Palestinos, hebreus, imigrantes etíopes, filipinos, russos
| Preparando a procissão de Natal em Belém, um momento de reunião da comunidade católica na rua |
Actualizado 23 de Maio de 2014
Elías L. Benarroch / Efe
A florescente e diversa comunidade cristã em Israel receberá este fim-de-semana com esperança e ilusão o papa Francisco na sua primeira peregrinação à Terra Santa, ainda que será muito difícil vê-lo em pessoa devido à sua apertada agenda e às estritas medidas de segurança.
Entre 160.000 e meio milhão de cristãos, segundo diferentes estatísticas, vivem actualmente espalhados por todo o território israelita, cifra que exclui os cerca de 50.000 que residem debaixo do governo palestiniano.
"Não há estatísticas oficiais (precisas) porque está composta por todo o tipo de comunidades que por um lado não são sempre reconhecidas oficialmente e pelo outro, em muitos casos, os seus membros não dizem abertamente que são cristãos", explicou a Efe a jornalista francesa Catherine Dupeyron, autora do livro "Cristãos na Terra Santa: desaparição o mutação?" (2007).
Dupeyron assegura que as estatísticas oficiais só registam 161.000, 80% de origem árabe e o resto, na sua maioria, imigrantes que chegaram a Israel junto com os seus pares ou familiares judaicos, sobretudo desde a extinta URSS.
Uma cifra que cresceu de forma vertiginosa a partir da passada década dos noventa, quando um meteórico desenvolvimento económico impulsionou a chegada de trabalhadores estrangeiros e, mais recentemente, a de refugiados eritreus e sudaneses, sublinha.
Especialistas elevam agora o total a cerca de um quarto de milhão de pessoas que na sua maioria professam o cristianismo, incluindo esses emigrantes, cujo número exacto não se conhece e que numa boa parte são católicos como, por exemplo, os filipinos.
Dupeyron também acrescenta a todos estes cálculos uma parte impossível de determinar dos 300.000 israelitas registados oficialmente como "sem religião", muitos deles emigrantes russos, aos quais atribui uma "espiritualidade cristã" porque "muitos vão à igreja apesar de viverem como judeus".
Elías L. Benarroch / Efe
A florescente e diversa comunidade cristã em Israel receberá este fim-de-semana com esperança e ilusão o papa Francisco na sua primeira peregrinação à Terra Santa, ainda que será muito difícil vê-lo em pessoa devido à sua apertada agenda e às estritas medidas de segurança.
Entre 160.000 e meio milhão de cristãos, segundo diferentes estatísticas, vivem actualmente espalhados por todo o território israelita, cifra que exclui os cerca de 50.000 que residem debaixo do governo palestiniano.
"Não há estatísticas oficiais (precisas) porque está composta por todo o tipo de comunidades que por um lado não são sempre reconhecidas oficialmente e pelo outro, em muitos casos, os seus membros não dizem abertamente que são cristãos", explicou a Efe a jornalista francesa Catherine Dupeyron, autora do livro "Cristãos na Terra Santa: desaparição o mutação?" (2007).
Dupeyron assegura que as estatísticas oficiais só registam 161.000, 80% de origem árabe e o resto, na sua maioria, imigrantes que chegaram a Israel junto com os seus pares ou familiares judaicos, sobretudo desde a extinta URSS.
Uma cifra que cresceu de forma vertiginosa a partir da passada década dos noventa, quando um meteórico desenvolvimento económico impulsionou a chegada de trabalhadores estrangeiros e, mais recentemente, a de refugiados eritreus e sudaneses, sublinha.
Especialistas elevam agora o total a cerca de um quarto de milhão de pessoas que na sua maioria professam o cristianismo, incluindo esses emigrantes, cujo número exacto não se conhece e que numa boa parte são católicos como, por exemplo, os filipinos.
Dupeyron também acrescenta a todos estes cálculos uma parte impossível de determinar dos 300.000 israelitas registados oficialmente como "sem religião", muitos deles emigrantes russos, aos quais atribui uma "espiritualidade cristã" porque "muitos vão à igreja apesar de viverem como judeus".
| Cartazes anunciando a chegada de Francisco a Belém |
Esta tendência demográfica levou o papa João Paulo II a nomear em 2003, no meio da sangrenta Segunda Intifada, um bispo auxiliar para os chamados "católicos hebreus", até então sujeitos a um vigário.
A designação sem precedentes de Jean-Baptiste Gurion (nascido judeu e sensível portanto às necessidades religiosas, sociais e políticas deste povo) deu alas ao que alguns denominaram então a nascente "Igreja israelita".
Mas também as rivalidades políticas no Patriarcado Latino de Jerusalém, encabeçado então e pela primeira vez por um palestiniano, o padre Michel Sabah.
Discrepante com essa visão, o jesuíta David Neuhaus assegura que "parecera que antes não havia católicos em Israel", quando a realidade é que a chamada "Igreja mãe" existe desde tempos de Jesus.
Inclusive no moderno Estado judaico, fundado em 1948, já havia uma pequena mas activa comunidade católica hebraico-falante desde o início da década dos 50.
