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quarta-feira, 12 de março de 2014

"Francisco não pode e não quer esquecer os pobres"

Primeiro ano de pontificado: Víctor Manuel Fernández, colaborador do então arcebispo de Buenos Aires, revela em novo livro um rosto inédito do papa


Roma, 12 de Março de 2014 (Zenit.org)


“Para Francisco, os pobres são uma questão de fé. Eu sei que alguns o definiram como marxista, mas nós temos que lembrar o que os apóstolos disseram a São Paulo, que foi até os Doze, em Jerusalém, para saber se a sua pregação estava em consonância com o anúncio cristão. Os apóstolos deram a ele uma única recomendação: 'Não te esqueças dos pobres!'. Isto é palavra de Deus, não marxismo".

Com estas palavras, mons. Víctor Manuel Fernández, teólogo argentino e estreito colaborador do então cardeal Jorge Mario Bergoglio, comenta o primeiro aniversário da eleição do papa Francisco. Fernández trabalhou com Bergoglio na preparação do documento de Aparecida, elaborado pela assembleia dos bispos latino-americanos em 2007. Fernández publicou recentemente o livro “O projecto de Francisco: para onde ele quer levar a Igreja”, pela Editora Missionária Italiana. O texto é fruto de um longo diálogo com Paolo Rodari, jornalista de La Repubblica.

“A Igreja não pode ficar só no meio de alguns grupos, esquecendo os outros”, explica Fernández, que é definido por diversos observadores como "o teólogo de Bergoglio" devido à sua estreita proximidade do papa. “Ela não deve nem sequer se ocupar apenas dos pobres, mas, evidentemente, tem que se preocupar também com eles: o cristão tem que ser amigo dos últimos, estar próximo pelo menos de alguns deles, para não permanecer como um espectador da pobreza do mundo. Eu me lembro de um bispo aqui na Argentina que disse a um grupo de freiras: ‘Mas o que vocês estão fazendo lá naquele bairro? Procurem outro mais rico, lá não tem futuro para vocês’. Isso não é um olhar de fé. Francisco tem um olhar de fé. Ele não quer e não pode esquecer os pobres".

"Quando Francisco pede para a Igreja sair de si mesma e ir ao encontro das pessoas, ela tem um motivo muito concreto: ela sabe que o homem só se realiza em plenitude quando ele sai de si mesmo. O homem chega até si mesmo quando sai de si mesmo. A Igreja sai de si mesma quando acolhe o Evangelho e dá o Evangelho aos outros. O que Francisco pede é que a Igreja anuncie o Evangelho ‘corpo a corpo’. Mas o que se entende com essa expressão? Que o tempo dos trabalhadores da Igreja não pode se perder em reuniões e planeamentos pastorais. Os homens e mulheres da Igreja têm que passar 90% do seu tempo encontrando as pessoas: é assim que o Evangelho chega até as pessoas".

Quanto à ligação entre o então cardeal Bergoglio e Bento XVI, Fernández recorda um episódio de alguns anos atrás: "Bergoglio gostava muito do papa Bento. Um ano, durante o ápice dos ataques da media contra a pessoa dele, Bergoglio me convidou a dar uma homilia no dia da Cátedra de São Pedro na catedral de Buenos Aires. Ele me pediu expressamente para falar bem do papa Ratzinger. Eu via que muita gente não gostava dele e o criticava. Mas Bergoglio me disse: ‘Ajude as pessoas a olhar com fé para o papa Bento’. Ele gostava muito do papa e do seu ensinamento".

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