Roma, a capital, sobreviveu. E eis uma figura de autoridade que
ficou do lado do povo e ajudou a enfrentar tudo… O Papa Simplício…
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| Foto: wikipedia |
A festa que celebramos hoje, a de São Simplício, nos dará a
oportunidade de além de conhecermos um pouco deste Papa Santo, a de
entendermos, também, um pouco mais sobre as heresias que surgiram ao
longo desses dois milénios na história da nossa Igreja. Uma vez que São
Simplício foi relevante no combate de duas grandes heresias que rondavam
a Igreja no século V.
São Simplício nasceu na cidade de Tivoli, cidade italiana, em data desconhecida, e conduziu a Barca de Pedro entre os anos de 468 a 483. Fazia
parte do clero romano e tinha larga escala no serviço social e pastoral
da Igreja. Conviveu com São Leão Magno, e era um amante da arte.
O Santo deste dia foi um excelente Papa da nossa Igreja Católica, e
testemunhou um período difícil daquela época, devida a queda do Império
Romano. Simplício viveu num período em que toda a Roma e em si, toda a
Itália foram invadidas por vários povos bárbaros: visigodos, hunos e
vândalos. Do clero romano Simplício passou a Cátedra de Pedro e como
Papa viu a ruína do Império, mas para que não acontecesse o mesmo na
Igreja muito se empenhava, antes mesmo de ser eleito papa, no prosseguir
a Tradição Viva da Igreja Católica, e evangelizou sem cessar para
livrar a Igreja do cálice venenoso das heresias.
Mas antes de entendermos melhor as duas heresias da história da
Igreja no contexto em que São Simplício pertencia o clero romano e no
que conduziu a Barca de Pedro, cumpre-nos dar algumas palavras sobre a
natureza da heresia. Isso é muito importante já que o termo em si
carrega um forte peso emocional e frequentemente é mal utilizado.
Heresia não significa o mesmo que incredulidade, cisma, apostasia ou
qualquer outro pecado contra a fé. O Catecismo da Igreja Católica define
a heresia do seguinte modo:
“Incredulidade é negligenciar uma verdade revelada ou a voluntária recusa em dar assentimento de fé a uma verdade revelada. Heresia
é a negação após o baptismo de algumas verdades que devem ser
acreditadas com fé divina e Católica, ou igualmente uma obstinada dúvida
com relação às mesmas; apostasia é o total repúdio da fé cristã; cisma é o ato de recusar-se a submeter-se ao Romano Pontífice ou à comunhão com os membros da Igreja sujeitos a ele” (CIC – § 2089).
Ou seja, para ser culpado de heresia, uma pessoa deve estar obstinada
(incorrigível) no erro. Uma pessoa que está aberta à correcção ou que
simplesmente não tem consciência de que o que ela está dizendo é
contrário ao ensinamento da Igreja, não pode ser considerada como
herética.
Esclarecidas as diferenças, vamos entender um pouco das duas heresias
da história da Igreja no período que São Simplício, como bispo e como
papa ajudou a combatê-las:
Nestorianismo – Essa heresia sobre a pessoa de
Cristo foi iniciada por Êutiques, sacerdote e arquimandrita de um dos
mais insignes mosteiros de Constantinopla. Querendo impugnar
vigorosamente a heresia de Nestório, afirmava Êutiques que se deviam
distinguir dois momentos: antes da encarnação eram duas as naturezas de
Cristo: a humana e a divina; mas depois da “união” existe uma só, sendo
o homem absorvido pelo Verbo. De Maria virgem nasceu o corpo do Senhor, o
qual não é da mesma substância e matéria que o nosso; apesar de ser
humano, não é consubstancial a nós nem àquela que o deu à luz segundo a
carne; por conseguinte, não foi numa verdadeira natureza humana que
Jesus Cristo nasceu, padeceu, foi crucificado e ressurgiu do sepulcro.
A Igreja reagiu no ano 431 com os Concílios de Éfeso e da Calcedónia.
Os dois concílios de Éfeso e Calcedónia, como tratam ambos da união
hipostática do Verbo encarnado, têm entre si íntima e profunda ligação. “Não
advertiu Êutiques que antes da união de modo algum existiu a natureza
humana de Cristo, pois esta começou a existir no instante da sua
concepção; depois da união, é absurdo sustentar que das duas naturezas
se fez apenas uma, pois de modo nenhum duas naturezas verdadeiras e
concretas se podem reduzir a uma só, tanto mais que a natureza divina é
infinita e imutável”. Papa Pio XII, em sua Carta ENCÍCLICA SEMPITERNUS REX CHRISTUS.
Monofisismo (Séc. V) O Monofisismo originou-se como
uma reacção ao Nestorianismo. Os monofisistas ficaram horrorizados pela
implicação Nestoriana de que Cristo era duas pessoas com duas diferentes
naturezas (divina e humana). Então, eles partiram para o outro extremo
alegando que Cristo era uma pessoa com uma só natureza (Cristo duas
naturezas, porém a divina suprimiu a humana).
A Igreja imediatamente reconheceu que o Monofisismo era tão
pernicioso quanto o Nestorianismo, porque esse negava tanto a completa
humanidade como a completa divindade de Cristo. Se Cristo não possuía a
natureza humana em sua plenitude, então Ele não poderia ser
verdadeiramente homem. E se Ele não possuía a natureza divina em
plenitude, então Ele também não era verdadeiramente Deus.
As heresias sempre nos acompanharam desde o início da Igreja até os
nossos tempos actuais. Mas felizmente temos a promessa de Cristo de que
as heresias jamais prevalecerão contra a Igreja: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mateus 16,18), pois a Igreja é verdadeiramente, nas palavras do Apóstolo Paulo, “coluna e sustentáculo da verdade” (1Tim 3,15).
São Simplício, rogai por nós!
in

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