Em Outubro de 2017,concluía-se o ciclo da Aparições Marianas na Cova da Iria, em Fátima, e iniciava-se, nesse mesmo mês e ano a Revolução Russa, conhecida como Revolução de Outubro. Dois acontecimentos que tiveram repercussão mundial. Ambos aconteceram nos dois lados opostos do continente europeu. Os dois de sinal contrário um ao outro.
A revolução comunista-bolchevique anunciava ao mundo ter encontrado a verdade absoluta e a única via para a felicidade de toda a Humanidade. Essa via passava pela implantação de uma sociedade sem classes e pela substituição da religião, considerada o ópio do povo, pelo materialismo e o ateísmo.
As Aparições de Fátima são dominadas pela espiritualidade: oração e penitência. Os dois acontecimentos vão-se cruzar. Quando Lúcia publica as suas Memórias, em 1941, na descrição que faz da terceira aparição, refere os erros espalhados pela Rússia, nações aniquiladas, guerras e perseguições à Igreja. E assim aconteceu. No momento das Aparições, as crianças não entenderam o que significava Rússia. Falavam entre elas, porque Lúcia queria que as Aparições ficassem em segredo, mas Jacinta não aguentou. Mas daí para a frente nada mais disseram sobre as revelações da Senhora. Ao falarem entre si, rezavam pela conversão dessa senhora chamada Rússia, que Lúcia achava que era uma mulher muito pecadora. Jacinta, essa, pensando tratar-se de uma burra, perguntou à prima se era a Ruça do Ti Manel. Este episódio, além de mostrar a inocência dos pastorinhos, ilustra bem a distância geográfica e consequentemente a falta de comunicação entre os dois países.
Nessa mesma aparição, em julho de 2017, a Senhora fala igualmente da conversão da Rússia, depois de ser consagrada ao Imaculado Coração de Maria. A Rússia é um país cristão, na variante ortodoxa. Maria é muito venerada, como Mãe de Jesus ou como Mãe de Deus.
A religião ortodoxa não usa estátuas, mas imagens, a que chama ícones, isto é, imagem em grego. E são maravilhosos. Um deles, comum aos católicos e aos ortodoxos, é Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.
A religião ortodoxa está representada em Fátima com a sua igreja em estilo bizantino, cuja cúpula em forma de cebola, se vê por trás do Santuário. Nesse templo esteve durante muito tempo o ícone de Nossa Senhora de Kazan, um dos mais venerados no seio dos ortodoxos russos, pois ele, segundo a Igreja Ortodoxa Russa e os seus crentes, protegeu a Rússia em momentos fulcrais da sua História.
O generalíssimo Mikhail Kutuzof, comandante do exército contra Napoleão trazia sempre ao peito uma cópia do ícone de Nossa Senhora de Kazan a quem a tradição atribui a vitória sobre as tropas francesas.
Outro facto da ajuda de Nossa Senhora à Nação Russa teve lugar em 1941, perante o avanço das tropas hitlerianas, travado às portas de Moscovo de forma inexplicável. Vários são os templos construídos na Rússia, especialmente em Moscovo e São Petersburgo dedicados à Virgem de Kazan.
No início do séc. XIX, havia quatro ícones: o original em Kazan, duas cópias em Moscovo e São Petersburgo e outra em Diveev, no sul da Rússia. Assim, o país estava protegido a norte, a sul, a oriente e a ocidente. Em 1904, o original foi roubado e nunca recuperado. A cópia guardada em São Petersburgo foi destruída pelo regime comunista; a que se encontrava em Kazan chegou aos nossos dias. E como se cruza a Virgem de Kazan com a Virgem de Fátima?
O Exército Azul foi fundado nos Estados Unidos nos finais dos anos 40 para ser «o Exército Azul de Maria e de Cristo contra o vermelho do mundo e de Satanás. Como se sabe, no final da Segunda Guerra Mundial, o comunismo saltou para além da União Soviética, ocupando metade da Europa e países como a China, parte do Vietname e da Coreia e outros.
Tendo em conta a revelação de Fátima, o Exército Azul instalou a sua sede internacional na Cova da Iria e construiu a igreja bizantina, a que já me referi, para acolher o ícone da Virgem de Kazan que tinha comprado na feira Mundial de Nova Iorque, em 1964. Em 1993, O Exército Azul, agora chamado Apostolado Mundial de Fátima, transferiu a propriedade do ícone para a Santa Sé, para uso do Santo Padre. Durante anos, o ícone da Mãe de Deus de Kazan esteve no apartamento de João Paulo II até ter decidido oferecê-lo a Sua Santidade Alexis II, Patriarca de Moscovo e de todas as Rússias.
Cecília Rezende
Artigo fantástico e oportuno.
ResponderEliminarParabéns