Rabino Abram Skorka fala dos desafios apresentados pela próxima visita do papa Francisco à Terra Santa
Roma, 17 de Janeiro de 2014 (Zenit.org) Luca Marcolivio
Hóspede da Pontifícia Universidade Gregoriana, o rabino de
Buenos Aires, Abram Skorka, falou detalhadamente sobre a sua amizade com
o papa Francisco, as relações judaico-cristãs e as perspectivas da
visita pastoral do Santo Padre à Terra Santa.
Na conferência pública realizada ontem à noite no auditório da
universidade jesuíta, participou também o cardeal Kurt Koch, presidente
do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos e da
Comissão para as Relações Religiosas com os Judeus. A conferência foi
aberta pelo reitor, pe. François-Xavier Dumortier, SJ.
Conforme explicado pelo cardeal Koch, a mesa redonda de ontem foi
também um tributo à memória do cardeal jesuíta alemão Augustin Bea
(1881-1968), figura de destaque do Concílio Vaticano II, pioneiro do
diálogo judaico-cristão e um dos principais arquitectos da declaração
Nostra Aetate. O Centro de Estudos Judaicos da Universidade Gregoriana
homenageia o nome do cardeal Bea.
O rabino Skorka apresentou o contexto histórico da pluralidade
multicultural e religiosa de Buenos Aires, que, desde o século XIX, se
tornou destino de vítimas de perseguição política e de minorias étnicas
da Europa, dando vida à maior comunidade judaica da América Latina.
O diálogo judaico-católico na Argentina, disse o rabino, vem
historicamente de antes do Vaticano II e, de alguma forma, foi precursor
das suas ideias a partir do nascimento, em 1956, da primeira
fraternidade judaico-cristã do subcontinente latino-americano.
O verdadeiro propósito do diálogo inter-religioso, disse Skorka, “é
essencialmente a explicação do porquê da nossa fé, do motivo de sermos
judeus em vez de cristãos. É uma prática que não pode ser fim em si
mesma e que deve evitar a auto-complacência, fugindo das tentações de
proselitismo”.
Só assim poderemos "nos conhecer e amar", disse o rabino, destacando
que, em hebraico, os verbos conhecer e amar são sinónimos. "Deus está em
cada homem. Por isso, respeitar a Deus significa respeitar quem está
perto de mim", declarou.
O diálogo inter-religioso, observou ainda, se divide em três níveis:
os dois primeiros são o conhecimento e o amor; depois vem o nível
teológico, que, em particular nas relações judaico-cristãs, pode ser
bastante frutuoso. "Durante o nosso último encontro, o papa Francisco
disse que o próximo passo é justamente o teológico", afirmou o rabino de
Buenos Aires.
Recordando o calote argentino de 2001, Skorka comentou que a crise
foi uma oportunidade na qual "as instituições religiosas foram chamadas a
colaborar umas com as outras de maneira profunda".
Sobre a próxima visita do papa Francisco à Terra Santa, o rabino de
Buenos Aires espera que a viagem inspire uma "mensagem de paz", embora o
papa "não vá resolver todos os problemas; pelo menos ele vai deixar um
sinal".
ZENIT perguntou sobre as armadilhas desta visita pastoral, em
particular sobre o risco de uma "banalização" do evento. Skorka
respondeu que "há grandes expectativas entre todas as pessoas" devido ao
"grande carisma" de Francisco, e que, deste ponto de vista, o desafio
para o papa será precisamente demonstrar que uma viagem desse tipo não é
uma trivialidade.
ZENIT perguntou também qual é a visão do rabino sobre o diálogo entre
cristãos e muçulmanos, revitalizado pelo papa Francisco especialmente
depois da mensagem por ocasião do Ramadã. Skorka considera que o diálogo
inter-religioso é uma necessidade para todas as religiões e não deve
excluir nenhuma fé.
O rabino acrescentou que as relações judaico-cristãs, no entanto,
sempre terão uma vantagem em virtude das raízes comuns abraâmicas, “que
nos tornam, em certo sentido, parentes”. Além disso, foi no contexto
histórico judaico que o cristianismo veio à luz.
É significativo, observa Skorka, que Jesus fosse chamado de rabi, ou
seja, rabino, mestre. Do ponto de vista teológico, "a relação é muito
profunda".
Com o islã também há raízes abraâmicas em comum, mas as
circunstâncias históricas levaram a uma diversidade maior, que torna o
diálogo mais complexo, pelo menos no âmbito teológico. É um caso
parecido com o das relações entre as três religiões monoteístas e o
budismo, por exemplo.
Em todo caso, reiterou o rabino, o diálogo inter-religioso é sempre
necessário pelo menos nos dois primeiros níveis, o do conhecimento e o
do amor, e deve ter como pilar essencial "o respeito pela vida" em todas
as suas formas.
(17 de Janeiro de 2014) © Innovative Media Inc.
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