O processo viu-se truncado pela prematura morte de Gurión e a do próprio João Paulo em 2005, e esta comunidade católica hebraico falante (diferente da árabe de origem palestina), voltou a ficar debaixo da direcção de um vigário patriarcal, actualmente Neuhaus.
Nascido também no seio de uma família judaica e convertido aos 25 anos, o religioso reitera que mais além de que "não há igrejas nacionais", o papel desta na Terra Santa deve ser o de "unir" e não o de "dividir" ainda mais palestinianos e israelitas.
"A Igreja deve ser (um lugar de) união das duas populações. (Os crentes) não podem ignorar os seus irmãos do outro lado, não podem adoptar a linguagem da inimizade, seria um pecado, uma traição à palavra de Jesus", afirmou numa entrevista com Efe.
Ainda assim, é plenamente consciente do impacto que o conflito político tem na Igreja local ("recordam-me todos os dias a minha origem judaica", disse com um sorriso e um gesto que deixa importância ao comentário).
E é que albergando os principais lugares santos, a diocese da Terra Santa foi desde sempre uma das mais "sensíveis" da Igreja, religiosa e politicamente. A diocese a formam os territórios de Israel, Jordânia, Cisjordânia, Gaza, e Chipre, uma partição geopolítica contemporânea à qual a Santa Sé não adaptou a sua administração religiosa por motivos históricos e complexidade política.
Debaixo o guarda-chuva do Patriarcado, os cristãos árabe-israelitas (uns 128.000, na sua maioria de origem palestiniana) tem um bispo auxiliar, como os seus correligionários de Jerusalém, Cisjordânia e Gaza.
Ao sempre conciliador Neuhauss gostar-lhe-ia ver "florescer" a sua congregação dentro de um espírito de "unidade e cooperação exemplar com os católicos árabes", e dentro de una sociedade israelita mais democrática e tolerante.
Ao fio deste argumento, crê que os crescentes ataques contra igrejas e mosteiros de radicais ultranacionalistas judeus "são um perigo para a sociedade israelita, não para a Igreja".
"A Igreja continuará existindo, a democracia israelita não", adverte aos seus concidadãos, instando-os a romper o silêncio e protestar contra este comportamento.
A designação sem precedentes de Jean-Baptiste Gurion (nascido judeu e sensível portanto às necessidades religiosas, sociais e políticas deste povo) deu alas ao que alguns denominaram então a nascente "Igreja israelita".
Mas também as rivalidades políticas no Patriarcado Latino de Jerusalém, encabeçado então e pela primeira vez por um palestiniano, o padre Michel Sabah.
Discrepante com essa visão, o jesuíta David Neuhaus assegura que "parecera que antes não havia católicos em Israel", quando a realidade é que a chamada "Igreja mãe" existe desde tempos de Jesus.
Inclusive no moderno Estado judaico, fundado em 1948, já havia uma pequena mas activa comunidade católica hebraico-falante desde o início da década dos 50.
O processo viu-se truncado pela prematura morte de Gurión e a do próprio João Paulo em 2005, e esta comunidade católica hebraico falante (diferente da árabe de origem palestina), voltou a ficar debaixo da direcção de um vigário patriarcal, actualmente Neuhaus.
Nascido também no seio de uma família judaica e convertido aos 25 anos, o religioso reitera que mais além de que "não há igrejas nacionais", o papel desta na Terra Santa deve ser o de "unir" e não o de "dividir" ainda mais palestinianos e israelitas.
"A Igreja deve ser (um lugar de) união das duas populações. (Os crentes) não podem ignorar os seus irmãos do outro lado, não podem adoptar a linguagem da inimizade, seria um pecado, uma traição à palavra de Jesus", afirmou numa entrevista com Efe.
Ainda assim, é plenamente consciente do impacto que o conflito político tem na Igreja local ("recordam-me todos os dias a minha origem judaica", disse com um sorriso e um gesto que deixa importância ao comentário).
E é que albergando os principais lugares santos, a diocese da Terra Santa foi desde sempre uma das mais "sensíveis" da Igreja, religiosa e politicamente. A diocese a formam os territórios de Israel, Jordânia, Cisjordânia, Gaza, e Chipre, uma partição geopolítica contemporânea à qual a Santa Sé não adaptou a sua administração religiosa por motivos históricos e complexidade política.
Debaixo o guarda-chuva do Patriarcado, os cristãos árabe-israelitas (uns 128.000, na sua maioria de origem palestiniana) tem um bispo auxiliar, como os seus correligionários de Jerusalém, Cisjordânia e Gaza.
Ao sempre conciliador Neuhauss gostar-lhe-ia ver "florescer" a sua congregação dentro de um espírito de "unidade e cooperação exemplar com os católicos árabes", e dentro de una sociedade israelita mais democrática e tolerante.
Ao fio deste argumento, crê que os crescentes ataques contra igrejas e mosteiros de radicais ultranacionalistas judeus "são um perigo para a sociedade israelita, não para a Igreja".
"A Igreja continuará existindo, a democracia israelita não", adverte aos seus concidadãos, instando-os a romper o silêncio e protestar contra este comportamento.
in
Sem comentários:
Enviar um comentário