Eurodeputada Cristiana Muscardini luta contra a tendência de alguns países a intervir com termos extravagantes na configuração da sociedade
Roma, 12 de Março de 2014 (Zenit.org) Federico Cenci
Existe alguém, nos salões do Parlamento da União Europeia,
que está lutando para defender o direito das crianças de chamar seus
pais de... pai e mãe. É um direito aparentemente óbvio, pelo qual
ninguém precisaria estar lutando. Mas... De acordo com uma terminologia
escolar que parece estar se espalhando como fogo por alguns
países-membros da União Europeia, até mesmo este direito evidente está
sendo inesperadamente pisoteado.
É por isso que, na semana passada, a eurodeputada italiana Cristina
Muscardini se mobilizou: mulher combativa, ela escreveu de próprio
punho uma carta ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos e fez um
questionamento parlamentar.
Ela nos conta: "Nós temos um fenómeno que está ganhando cada vez mais
terreno: o de uma burocracia que distorce a realidade para promover o
suposto ‘politicamente correto’. Em vários países-membros da União
Europeia e em várias localidades da Itália, estão substituindo os campos
‘pai’ e ‘mãe’, nos formulários escolares, por umas ‘figuras
mitológicas’ em ordem hierárquica: ‘genitor 1’ e ‘genitor 2’".
Muscardini considera essa tendência “grotesca” e dispara: "Não
podemos aceitar isso. E não é por razões ideológicas nem religiosas, mas
simplesmente porque é contra os fatos reais e contra a lei da natureza:
um filho tem um pai e uma mãe, sejam eles conhecidos ou não".
Quando pergunto até que ponto, mesmo não tendo jurisdição sobre tais
assuntos, a União Europeia está incentivando uma cultura que põe em
xeque o conceito tradicional de família, Muscardini me responde com
palavras contundentes: "Desde os relatórios Estrela e Lunacek, em
praticamente todas as sessões plenárias nós ficamos discutimos leis que
querem regulamentar a sexualidade das pessoas impondo normas europeias".
Se o relatório Estrela foi mandado embora do Parlamento Europeu pela
porta, os princípios contidos nele voltaram a Estrasburgo pela janela,
através do relatório Lunacek, aprovado no mês passado. Muscardini
acredita que é "louvável" a iniciativa do relatório de combater a
homofobia, mas vê nele "contornos lábeis que podem minar a liberdade de
expressão para aqueles que, sem ser homofóbicos, criticam certas
configurações familiares e as normas que as regulamentam".
A eurodeputada se diz preocupada com este novo relatório: "O objectivo
dele é levar para as escolas, desde bem cedo, a ideologia de género. E
mais importante: ele invade o campo dos direitos da família, que é de
competência dos países-membros. É um sinal que alguns grupos dentro do
Parlamento Europeu quiseram dar à sociedade". Mas, levando em conta que
"isso não terá um grande impacto do ponto de vista legislativo", a
parlamentar vê o relatório como algo confinado ao âmbito da “mera
propaganda”.
Muscardini, porém, espera atenção maior da UE para questões mais
urgentes. "É muito estranho que haja tanto activismo no tocante à
sexualidade e um silêncio tão culpado no tocante à situação das crianças
na Europa". Sua referência é ao “Jugendamt”, instituto alemão que, no
caso de filhos de casais mistos, determina que as crianças filhas de pai
ou mãe alemães devem viver na Alemanha, falar alemão e não ter
praticamente nenhuma relação com o progenitor não-alemão, nem com sua
família, nem com sua cultura. "Numa Europa que liberalizou bens e
pessoas, as crianças ainda não têm direitos iguais nos diferentes países
da União. Isso não vai favorecer o nascimento nem o crescimento da
própria União".
Voltando aos esforços contra a terminologia extravagante, a deputada
italiana no Parlamento Europeu apresentou uma proposta alternativa aos
termos "genitor 1" e " genitor 2": "Na sociedade moderna, também existem
tutores, pais adoptivos, casais gays, pais divorciados e recasados,
mães solteiras, enfim, uma série interminável de casuísticas que
poderíamos reunir no termo ‘outros’. É isso o que eu proponho como
alternativa: incluir a categoria ‘outros’ ao lado de ‘mãe’ e ‘pai’. Esta
é uma proposta inclusiva, não exclusiva".
“Não temos que pensar só nos casais homossexuais, que, aliás, não são
tantos, mas também nos avós, tias, tios, tutores e pessoas que adoptam
ou cuidam de órfãos ou de crianças obrigadas a se separar dos pais por
causa de situações-problema".
Pergunto a ela se esta é uma proposta concreta ou uma provocação.
Ela responde: "É uma proposta inclusiva e de bom senso". Depois de um
suspiro, porém, ela completa: "Mas o bom senso, na Itália de hoje, já
virou uma provocação".
(12 de Março de 2014) © Innovative Media Inc.
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