Na Vigília Pascal Papa Francisco convida a não nos fechemos à novidade que Deus quer trazer à nossa vida!
Cidade do Vaticano,
Às 20h30 o Santo Padre Francisco presidiu na Basílica Vaticana, a solene Vigília Pascal na Noite Santa.
O rito começou no átrio da Basílica de São Pedro com a bênção do 
fogo e a preparação do círio pascal. Após  a procissão para o altar com o
 círio pascal aceso e o canto Exsullet, seguiu-se a Liturgia da
 Palavra e a Liturgia do Baptismo - durante a qual o Papa administrou os 
sacramentos da iniciação cristã (Baptismo, Confirmação e Primeira 
comunhão) para quatro neófitos, vindos da Itália, Albânia, Rússia e um 
vietnamita, que vive nos Estados Unidos – e a Liturgia Eucarística, 
concelebrada com os cardeais.
Publicamos abaixo a homilia  pronunciada pelo Papa Francisco  após a proclamação do Santo Evangelho:
Amados irmãos e irmãs!
1. No Evangelho desta noite luminosa da Vigília Pascal, encontramos 
em primeiro lugar as mulheres que vão ao sepulcro de Jesus levando 
perfumes para ungir o corpo d’Ele (cf. Lc 24, 1-3). Vão cumprir
 um gesto de piedade, de afecto, de amor, um gesto tradicionalmente feito
 a um ente querido falecido, como fazemos nós também. Elas tinham 
seguido Jesus, ouviram-No, sentiram-se compreendidas na sua dignidade e 
acompanharam-No até ao fim no Calvário e ao momento da descida do seu 
corpo da cruz. Podemos imaginar os sentimentos delas enquanto caminham 
para o túmulo: tanta tristeza, tanta pena porque Jesus as deixara; 
morreu, a sua história terminou. Agora se tornava à vida que levavam 
antes. Contudo, nas mulheres, continuava o amor, e foi o amor por Jesus 
que as impelira a irem ao sepulcro. Mas, chegadas lá, verificam algo 
totalmente inesperado, algo de novo que lhes transtorna o coração e os 
seus programas e subverterá a sua vida: vêem a pedra removida do 
sepulcro, aproximam-se e não encontram o corpo do Senhor. O caso 
deixa-as perplexas, hesitantes, cheias de interrogações: «Que 
aconteceu?», «Que sentido tem tudo isto?» (cf.Lc 24, 4). 
Porventura não se dá o mesmo também connosco, quando acontece qualquer 
coisa de verdadeiramente novo na cadência diária das coisas? Paramos, 
não entendemos, não sabemos como enfrentá-la. Frequentemente mete-nos 
medo a novidade, incluindo a novidade que Deus nos traz, a 
novidade que Deus nos pede. Fazemos como os apóstolos, no Evangelho: 
muitas vezes preferimos manter as nossas seguranças, parar junto de um 
túmulo com o pensamento num defunto que, no fim de contas, vive só na 
memória da história, como as grandes figuras do passado. Tememos as 
surpresas de Deus; temos medo das surpresas de Deus! Ele não cessa de 
nos surpreender!
Irmãos e irmãs, não nos fechemos à novidade que Deus quer trazer à 
nossa vida! Muitas vezes sucede que nos sentimos cansados, desiludidos, 
tristes, sentimos o peso dos nossos pecados, pensamos que não 
conseguimos? Não nos fechemos em nós mesmos, não percamos a confiança, 
não nos demos jamais por vencidos: não há situações que Deus não possa 
mudar; não há pecado que não possa perdoar, se nos abrirmos a Ele.
