
Em petição pública
Clara Raimundo | 26/08/2025
À medida que a situação humanitária em Gaza se agrava e se escuta cada vez mais alto o clamor internacional contra a intensificação da ofensiva israelita na região, são também cada vez mais os judeus a juntar as suas vozes a esse clamor. É o caso de 86 rabinos ortodoxos, que subscreveram na última semana uma petição pública em que apelam à “clareza moral, responsabilidade e resposta judaica ortodoxa diante da crise humanitária de Gaza”.
“Os pecados e crimes do Hamas não isentam o Governo de Israel da sua obrigação de envidar todos os esforços necessários para evitar a fome em massa”, escrevem os rabinos, alertando para o facto de “a justificada raiva contra o Hamas” se ter “expandido perigosamente por parte de alguns extremistas para uma suspeita generalizada de que toda a população de Gaza – incluindo as crianças – seja manchada como futuros terroristas”.
“Houve meses em que Israel bloqueou comboios humanitários sob a premissa equivocada de que o aumento do sofrimento levaria à rendição do Hamas. Em vez disso, o resultado foi o aprofundamento do desespero”, afirma o texto, cuja autoria foi assumida rabino Yosef Blau, ex-presidente dos Religious Zionists of America (Sionistas Religiosos da América), que se reformou e mudou para Israel este ano.
A petição lamenta ainda o aumento da violência dos colonos na Cisjordânia, utilizando o nome hebraico daquela zona: “Em Yehuda e Shomron, a violência extremista dos colonos resultou no assassinato de civis e forçou os aldeões palestinianos a deixarem as suas casas, desestabilizando ainda mais a região”, pode ler-se.
A lista de subscritores inclui nomes como David Rosen (ex-rabino-chefe da Irlanda e durante mais de 30 anos diretor internacional de assuntos religiosos do American Jewish comittee), Pinchas Giller (chefe do Departamento de Estudos Judaicos da American Jewish University), os rabinos-chefes da Polónia, Dinamarca e Noruega, e vários rabinos seniores das importantes congregações ortodoxas de Los Angeles e Washington.
Em grande parte oriundos da vertente liberal da Ortodoxia Moderna, “a carta deles é notável”, assinala a Jewish Telegraphic Agency, explicando que “as comunidades ortodoxas tendem a ser politicamente mais de direita e declaradamente sionistas na sua orientação, com jovens adultos a juntarem-se ao exército israelita após o ensino secundário ou a imigrar para Israel com mais frequência do que em denominações não ortodoxas”.
“O judaísmo ortodoxo, como um dos mais devotados apoiantes de Israel, tem uma responsabilidade moral única”, justificam por seu lado os rabinos na missiva. “Temos de afirmar que a visão de justiça e compaixão do judaísmo se estende a todos os seres humanos.”
Em comunicado, citado pela agência de notícias, o seu mentor justifica também: “O meu apoio a Israel e ao sionismo decorre do meu compromisso com o judaísmo. Uma lealdade acrítica é contraditória com a introspecção fundamental ao judaísmo”. Para o rabino rabino Yosef Blau, não restam dúvidas: “Quando a religião é usada para justificar a adoração ao poder, ela distorce a moralidade básica”.
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