque os conspiradores estão acima de tais coisas, que consideram como ‘frivolidades’. Estão acima e além do bem e do mal. Os Césares que colocam no poder são criaturas suas, quer saibam ou não. Os povos de todas as nações impotentes, quer vivam na América do Norte, Europa, Rússia, China, África ou América do Sul. E continuarão impotentes e indefesos, até que se apercebam do verdadeiro inimigo. O Presidente John F. Kennedy sabia do que estava falando ao se referir aos ‘Gnomos de Zurique’. E talvez soubesse demais!“.

Maquiavélico da cabeça aos pés, tal sistema usa arma letal contra os que se põem no caminho: acaba com a reputação do inimigo em horas. Lembro de Caldwell quando vejo linchamentos de opinião. Até hoje há controvérsia sobre a morte de Kennedy, um sujeito carismático, com família numerosa e feliz. A motivação de sua morte jamais foi elucidada e a Comissão Warren foi uma empulhação. Como desmoralizar Kennedy? Pela via insidiosa: plantaram Marylin Monroe. Sua exposição midiática, cantando Happy Birthday de forma sensual não foi muito verossímil. Ou é plausível uma exposição daquelas, sugerindo à nação a traição conjugal do presidente?

Decorrido mais de meio século do assassinato em Dallas, os tiros que liquidaram John Kennedy e, depois, seu irmão Bob em Los Angeles, ainda ecoam, denunciando a perseguição a uma estirpe. O raio caíra duas vezes na mesma família, frustrando desde então a possibilidade de um presidente católico nos Estados Unidos. Vale lembrar que, para todos os efeitos, Lee Osvald, um dos maiores bodes expiatórios da história, agiu sozinho. Para crer nesta versão é preciso bem mais do que fé na justiça norteamericana. É necessária também uma boa dose de estultice.

Deixemos de lado os Kennedy e pousemos os olhos na nomeação do ministro do Supremo, que deverá substituir o relator da Lava-Jato. Alguns nomes foram lançados para imediata imolação. Dentre eles, um tem notável pedigree: Ives Gandra Martins Filho. Mal seu nome foi anunciado na arena das possibilidades, um veículo de comunicação de expressão nacional assacou restrições contra ele, ferindo uma norma jornalística de não adjetivar, direta ou indiretamente.

Tentando destruir sua reputação, o texto o identifica como um retrógrado porque defende que "A mulher deve obedecer e ser submissa ao marido". O apresenta como um sujeito bizarro por ter afirmado que o casamento de dois homens ou duas mulheres é antinatural. A matéria informa ainda que ele é “contrário ao aborto, ao divórcio e à distribuição de pílulas anticoncepcionais em hospitais públicos”, que pertence ao “Opus Dei, organização católica ultraconservadora, e diz ser celibatário”. A coisa só piora: “Por trás de todas as posições expressas no artigo estão duas bandeiras do Opus Dei: o ataque ao aborto em qualquer situação e a defesa da ideia de que só existe família na união de um homem e de uma mulher”. Alto lá! Ataque ao aborto? Como assim? O verdadeiro ataque é o aborto! Martins Filho já se manifestou a respeito. Lembrou que é preciso contextualizar suas manifestações, coisa que a matéria, por alguma razão, não fez.

Vibrando palavras de ordem, gritando jargões e classificando a defesa da vida como um comportamento inadmissível, estes detratores seriam capazes de negar a lei da gravidade. A arte de mentir e tergiversar, de semear dúvidas e atacar o óbvio tem cheiro de enxofre... Para os que ignoram o que seja o Opus Dei, recomendo que se instruam. Ordem pessoal criada por Santo Escrivá, exige que seus sacerdotes tenham profissão liberal antes de se consagrarem, contribuindo para que não assumam a vida religiosa sem vocação. Ademais, os padres do Opus Dei devem, em algum momento, concluir doutorado na Gregoriana de Roma. Tentar denegrir o Opus Dei como se fosse a quintessência do atraso não passa, portanto, de desinformação. Seria mais saudável discutir a essência das ideias e não simplesmente rejeitá-las por sua idade.

J. B. Teixeira



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