Bullying é um anglicismo utilizado para descrever actos de violência física ou psicológica intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo ou grupo de indivíduos, causando dor, angústia e visando destruir a auto-estima da vítima, que se vê coagida a enfrentar as humilhações diante de todos os colegas.
Tempos de mudança geraram fortes alterações comportamentais e a sociedade foi perdendo os seus contornos e limites morais, ultrapassando as fronteiras dos valores tradicionais e desaguando, lentamente, num mar sem margens, onde o mal e o bem parecem ter o mesmo peso.
A precária ou diminuta educação ministrada em casa, a ausência ou presença ausente dos pais, a deficiente atenção familiar aos filhos, é um caminho muito permeável para que todas as perniciosas influências oriundas do exterior se infiltrem de mansinho no seio do agregado familiar e corrompam a criança ou adolescente em fase de crescente moldagem de carácter e personalidade, mas sempre carente de afectuosas e definidas normas de conduta.
Pais com excesso de trabalho e reduzido tempo disponível para os filhos, desagregamento familiar com consequente reflexo afectivo e educacional e ausência de inter-ajuda entre gerações, permitiu um abandono e isolamento, diminuindo as defesas e a protecção necessárias e indispensáveis para fazer frente a eventuais agressões, que sempre incidem sobre os mais frágeis, tímidos, inseguros e indefesos.
Permanentemente na sociedade acontecem situações dramáticas que se projectam na mente de todos nós, deixando marcas pouco saudáveis: violência doméstica, episódios de forte cariz patológico e acentuada gravidade social e psicológica, que se banalizam à força de repetidas e mal assimiladas explosões mediáticas. Nestas situações deverá haver uma atitude critica, lúcida e vigilante de apoio e esclarecimento por parte de todos os educadores, nomeadamente os pais, avós e outros familiares que não podem nem devem ignorar o seu papel de orientadores e condutores de boas maneiras e bons exemplos.
O excesso de informação mal digerido, a confusão de papéis a desempenhar na sociedade e a ausência ou rejeição de normas e padrões de bom comportamento social, de educação, de saber estar e saber agir, conduziu-nos a este caos de violência em que todos saímos um pouco salpicados, mas no qual também temos a nossa quota-parte de culpabilidade.
A existência e a banalização do bullying poderá ser originada pela falta de apoio no ambiente familiar e gerada a partir da deficiente formação da personalidade, pois os valores familiares são os alicerces para se prever se uma determinada criança poderá ser ou não afectada por este tipo de comportamento ou se poderá vir a agir de forma discriminatória. O seu diagnóstico pode ser elaborado partindo do princípio de que se a sociedade perdeu os seus limites morais, o que poderia ser uma brincadeira, transformou-se numa pura maldade.
Se a violência é uma consequência da deterioração social, é um facto que todas as instituições educativas se devem esforçar por combater as suas causas, indo à raíz do problema mas não esquecendo que o mal só se pode destruir com abundância de bem e nunca usando de violência ou repressão em nome da paz ou da conquista do equilíbrio perdido.
Nunca se discutiu tanto valores humanos como hoje, mas a sua implementação passa pela educação, como instância primeira, fundamental e condição necessária para desabrochar o respeito, a solidariedade, a ética e a consequente acção moral.
Também a escola não deve ser apenas uma fonte de saber, mas um lugar adequado para dar continuidade à formação dos valores, uma necessidade universal que prepara para o exercício da cidadania e da sua projecção no mundo do trabalho. O papel da escola vai além de ministrar conhecimento científico e tecnológico, deve abranger a formação humana, valorizando posturas que contribuam de facto para a mudança da sociedade numa perspectiva mais ampla que se projecte no bem-estar de todos.
Neste contexto, o professor deverá ser formador de cidadãos e não só de alunos. Para isso é urgente criar nos estabelecimentos de ensino – escolas e universidades - ambientes ricos de valores humanos para dar continuidade e facilitar ao máximo a absorção de normas de bons comportamentos e de princípios morais de sã convivência, respeito, tolerância, simpatia, solidariedade. E, finalmente, espera-se que os estudantes, pais e professores se possam orgulhar da sua conduta e não somente das suas notas, colaborando assim na construção dum mundo melhor.
É nossa obrigação moral e ética estar atentos às constantes mutações da sociedade. Será, sem dúvida, uma tarefa árdua mas desafiante da nossa parte, podermos contribuir de forma construtiva e democrática para a criação de condições de resolução dos conflitos destrutivos que surgem no ambiente escolar e se reflectem em toda a comunidade social.
Maria Susana Mexia
Sem comentários:
Enviar um comentário