O padre ucraniano Oleksandr Khalayim relata para a Ajuda à Igreja que Sofre a situação dramática em seu país
Roma, 14 de Março de 2014 (Zenit.org)
"Já oficiei muitos funerais, mas nunca tinha visto nenhum
semelhante àqueles. Rios de flores, grandes multidões e a tristeza de
uma nação inteira". Recém-retornado da Ucrânia para a Itália, o pe.
Oleksandr Khalayim descreve para a Ajuda à Igreja que Sofre a situação
dramática que encontrou em sua terra natal.
O momento mais trágico foi a noite de 20 para 21 de Fevereiro,
quando mais de uma centena de manifestantes foram mortos. "Nos dias
seguintes, eu só vi sofrimento. Estava se formando um novo governo,
começava uma nova fase, mas ninguém sentia que tivesse vencido".
O pe. Oleksandr conta a história de um rapaz da sua pequena cidade,
situada perto de Hodorok: ele foi morto em uma tentativa de salvar a
vida da namorada. Os nomes e fotos das vítimas dos conflitos foram
publicados na internet com o título НЕБЕСНА СОТНЯ [Centenas no Céu], mas
a lista ainda deverá crescer, porque mais de 200 pessoas continuam
desaparecidas.
"Muitos dizem que o movimento da praça Maidan é formado por
nacionalistas e nazistas. Na verdade, são jovens que cresceram com a
ideia de uma Ucrânia independente, que tentam mudar o seu país sem
recorrer às armas. Porque antes havia corrupção em todo lugar, tudo
tinha um preço e as pessoas estavam realmente cansadas daquilo".
O pe. Oleksandr também esteve em Kiev, no local-símbolo dos
protestos, a praça Maidan, e explica como as Igrejas do país,
inicialmente cautelosas, logo perceberam a importância de enviar
sacerdotes para junto dos manifestantes. “Foi montada na praça uma
grande tenda em que celebramos as diferentes liturgias durante as 24
horas do dia. O que aconteceu serviu para curar as diferenças entre as
várias confissões cristãs. Agora os fiéis estão orando juntos e as
Igrejas ortodoxas da Ucrânia manifestaram o desejo de se unificar”.
Os manifestantes nunca ficaram sem o apoio espiritual. "Bastava andar
no meio da multidão com trajes clericais para que alguém pedisse a
confissão ou simplesmente viesse conversar. Eu e os meus amigos padres
não parávamos um minuto, ouvindo histórias comoventes de homens
acabados, que começaram a lutar em 2004, durante a Revolução Laranja, e
tinham perdido toda esperança".
Quanto ao referendo no próximo domingo sobre a separação da Crimeia
da Ucrânia, o pensamento do pe. Oleksandr se volta aos oito sacerdotes
que trabalham na península. "Não pudemos enviar nada para eles, nem
sequer remédios. Há muitos postos de controle nas estradas e os voos de
Kiev para Simferopol e Sebastopol foram cancelados. Só de Moscovo é
possível chegar até as duas cidades".
Além disso, a comunidade muçulmana local, os tártaros, está ameaçando desencadear uma guerra santa se a Crimeia se tornar russa.
Em caso de conflito, os poucos recursos do exército ucraniano não
poderiam fazer nada diante das forças russas. "Sozinhos, não vamos
conseguir. Precisamos do apoio da comunidade internacional", diz o
sacerdote.
Apesar do momento extremamente delicado, o pe. Oleksandr não perde a
confiança no futuro. "O que aconteceu uniu o nosso povo, e eu vi nos
meus compatriotas um grande senso de responsabilidade para com o nosso
país. Agora, cabe à nova classe política evitar que a esperança se
apague. Porque, mesmo sendo fracos económica e politicamente, nós somos
fortes e ricos na força de vontade do povo e foi por isso que tantos
jovens saíram às ruas".
(14 de Março de 2014) © Innovative Media Inc.
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