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domingo, 15 de abril de 2018

Como é possível haver horóscopos nos jornais?


«O astrónomo alemão Johannes Kepler (1571 – 1630) descobriu as leis que descrevem o movimento dos planetas. E também fazia horóscopos. A esse propósito disse que Deus tinha dado meios de sustento a todas as criaturas e que aos astrónomos tinha dado a astrologia. Nessa altura a astronomia e a astrologia ainda estavam juntas, mas a partir daí seguiram caminhos separados.

Uma afirmou-se como ciência, que rapidamente permitiu prever eclipses ou a passagem de cometas com grande exactidão. A astrologia continuou a ser um modo de sustento para os seus praticantes, que vendem os seus serviços inúteis a quem esteja disposto a pagar por eles. É uma falsa ciência baseada na ideia de que a posição dos astros no momento do nascimento define o nosso destino e personalidade. Resta saber como. (…)

A astrologia é uma pseudociência mas tem um amplo lugar cativo na generalidade dos meios de comunicação, ao contrário da ciência, cuja presença é bem mais intermitente. Mesmo os periódicos bastante respeitáveis por alguma razão não dispensam uma secção de astrologia. Será que os seus directores e editores estão convencidos de que os leitores mudariam de jornal caso não pudessem ler umas linhas que dizem uma coisa e o seu contrário? (…) Não é só na imprensa que os horóscopos e outras práticas místicas de previsão do futuro têm o lugar marcado. Também nas televisões, em particular nos programas da manhã, há tempos de antena assegurados para astrólogos e tarólogas, incluindo consultas em directo. (…)

A amplificação mediática deste tipo de misticismo contribui para aumentar o seu potencial de dano. Já era tempo de as direcções de programas das televisões e os editores de jornais e revistas reconsiderarem a opção de dar voz a estas falsidades. O inofensivo horóscopo, que muita gente lerá apenas por piada, é certo, contém em si a mesma ideia de credibilidade mágica que leva pessoas a aconselharem-se com estes videntes.»

Estimado leitor amigo, este texto foi retirado do recente livro* de dois cientistas da nossa praça – Carlos Fiolhais e David Marçal, no qual fazem um levantamento dos inimigos da ciência convidando-nos a fazer com eles um caminho de discernimento a fim de se poder compreender por onde se movem alguns sectores da nossa sociedade e o perigo que isso nos pode acarretar.
Se ciência sem consciência é um perigo para a alma, pseudociência sem consciência nem escrúpulos, o que será para a nossa pobre criatura que fica à mercê de vendilhões…

*A CIÊNCIA E OS SEUS INIMIGOS – GRADIVA

José M. Esteves 



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