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sexta-feira, 4 de março de 2016

São Simplício, como Papa viu a ruína do Império

Roma, a capital, sobreviveu. E eis uma figura de autoridade que ficou do lado do povo e ajudou a enfrentar tudo… O Papa Simplício…


Foto: wikipedia

A festa que celebramos hoje, a de São Simplício, nos dará a oportunidade de além de conhecermos um pouco deste Papa Santo, a de entendermos, também, um pouco mais sobre as heresias que surgiram ao longo desses dois milénios na história da nossa Igreja. Uma vez que São Simplício foi relevante no combate de duas grandes heresias que rondavam a Igreja no século V.

São Simplício nasceu na cidade de Tivoli, cidade italiana, em data desconhecida, e conduziu a Barca de Pedro entre os anos de 468 a 483. Fazia parte do clero romano e tinha larga escala no serviço social e pastoral da Igreja. Conviveu com São Leão Magno, e era um amante da arte.

O Santo deste dia foi um excelente Papa da nossa Igreja Católica, e testemunhou um período difícil daquela época, devida a queda do Império Romano. Simplício viveu num período em que toda a Roma e em si, toda a Itália foram invadidas por vários povos bárbaros: visigodos, hunos e vândalos. Do clero romano Simplício passou a Cátedra de Pedro e como Papa viu a ruína do Império, mas para que não acontecesse o mesmo na Igreja muito se empenhava, antes mesmo de ser eleito papa, no prosseguir a Tradição Viva da Igreja Católica, e evangelizou sem cessar para livrar a Igreja do cálice venenoso das heresias.

Mas antes de entendermos melhor as duas heresias da história da Igreja no contexto em que São Simplício pertencia o clero romano e no que conduziu a Barca de Pedro, cumpre-nos dar algumas palavras sobre a natureza da heresia. Isso é muito importante já que o termo em si carrega um forte peso emocional e frequentemente é mal utilizado.

Heresia não significa o mesmo que incredulidade, cisma, apostasia ou qualquer outro pecado contra a fé. O Catecismo da Igreja Católica define a heresia do seguinte modo:

Incredulidade é negligenciar uma verdade revelada ou a voluntária recusa em dar assentimento de fé a uma verdade revelada. Heresia é a negação após o baptismo de algumas verdades que devem ser acreditadas com fé divina e Católica, ou igualmente uma obstinada dúvida com relação às mesmas; apostasia é o total repúdio da fé cristã; cisma é o ato de recusar-se a submeter-se ao Romano Pontífice ou à comunhão com os membros da Igreja sujeitos a ele” (CIC – § 2089).

Ou seja, para ser culpado de heresia, uma pessoa deve estar obstinada (incorrigível) no erro. Uma pessoa que está aberta à correcção ou que simplesmente não tem consciência de que o que ela está dizendo é contrário ao ensinamento da Igreja, não pode ser considerada como herética.

Esclarecidas as diferenças, vamos entender um pouco das duas heresias da história da Igreja no período que São Simplício, como bispo e como papa ajudou a combatê-las:

Nestorianismo – Essa heresia sobre a pessoa de Cristo foi iniciada por Êutiques, sacerdote e arquimandrita de um dos mais insignes mosteiros de Constantinopla. Querendo impugnar vigorosamente a heresia de Nestório, afirmava Êutiques que se deviam distinguir dois momentos: antes da encarnação eram duas as naturezas de Cristo: a humana e a divina; mas depois da “união” existe uma só, sendo o homem absorvido pelo Verbo. De Maria virgem nasceu o corpo do Senhor, o qual não é da mesma substância e matéria que o nosso; apesar de ser humano, não é consubstancial a nós nem àquela que o deu à luz segundo a carne; por conseguinte, não foi numa verdadeira natureza humana que Jesus Cristo nasceu, padeceu, foi crucificado e ressurgiu do sepulcro.

A Igreja reagiu no ano 431 com os Concílios de Éfeso e da Calcedónia. Os dois concílios de Éfeso e Calcedónia, como tratam ambos da união hipostática do Verbo encarnado, têm entre si íntima e profunda ligação. “Não advertiu Êutiques que antes da união de modo algum existiu a natureza humana de Cristo, pois esta começou a existir no instante da sua concepção; depois da união, é absurdo sustentar que das duas naturezas se fez apenas uma, pois de modo nenhum duas naturezas verdadeiras e concretas se podem reduzir a uma só, tanto mais que a natureza divina é infinita e imutável”. Papa Pio XII, em sua Carta ENCÍCLICA SEMPITERNUS REX CHRISTUS.

Monofisismo (Séc. V) O Monofisismo originou-se como uma reacção ao Nestorianismo. Os monofisistas ficaram horrorizados pela implicação Nestoriana de que Cristo era duas pessoas com duas diferentes naturezas (divina e humana). Então, eles partiram para o outro extremo alegando que Cristo era uma pessoa com uma só natureza (Cristo duas naturezas, porém a divina suprimiu a humana).

A Igreja imediatamente reconheceu que o Monofisismo era tão pernicioso quanto o Nestorianismo, porque esse negava tanto a completa humanidade como a completa divindade de Cristo. Se Cristo não possuía a natureza humana em sua plenitude, então Ele não poderia ser verdadeiramente homem. E se Ele não possuía a natureza divina em plenitude, então Ele também não era verdadeiramente Deus.

As heresias sempre nos acompanharam desde o início da Igreja até os nossos tempos actuais. Mas felizmente temos a promessa de Cristo de que as heresias jamais prevalecerão contra a Igreja: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mateus 16,18), pois a Igreja é verdadeiramente, nas palavras do Apóstolo Paulo, “coluna e sustentáculo da verdade” (1Tim 3,15).

São Simplício, rogai por nós!


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