Na sua primeira pregação de quaresma o pregador da casa pontifícia, Pe. Raniero Cantalamessa, ofmcap discorre sobre o tema: "Com Jesus no deserto".
Roma, 14 de Março de 2014 (Zenit.org) Thácio Siqueira
“Os monges e os eremitas escolheram um espaço de deserto, nós temos que escolher pelo menos um tempo
de deserto” disse na manhã de hoje o pregador da casa pontifícia, Pe.
Raniero Cantalamessa ofmcap, em sua primeira pregação da quaresma,
dirigida ao Santo Padre e aos membros da cúria romana, dedicando a sua
primeira reflexão ao tema “Com Jesus no deserto”.
Antes de mais nada, na falta de um deserto material, de um espaço de deserto, Cantalamessa nos convida a procurar um tempo de deserto, para voltarmos a entrar na nossa interioridade.
“Nem sempre é possível retirar-se a uma capela ou a um lugar
solitário para reencontrar o contacto com Deus”, reconheceu Pe. Raniero,
portanto, é preciso usar a estratégia que São Francisco de Assis
propunha para os seus freis, reconhecendo que “Nós temos um eremitério
sempre connosco onde quer que estejamos e toda vez que o queiramos
podemos, como eremitas, reentrar neste eremitério”.
O segundo ponto da sua reflexão foi sobre o Jejum. Que tipo de Jejum
Jesus fez no deserto e como podemos aprender com ele? “A forma mais
necessária e significativa de jejum chama-se hoje sobriedade”,
afirmou o pregador da casa pontifícia. Também o Jejum das imagens.
“Muitas delas não são saudáveis, transmitem violência e maldade, não
fazem mais que incitarem os piores instintos que nós trazemos dentro”. E
sem esquecer do Jejum das palavras, já que “uma palavra pode ser pior
do que um soco”, disse Cantalamessa.
A figura do demónio foi o terceiro elemento da sua meditação. Ele
existe? A maior prova da sua existência (afirmou Pe. Cantalamessa) foi
que Jesus foi tentado por ele no deserto. E não só Jesus. Também, ao
longo dos séculos, muitos santos o foram.
“Se para muitos é um absurdo crer no demónio é porque se baseiam em
livros, passam a vida nas bibliotecas ou em escrivaninhas, enquanto o demónio não está interessado nos livros, mas nas pessoas, especialmente,
é claro, nos santos”, afirmou Cantalamessa.
“Expulso pela porta, o diabo voltou pela janela. Ou seja, expulso
pela fé, voltou com a superstição.” Porém, disse Pe. Raniero,“A coisa
mais importante que a fé cristã tem a dizer-nos, no entanto, não é que o demónio existe, mas que Cristo venceu o demónio”.
O único objectivo das tentações foi distrair a Cristo da sua única
missão. Assim também faz connosco o demónio. “Ainda hoje, todo o esforço
do diabo está voltado a desviar o homem do objectivo pelo qual veio ao
mundo que é o de conhecer, amar e servir a Deus nesta vida para gozá-lo
depois na outra.”
A quaresma é, portanto, “um tempo para redescobrir por que viemos ao
mundo, de onde viemos, aonde iremos, que rota estamos seguindo.”
Por fim, e como núcleo da sua pregação, Pe. Raniero Cantalamessa se
perguntou por que Jesus foi ao deserto? Para ser tentado? Como assim?
Então, quer dizer que ele nos ensinou que devemos ir atrás da tentação?
Não. Jesus não foi ao deserto para ser tentado. A tentação foi uma
iniciativa do demónio. Jesus foi a deserto para orar, para encontrar-se
com o seu Pai, concluiu o pregador da casa pontifícia. “Foi ao deserto
pelo mesmo motivo pelo qual, segundo Lucas, um dia, mais tarde, subiu ao
Monte Tabor, ou seja, para orar (Lc 9, 28)”, disse.
Buscar entrar na própria interioridade, mas não para estar a “a sós
consigo mesmos que pode significar encontrar-se com a pior das
companhias”. O crente vai ao deserto, desce ao próprio coração, para
renovar o seu contacto com Deus, porque sabe que "no homem interior
habita a Verdade".
O texto completo da primeira pregação da quaresma será publicado exclusivamente por ZENIT na tarde dessa sexta-feira.
(14 de Março de 2014) © Innovative Media Inc.
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