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terça-feira, 19 de agosto de 2014

Coreógrafa, maestra, matemática… Concebida com violência, defende o direito a viver de todos

Ana Luisa Baquedano, contra o aborto «por violação» 

Ana Luisa Baquedano soube há pouco que foi gerada num
acto violento... Mas isso só reforça o seu agradecimento
à vida, a sua apreciação por cada ser humano
Actualizado 7 de Julho de 2014

Portaluz / ReL

O Réquiem de Mozart, tem um significado especial para a coreógrafa chilena Ana Luisa Baquedano, porque na dança dá o eco à sua própria história.

Gerada quando a sua mãe foi abusada, Ana Luisa defende o direito à vida das crianças por nascer.

Na tarde de uma quarta-feira de Outono estava invadida pelo frio e o céu advertia que logo a chuva ia empapar os transeuntes que caminhavam pela avenida Kennedy em Las Condes, Santiago de Chile.

Trabalhando com crianças e jovens
Desde fora, a janela da academia de dança Movimento Moderno (Mo-Mo) dirigida por Ana Luisa Baquedano trabalha, e o grosso vidro generosamente deixa ver um grupo de jovens que movem com elasticidade surpreendente os seus corpos, seguindo em cada momento as instruções de Ana, a sua maestra e coreógrafa.

Ela não deixa de gesticular, enquanto de fundo soa uma ténue melodia de piano. Entusiasmada, usa um maternal tom de voz para dizer “basta por hoje, recordem ensaiar os vossos passos, abriguem-se meninos e vão para casa”.

Chile e o truque do «aborto por violação»

Quando a presidente do seu país, Chile, empurra para o poder legislativo para que aprove uma lei que despenalize o aborto, Ana apresenta o seu testemunho em Portaluz e a sua voz é a daqueles que não a tem para poder defender-se… Os milhares de embriões que em virtude desse projecto de lei seriam abortados.

Seres humanos que como ela poderiam ser gerados numa situação de abuso e cujas vidas são sentenciadas.

Mas Ana viveu, a sua mãe tomou a opção do amor que sublima e ela hoje com a sua mais recente obra -“Missa de Réquiem”- expõe com a plástica beleza da dança o triunfo da vida.

“São três os valores fundamentais que entrega Réquiem: o respeito a Deus, o respeito à vida, o respeito à terra”, sentencia. 

Dar graças por viver
Ao iniciar, aclara que se acede a contar a sua história “não é para promover o mórbido”, mas sim, porque crê que o seu testemunho ajudará a que outras mulheres “tenham outra visão do que é a vida”.

Há pouco mais de um ano, quando cumpria 54 anos, a sua mãe abriu-lhe o seu coração confessando-lhe que a tinha concebido depois de ser abusada.

“Era forte escutá-la, mas por sua vez serviu para encontrar sentido em muitas coisas”, explica e acrescenta que depois da revelação só houve um estremecedor abraço que serviu para “dar-lhe as graças a Deus por viver… Para encontrar sentido aos meus temores, às minhas apreensões, encontrar sentido a toda a minha vida, em geral, de porque tinha a necessidade de cuidar de crianças, de cuidar de animais. Sempre cuidei dos bebés, já seja um cão, um gato, um papagaio, um canário, um sapo, o que seja. E através da minha arte, criei crianças desde os 3 até aos 45 anos, mais ou menos”.

Educar desde a maternidade
Esta maternidade que late no seu ser selou a vocação como educadora. Licenciada em Matemáticas, há uns anos decidiu ensinar os números através da dança, porque “tudo tem um equilíbrio perfeito… Cada coisa que fazes ou realizas tem uma numeração e uma quântica, então, na minha sala ensino a importância que tem as proporções e as relações, tanto numericamente como emocionalmente. É importante ensinar a mover-se através do amor, e que amar a alguém não tem esse contexto, digamos, banal que lhe dão hoje em dia os meios de comunicação. O amar ao próximo é o importante, e amar intensamente a todos estes alunos também é importante. Quando tu ensinas através do amor, os frutos que tu recebes depois, são muito melhores”.

De um réquiem ao canto pela Vida
Depois do relato da sua mãe, Ana recorda ter partilhado a sua história em aulas com umas alunas. “Uma delas – indica - começou a insistir-me se poderia fazer pública a minha história. Ela trabalha numa fundação que se dedica a acompanhar as mulheres que querem abortar, chamada Fundação Chile Unido (www.chileunido.cl). Logo ela levou algumas mamãs para que vissem o espectáculo e disse-me que esta obra ajudaria a milhares de pessoas”.

Nunca pensou que a adaptação que fez durante 2007 voltaria a adquirir um novo matiz e que se transformaria, assinala, no “Canto à Vida de muitos corações” este ano.

“Quando me disseram que tinha que apresentar uma obra no teatro Municipal de Las Condes e me disse «de todas as minhas obras, qual é a melhor que poderia chegar às mamãs?» e escolhi Réquiem. Para mim, é uma obra magistral, a música é perfeita. É como se nessa música realmente um tocasse em Deus. Não sei se a escutaram, mas creio que é uma obra na qual pões a música desde que começa até que termina, e é perfeito”. 


Quem pode ser abortado
Hoje, sendo mãe de duas filhas, assume que dentro da sala a família cresce e que é mãe de “muitos mais”.

Sobre se houve “danos” atribuíveis ao modo em que foi gerada, expressa enérgica: “A verdade é que tive uma vida bastante feliz, tive um grupo de apoio, pude chegar à universidade, estudei, pude desenvolver-me. Creio que não incidiu em nada. Sinto-me hoje com uma força maior. Talvez foi tão brutal a concepção, que isso te gera um embrião forte, sólido e definido. Ou seja, creio que há algo, porque tenho uma personalidade forte e um carácter forte para educar a todas estas crianças”.

Ana está consciente do valor do seu testemunho quando o Chile planeia a despenalização do aborto, pois uma das três causas propostas refere ao modo em que foi concebida.

Uma vida individual desde a concepção
Directa, exige que se reconheça que “quando um espermatozóide com um óvulo se juntam, já há um ADN completo que tem memória, que tem sentido, que tem futuro e que tem toda uma vida organizada. Essa pessoa chega a este mundo e desenvolve-se com um potencial que já trás nos seus genes. Se não, para que descobrimos o ADN? Desde o momento da concepção já há um ser que tem uma história e que traz algo. Aí é onde vou eu… Que direito temos nós para eliminar ou decidir sobre essa vida? Não temos nenhum direito. Essa vida é absolutamente independente e nós somos portadores desse embrião”.

Por isso não partilha a lógica de aprovar a interrupção voluntária da gravidez em nenhuma das circunstâncias.

“Creio que a natureza é muito sábia e a natureza, os animais e os seres humanos, se vai o que se tem que ir e se deixa o que tem que deixar-se. Nós estamos já tomando decisões a esse nível, de decidir quem fica ou quem vai, e creio que isso não está nas nossas mãos. Creio que não somos nós quem tem que definir quem deve estar na terra e quem não. Creio que esse conceito as pessoas não o tem bem claro”.

Leia também: 8 razões e 4 testemunhos pelos quais uma violação não justifica que se aborte o bebé


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