2. Mas voltemos ao Evangelho, às mulheres, para vermos mais um ponto.
 Elas encontram o túmulo vazio, o corpo de Jesus não está lá… Algo de 
novo acontecera, mas ainda nada de claro resulta de tudo aquilo: levanta
 questões, deixa perplexos, sem oferecer uma resposta. E eis que 
aparecem dois homens em trajes resplandecentes, dizendo: «Porque buscais
 o Vivente entre os mortos? Não está aqui; ressuscitou!» (Lc 24,
 5-6). E aquilo que começara como um simples gesto, certamente cumprido 
por amor – ir ao sepulcro –, transforma-se em acontecimento, e num 
acontecimento tal que muda verdadeiramente a vida. Nada mais permanece 
como antes, e não só na vida daquelas mulheres mas também na nossa vida e
 na história da humanidade. Jesus não está morto, ressuscitou, é o Vivente! Não regressou simplesmente à vida, mas é a própria vida, porque é o Filho de Deus, que é o Vivente (cf. Nm 14, 21-28; Dt 5,
 26, Js 3, 10). Jesus já não está no passado, mas vive no presente e 
lança-Se para o futuro: é o «hoje» eterno de Deus. Assim se apresenta a 
novidade de Deus diante dos olhos das mulheres, dos discípulos, de todos
 nós: a vitória sobre o pecado, sobre o mal, sobre a morte, sobre tudo o
 que oprime a vida e lhe dá um rosto menos humano. E isto é uma mensagem
 dirigida a mim, a ti, amada irmã e amado irmão. Quantas vezes 
precisamos que o Amor nos diga: Porque buscais o Vivente entre os 
mortos? Os problemas, as preocupações de todos os dias tendem a 
fechar-nos em nós mesmos, na tristeza, na amargura… e aí está a morte. 
Não procuremos aí o Vivente!
Aceita então que Jesus Ressuscitado entre na tua vida, acolhe-O como 
amigo, com confiança: Ele é a vida! Se até agora estiveste longe d’Ele, 
basta que faças um pequeno passo e Ele te acolherá de braços abertos. Se
 és indiferente, aceita arriscar: não ficarás desiludido. Se te parece 
difícil segui-Lo, não tenhas medo, entrega-te a Ele, podes estar seguro 
de que Ele está perto de ti, está contigo e dar-te-á a paz que procuras e
 a força para viver como Ele quer.
3. Há ainda um último elemento, simples, que quero sublinhar no 
Evangelho desta luminosa Vigília Pascal. As mulheres se encontram com a 
novidade de Deus: Jesus ressuscitou, é o Vivente! Mas, à vista do túmulo
 vazio e dos dois homens em trajes resplandescentes, a primeira reacção 
que têm é de medo: «amedrontadas – observa Lucas –, voltaram o rosto 
para o chão», não tinham a coragem sequer de olhar. Mas, quando ouvem o 
anúncio da Ressurreição, acolhem-no com fé. E os dois homens em trajes 
resplandescentes introduzem um verbo fundamental: «Lembrai-vos de como 
vos falou, quando ainda estava na Galileia (...) Recordaram-se então das
 suas palavras» (Lc 24, 6.8). É o convite a fazer memória do
 encontro com Jesus, das suas palavras, dos seus gestos, da sua vida; e é
 precisamente este recordar amorosamente a experiência com o Mestre que 
faz as mulheres superarem todo o medo e levarem o anúncio da 
Ressurreição aos Apóstolos e a todos os restantes (cf. Lc 24, 
9). Fazer memória daquilo que Deus fez e continua a fazer por mim, por 
nós, fazer memória do caminho percorrido; e isto abre de par em par o 
coração à esperança para o futuro. Aprendamos a fazer memória daquilo 
que Deus fez na nossa vida.
Nesta Noite de luz, invocando a intercessão da Virgem Maria, que guardava todos os acontecimentos no seu coração (cf. Lc 2,
 19.51), peçamos ao Senhor que nos torne participantes da sua 
Ressurreição: que nos abra à sua novidade que transforma, às surpresas 
de Deus; que nos torne homens e mulheres capazes de fazer memória 
daquilo que Ele opera na nossa história pessoal e na do mundo; que nos 
torne capazes de O percebermos como o Vivente, vivo e operante no meio 
de nós; que nos ensine cada dia a não procurarmos entre os mortos Aquele
 que está vivo. Assim seja.
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